Que amor é esse

Vocábulo de muitas sinonímias, justifica, o amor, os argumentos dos que por ele se expressam, verdade ou não, em relação a outrem.

Há quem defenda a opinião - de que o amor se tornou um termo envilecido, pela banalidade e generalização.

Se assim for, uma ótima saída a conservar-lhe a essência, a natureza sublime, é dar-lhe equivalência à caridade, o mesmo que amor espiritual.

Talvez, o senso crítico temperado de humana compreensão, construa uma escala imaginária, graduando o sentimento do amor até ao topo, em que se expresse idealmente, justamente protegido, nominado por caridade, o ágape comemorado eternamente em clima de incessante e vibrante confraternização.

Amor é o tratamento recíproco a que se dá qualquer casal, quando a relação é vivida em harmonia, sintonia e haja conveniência das partes, embora predomine na mulher este tratamento.

"Amor, venha cá!" "Amor, vamos jantar fora?" "Alô, Amor, diga o que quer..."

Quando se lhe antepõe o "meu", ainda assim a entonação de carinho pela qual se diz - meu amor, atenua ou até mesmo salva da consideração acerca do paradoxo entre amar e possuir ao mesmo tempo...

Tratamento comercial, entre amigos escolares, do trabalho, nestes casos a sua conotação tende a revelar gentileza, urbanidade.

Mas que amor motiva os casais à união?

Considerando a escala proposta, variados motivos impulsionam à parceria no desafio da vivência a dois.

A religião que restrinja a visão ao cumprimento do aspecto tão-somente biológico, com vistas à reprodução, obriga direta ou indiretamente ao acasalamento, secundarizando, importa dizer, muitas vezes, a verdade, a busca, o estudo do significado mais profundo do amor, menção do qual afirmam terem se unido.

Uma parceria bem sucedida em que as saciedades, sobretudo primárias, são preenchidas, o amor cabe na luva da conveniência e ocasião.

Nenhum valor filosófico ou transcendental há de ser aferido, levantado como questão que provoque discussão ou conclusão, porque bem certo é o adágio popular de que "em time que está ganhando, não se mexe", correspondendo a êxitos das saciedades.

A fidelização à conquista dos valores emergenciais de sobrevivência, deve permanecer fortalecida na parceria, com atenção sem desvio a questões levantadas e até mesmo oriundas do amor.

- "Amor? (com) dinheiro no bolso, pão à mesa, careta no escuro, em bênção divina".

Neste exemplo, até que ponto terá valido atravessar o outono da existência, com ânsia de matusalém,

e quando se findar, esta separação aceitar só mesmo por conta de uma contrariedade desconhecida, imposta, quiçá pelo pecado de Adão e Eva…

O mais provável é que o amor ensejou a parceria firme e forte com finalidades diversas, menos, todavia,

a da sua existência em leveza, desapego e expansibilidade, dedução ou abstração da prole, que

identifica amor instintivo, parcial, de cercado.

Neste caso, a concordância de propósitos, o alinhamento dos apegos, fortaleceram a parceria em nome do amor.

Mas, e quando há a intenção de desistência, resilição de uma das partes, querendo desfazer a parceria?

Qualquer que seja o motivo alegado, a face da renúncia, que o amor encerra, é revelada, com sinonímia em desapego, senso prévio de que deve conhecer quem intenta a parceria, ou melhor dizendo, compartilhá-lo.

Em compartilhamento, a natureza do discurso, até aqui, muda radicalmente.

O amor assim já não é um sonho, uma pretensão, nem solicitação por carência ou dependência.

Já existente em cada um, de per si, autoestima imprescindível, implica vivência em permuta de visões, saberes, valores psicoafetivos, no intuito de enriquecimento pessoal, novas descobertas, com avanço à plenitude do ser.

Sem interesse? Sincera e absolutamente não.

Mas com interesse (também) do melhor a quem está do lado, com quem se convive.

Ciência prévia da possibilidade e do acontecimento da separação, acionando o piloto automático da aceitação e da renúncia.

Compreensão, ciência prévia, de que nem mesmo a relação vivida a corpos desnudos, há de sustentar por mais algum tempo ou com permanência a vivência a dois - complexa, multifacetada.

Triste ironia, mas código de ética a ser observado, qual o de sobrepor ao próprio interesse o do outro, querendo a este a igual pretensão de liberdade e ser feliz na adição de inéditos antevistos, adivinhados em alguém de fora, o que desfaz o mito ou a intransigência da união indissolúvel.

- Por amor a ti, por amor a mim, desejo sincero de um bom e novo compartilhamento, tenha a minha (como eu a quero) liberdade.

Importa considerar este quadro não tanto comum.

Raramente amigos voltam a sê-lo seguidos de núpcias.

A mágoa é preservada, sem nenhum esforço empregado para dissolvê-la, enfatizando o orgulho ferido, o amor (que é esse?) irredutível na sentença de desprezar, tornar invisível ou falecida, ao extremo de odiar, a outrora parceria.

O que era riso, encanto e idílio no tratamento de - meu bem, pluraliza-se, no escudo de honorários pagos advocatícios, e em querela judicial, alega-se reivindicando: - meus bens.

Felizmente, para representação e salvação planetárias perante a vizinhança sideral de mundos civilizados integralmente, evoca-se a figura ímpar e ainda incomparável de Jesus de Nazaré, a encarnação do Cristo, da TERRA!, que conseguiu viver os sentimentos de A a Z que o amor encerra: abnegação, afeição, amizade, bondade, compaixão, companheirismo... lealdade, paz... renúncia e outros, sustentando, Ele, a posição de excelência, no topo, das expressões amorosas.

Nunca é demais, antes salutar, o esforço individual para imitá-lO, na emulação entre os que seguindo os seus passos, método e conduta, conseguiram bom êxito na aquisição da paz interior e da boa ventura inefável.

Seraphim
Enviado por Seraphim em 09/03/2023
Código do texto: T7736071
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