Ansiedade, música de adulto e planos para o futuro

Quando eu estava perto dos 9 anos, não sabia disso ainda, mas andava tendo os primeiros sintomas de ansiedade. E era péssimo.

Na época - faz mais de uma década - ninguém falava muito sobre o assunto.

Por mais atenciosos que meus pais fossem e por mais que me ajudassem, por mais que eu estudasse num colégio incrível com profissionais incríveis... Eu andava conhecendo aquela sensação desconfortável de desespero iminente, o coração disparado, a sensação de enjôo. Lá, naquele lugar de desconforto, ninguém conseguia me alcançar. Ninguém sabia o que estava acontecendo comigo.

E aí aconteceu uma coisa.

Me lembrei disso agora, anos depois, depois de um baita momento devocional, conversando com alguns amigos. Só entendi adulta.

A Bruna Karla tinha uma música cujo nome era "Decidi Confiar", com uma letra adulta escrita para adultos sobre dramas adultos. De alguma forma, tinha aquela música no Média Player do meu computador - e eu passei a ouvir repetidamente, com aqueles fones enormes e com fio. A letra diz exatamente: "(...) No meio dessa tempestade pude então ouvir a Sua Voz, que veio como uma brisa sussurando em meu coração, acalmando minhas dores e emoções, dissipando tempestades, furacões; escolhi descansar em Ti".

Sabe Deus como, eu passei a cantar aquilo com convicção todo santo dia. E chorava e orava, quietinha e escondida. Igual a minha avó fazia no quarto dela. E ninguém me mandou fazer, ninguém sabia o que eu estava fazendo.

Em pouco tempo, aquela canção se tornou meu hino.

Me lembro de chegar da escola, ir escrever (sempre), colocar o bendito fone e cantar a música. Persistente. No meio desse processo, eu lia (e relia) o Salmo 6 todo dia de manhã. Ele parecia se entranhar a mim. Aquelas poesias (os salmos) faziam cada vez mais sentido, soavam cada vez mais sinceras, me faziam querer escrever pra Deus também. E eu escrevia.

E aí eu via luzes, tinha sonhos, sentia alguém me acalmando. Lia ainda mais a Bíblia - nessa mesma época, os salmistas se tornaram meus maiores companheiros.

"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte", "O Senhor aceitará a minha súplica, o Senhor ouviu a minha oração", "O Senhor é o meu refúgio" e outros versos foram tão repetidos que passaram a fazer parte da minha programação mental. Eu não me lembro em que ponto as coisas ficaram bem, elas só ficaram: em dado momento, já não fazia mais sentido (com ou sem sufoco) ficar longe do meu Amigo.

Foi assim que o Espírito Santo cuidou de mim e me ensinou o que fazer: Bíblia, oração, adoração, acolhimento. Sem medir o nível pela minha idade - mas pela minha fome. Sem me deixar fazer sozinha. Sem me deixar passar.

Mais velha, consegui me entender melhor e procuramos ajuda profissional (o que foi muito bom, inclusive) - mas mesmo antes disso, eu não passei nenhum segundo que fosse desamparada.

Não existe "Espírito Santo Kids", de fato.

Deus ainda é um só. Meu melhor amigo ainda é o mesmo de quando eu nem tinha idade o suficiente pra entender o que andava acontecendo. Eu conheço essa Voz. Eu sei quem é o meu Pastor - e o cuidado dele não se ausentou por um segundo sequer.

"Deixem vir a mim as criancinhas" - porque elas sabem achar o caminho.

"E não as impeçam, porque delas é o Reino dos Céus" - e elas vão conseguir acessar.

Camila Amizadai
Enviado por Camila Amizadai em 06/12/2022
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