Leituras que me trouxeram até aqui

A minha ida e permanência no Cristianismo, costumo dizer, foi uma ida crítica. Não era esse, reconheço, um objetivo. A jornada do autoconhecimento e das leituras se iniciou em maio/2020, logo após o meu divórcio. Jornada essa na qual ainda estou inserto (os livros simplesmente vão surgindo, e defronto-me com os respectivos títulos, as respectivas capas e a curiosidade primordial em conhecer o desconhecido me obriga a tê-los à mão. Faço o que posso. Bons professores, boas entrevistas têm sido igualmente muito úteis para que sobre mim caia uma enxurrada de informações que juntas consubstanciam um sólido conhecimento). O objetivo primordial dessa jornada é saber, ter acesso ao desconhecido. Para tanto, o combustível por detrás desse embalo é pautado em dois componentes primordiais, a humildade intelectual e a humildade espiritual. Eu considero-os imprescindíveis, e se um deles faltar, a viagem será interrompida no meio do caminho, obrigatoriamente. Os rebeldes nesse sentido levarão suas embarcações para os rochedos e neles está selado a indissociável consequência. Por isso, caso vacilante dos próximos passos, consulte o que a história e os protagonistas dela nos deixaram. Consulte o que sobreviveu a passagem do tempo. A sabedoria nada mais é que o conhecimento envelhecido nos barris do tempo. Curiosamente, atenção, esse caminho não tem um destino específico, isso é, não se caminha para se chegar ao fim. Nessa jornada, o fim não existe. O que existe são paradas estratégicas para recarregar os suprimentos, realizar um descanso meditativo (o descanso não descanso), refletir sobre os conhecimentos angariados até ali e seguir viagem, cuja direção não é pré-determinada, isso é, os caminhos vão se apresentando. Como saber que direção seguir? Simples: Reúna os elementos que fazem você ser você e comece. Dê os primeiros passos, indague-se sobre o que inquieta a sua alma e a partir dali inicie as investigações sobre esses elementos, pois certamente alguém antes de você já enfrentou esses temas e há algum material sobre ele (a literatura, portanto, é indispensável. Não apenas como um processo de educação pura e simplesmente, mas reconheço que é o verdadeiro processo de civilização. Não há que se falar em civilização sem literatura. A verdadeira dignidade está em proporcionar ao desfavorecidos os elementos históricos, os elementos culturais que o trouxeram até aqui. Desse ponto em diante é que se cria a dignidade, com elementos de informação, afinal, o ser humano é sobretudo o que o passado, do que a história fez com ele). Nesse preâmbulo, notará que passou a vasculhar-se, a investigarse. Esse é o começo do começo. Talvez nas passadas encontre outras pessoas em suas respectivas caminhadas, mas não se deixe levar por esse “coleguismo de jornada”, seja o autor de suas próprias passadas. Haverá momentos nos quais experiências serão trocadas, o que é bom, mas reitero, siga a sua própria caminhada. Aprenda com os outros, mas não faça do exemplo de capítulos da vida de outras pessoas o seu próprio livro. Reconheça-se como indivíduo, autônomo em seu processo crítico. Todos, sem exceção, estamos aqui para um propósito, viva por si e para si nessa jornada de buscas, mas não faça disso razão para pensar somente em si. O processo crítico, por si, envolve elementos externos, e a aparente contradição se esclarece quando entendemos que precisamos dos outros (elementos externos) para nós mesmos (no processo crítico, que é solitário). Por isso, sobretudo, antes de ser fiel ao que acredita, seja fiel a si mesmo. Afirmo isso porque nessa jornada a desconstituição de crenças é esperada, de modo que o caminhante terá de "desconstituir-se para se construir". Apesar de doloroso, é um processo gratificante, o qual lhe dará a alegria de viver, de ver-se transformando, ver-se aperfeiçoando e decantando o melhor de si. Não há, pois, medo do futuro, medo das circunstâncias adversas que vão sobrevir, porque a tantas, até elas serão vistas como uma ferramenta, como possibilitadores de aprendizado, e o aprendizado nem sempre é uma lição doce. É apenas uma lição. Lição não é para ser doce ou salgada, é para ensinar e pronto. Aprenda, pois. Nessa caminhada, o nosso papel é apenas seguir e diante das circunstâncias queridas ou não, permitir-se transformar, permitir-se ser mais um no ambiente e a partir dele colher as nossas impressões (humildade como dito antes, nesse ponto, alia-se a sensibilidade, a capacidade de percepção do ambiente em suas infinitas manifestações). Não procuro ter acesso a todas essas, mas estou certo de que os elementos os quais sou capaz de captar me bastam para reunir os elementos necessários para minhas reflexões e ato contínuo, proporcionar o velho e conhecido processo crítico, o qual é filho obrigatório de um substantivo chamado curiosidade. Por curiosidade entenda que não se trata de vã curiosidade, para ser mais um assunto de fofocas e mexericos. Longe disso. Trata-se do pontapé da autotransformação no qual o agente é responsável pelo que aprende e sim, obrigado a transformar-se. Não se trata de mero entretenimento. Somos responsáveis pelo que sabemos e uma vez tendo acesso às informações ficamos incumbidos de não só levar o que aprendemos à frente, mas assim fazê-lo já transformados. Aqueles os quais não estão comprometidos com um propósito maior, que transcende a figura do próprio indivíduo, vão ficando pelo caminho. Curiosamente, o caminho está lá, mas de que adianta, se o seu protagonista não se manifesta para que ele surta efeitos? Nesse contexto de buscas incessantes por respostas, fiquem atentos àqueles que procuram por “segredos”. O equívoco existe já no significado dado ao nome, especialmente porque a procura não é por “segredos”, mas simplesmente por respostas simples para as problemáticas da vida humana. Cuidado. Os segredos, se é que existem, são revelados apenas a categoria dos caminhantes, ou, como algum nomeiam, de iniciados. Iniciados na jornada da autodescoberta, que é trabalhosa, como falei mais acima. Os segredos, vão, assim, revelar-se como enunciados periféricos, os quais, “per si”, não serão inteligíveis aos não caminhantes. Mas, interessante, o caminhante que se presta a trilhar pela vã curiosidade criará em si mesmo barreiras que o impedirão de ter acesso aos tais enunciados. Nisso eu creio. Os que pensam diferente, que continuem em suas verdades. Falo e escrevo sobre o que acredito, sobre o que tenho aprendido e descoberto nessa minha caminhada. A crítica dos outros não existe. O que existe é apenas opinião. E a opinião dos outros é dos outros, não me diz respeito. Posso supor que pela minha maneira de pensar e agir aparentemente serei um alvo fácil para as maldades alheias, mas sinceramente, eu estou disposto a pagar o preço, aliás, eu já pago o preço por estar nessa minha caminhada. Assumo e reconheço que tudo o que enfrentei, enfrento e enfrentarei está no setor de consequências de minhas escolhas, de modo que não posso me voltar contra elas, porque tratarse-ia de uma compreensão equivocada sobre as leis existentes, as quais não se tem participação decisiva, é algo que vem de cima, do além, para as quais o materialismo nem sequer sabe do que se trata, apenas se limita a afirmar que não existe (enquanto elemento não manifestado). Metafísico que sou, ao menos essas questões não me afligem. É preciso, entretanto, entender que cada qual tem o seu tempo, o seu momento de aprendizado. E como vemos aqueles que estão em passadas anteriores, pensemos que também um dia ali estivemos. Aqueles que procuram apenas para a própria glória não compreenderam bem o sentido das coisas. E eu creio que Deus os pegará na própria astúcia. Comporto-me, ciente disso, como um pequeno, como aquele que se humilha, ciente da minha exaltação, como cristão que sou, após essa fase. Deus conhece o meu coração, e isso não me preocupa, apenas me conforta. Tenho gostado do que tenho descoberto nessa caminhada. E agora entendo que seja feita a vontade de Deus, é para isso que oro. Peço menos. O que me for concedido era para ser meu. Quanto ao futuro, afirmo que a maré está virando, e que uma juventude cristã, especialmente católica (histórica), está começando a surgir. Ednardo C. Benevides, 16/11/22