Amanheceu no Brasil
Amanheceu no Brasil. Ao final do dia de ontem, foi divulgada a vitória nas urnas do candidato do PT, Lula. Aqueles que me acompanham sabem que fiz campanha em sentido oposto, especialmente por ver na figura do referido candidato pautas que não se coadunam com o que defendo, com o que acredito (especialmente pelo histórico do Lula e seu partido). Estaríamos trocando um populismo pelo outro? Talvez. Mas não se pode antever determinados fatos políticos, e nesse recente contexto, não se pode admitir extrapolações de competências, muito menos a via obtusa e oculta do desrespeito às regras do jogo. Assim como as eleições presidenciais de 1965 deveriam ter sido garantidas, o resultado dessa eleição, não comprovada fraude, deverá ser acatado. Essa é a ordem legal a ser cumprida. Precisamos seguir. Sigamos acreditando no que continuamos acreditando. O momento é, antes de mais nada, rechaçar uma eventual postura golpista. A democracia deve ser exercida, e verdade seja dita, a diferença entre os candidatos ficou apenas em aproximadamente 2.000.000 de votos. Jair Bolsonaro não teve a capacidade de, mesmo à frente do governo, reforçar laços, construir novos laços, e especialmente, evidenciou-se que o que construiu ao longo do mandato viu-se apequenado diante das posturas do presidente em suas manifestações e nos debates que se sucederam. Vejo na figura dele um homem bem-intencionado. Mas desde muito antes, pelos idos de 2014, quando fui às ruas, sentia a necessidade urgente de uma base bibliográfica para fornecer um piso sólido para suas políticas e em especial, para seus apoiadores. Sabia que pelo hiato político deixado pelos esquemas de corrupção do PT ele seria presidente. Mas candidato tem postura de candidato, presidente tem postura de presidente. Ele nasceu, cresceu, viveu e morreu ontem como um “Anti-PT”. Era preciso mais, minimamente mais. Diretrizes claras, metas objetivas, críticas construtivas e instrumentos para preparar os elementos dos ideais políticos que ele defendia em seus discursos. Reitero: Faltou uma base bibliográfica. O descontentamento do Olavo de Carvalho com os rumos tomados pelo governo evidencia bem isso. Não se prova a lealdade de seguidores insistentemente. O ataque às urnas, o verdadeiro tiro no pé. Tendo ele sido eleito em 2018 sobre o candidato do PT, Haddad, com as mesmas urnas, não há lógica para, após anos, criticar o sistema eleitoral. A atmosfera de golpe circunda e ronda a república em que vivemos, como demonstram fatos históricos. Mas hoje, há outro contexto político, o qual coloca o Brasil no centro da geopolítica mundial. Não somos uma republiqueta, e por mais que eu não goste, não posso deslegitimar uma eleição sobre a qual pairam dúvidas – mas não se prova – sobre sua apuração. Não se pode ganhar todas, e da mesma forma que respeito, quero ser respeitado. O Brasil, pelo resultado das eleições, segue um outro rumo. O médio prazo da história dirá se feliz ou infeliz. Cabe a mim torcer pelo melhor, para que o Brasil continue sua caminhada civilizatória. Caminhada civilizatória que conta com o Congresso Nacional. Ele existe, e a ele cabem as funções de sua constituição, é o local adequado para que representantes do povo exerçam a vontade daqueles pelos quais foram eleitos. O Executivo não governa sozinho e contamos com a oposição eleita. O presidente na gestão na pandemia, deixou a desejar. Um Presidente da República não pode simplesmente falar tudo o que pensa. Não é questão de certo ou errado. É questão de desgaste que produz tensão. Esse é o ponto. Um momento singular, extraordinário deveria sim ser tratado da mesma forma. A conduta social, os caminhos que um país toma são influenciados sim pelo seu Chefe de Estado. Eu lamento profundamente por isso, pois cri que o passar dos anos e o peso do cargo o fariam entender as coisas de outra forma. Nunca exigi que ele usasse mesóclise. Apenas cri que o diálogo seria mais direto e inteligível. As críticas aos demais poderes da República poderiam ter sido feitas, mas de forma diferente. A comunicação é a verdadeira essência da política. O diálogo nem sempre importa em concordância, e ainda em discordância os poderes constituídos devem ter o múnus primordial de garantir o texto constitucional. O erro de um não legitima o erro de outro. Esse entendimento fica. Infelizmente, ele não teve a capacidade de entender que não era mais um deputado entre 513, que não estava discursando no Parlamento, mas que era o chefe do Poder Executivo. Para cada cargo, uma função diferente. O exercício do cargo de chefia presume-se que aquele que o ocupa possui mais predicados que os demais. Presumese que o líder sabe para onde vai, para onde leva os seus. A discórdia é natural e o verdadeiro combustível do exercício da cidadania. O campo econômico isoladamente, como se demonstrou, não foi e não é capaz de tranquilizar os mares revoltos do ambiente político brasileiro. Sobrou boa vontade, mas faltou profundidade. Daqui para frente, seguiremos no mesmo ritmo. A candidatura do Bolsonaro envolvia uma série de questões muito além à figura dele. Há muito a ser mantido, especialmente os pensamentos e ações em prol de um país melhor, um país no qual a oposição carrega embaixo do braço e na ponta da língua os ideais que acredita. Os livros que embasam seu pensamento político. Haverá uma oposição constituída em cima de fatos, de elementos históricos. O Brasil não se resume a um político e o Brasil não se resume em 04 anos. Sempre haverá um novo dia, novas frentes a serem construídas e precisamos estar cientes da missão que nos cabe e por isso precisamos estar juntos pelo que acreditamos. Não é momento de apontar culpados. É momento de reconhecer falhas e a partir delas, seguir em frente. Pois, “Espera o Brasil que todos cumprais o vosso dever. Eia Sus, ó Sus!”. Ednardo Benevides, 31/10/2022