DISCURSO - 80 ANOS DE MEU IRMÃO ANTÔNIO
Querido irmão Antônio, querido irmão Nini!
Em algumas oportunidades tenho feito uso da palavra a fim de saudar as famílias por ocasião do aniversário de um ou de outro, ou até mesmo, em momentos difíceis, quando perdemos pessoas queridas, amigas e bem próximas de nós. Não poderia, pois, deixar passar em branco este momento.
Hoje é um dia muito especial para você. Completar 80 anos significa que Deus o privilegiou. Por quê? Porque Ele lhe permitiu que tivesse uma vida longa, cheia de realizações, construindo uma família admirável, unida, próspera, com saúde, alegria e paz. Além do mais, trouxe a este espaço acolhedor sua família tão querida, seus filhos, filha, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas… Seus irmãos e amigos, prazerosamente, também vieram dividir este momento de alegria com você.
Mas, meu irmão, preciso falar um pouco de sua trajetória. Fazer um retrospecto de tanta coisa que você realizou durante todos esses anos, embora as pessoas já o conheçam bastante, e sabem de muitas passagens de sua vida. Houve momentos difíceis e outros de muito contentamento.
Vamos lá. No dia 25 de outubro de 1942, fruto de um amor inigualável, você chegou a este mundo para a felicidade de nossos pais que moravam na roça. O segundo filho de um casal abençoado... Este casal, apesar de todas as dificuldades, não mediu esforços para dar a você e aos nossos irmãos uma vida digna, através de exemplos de humildade, amor, perseverança. Fico imaginando o dia de sua chegada. Mamãe, uma moça bonita de Rio Espera, tinha apenas 26 anos de idade. Lutava ao lado de papai numa cidade com poucos recursos, com reduzida capacidade financeira, numa casa simples, na Piteira, mas cheia das maiores riquezas: o amor, a honra, a delicadeza e tantas outras coisas...
No ano de 1954, quando você tinha lá seus 12 anos, nosso pai tomou uma decisão corajosa. Abandonou a roça e nos trouxe para uma cidade grande. Naquele tempo, Belo Horizonte ainda se despontava como a capital de Minas. A intenção dele, junto com mamãe, era buscar dias melhores e oportunidades de sucesso e dignidade para nós, seus filhos.
Chegou, pois, à capital mineira, no mês de outubro de 1954. Você, meu irmão, não chegou conosco no caminhão da mudança. Ficou para trás. Na casa da madrinha Loló e do padrinho Aprígio, nossos avós maternos. Precisava terminar seu curso primário. Somente em dezembro, concluído o ano letivo, você chegou para se juntar a nós, para alegria e tranquilidade de nossos pais.
Dias difíceis e de muito sacrifício se descortinavam. Papai não tinha ainda arrumado um emprego em Belo Horizonte. Dirigia-se ao Mercado Central, comprava queijos e ia, às vezes acompanhado de um dos filhos, de casa em casa, na região do bairro Padre Eustáquio, a fim de revendê-los e conseguir o sustento da família. Afinal eram seis filhos, todos ainda menores. Nosso irmão, José Fidêncio, antecipou sua vinda para a capital das Alterosas e já trabalhava junto com o tio Bernardino, no Bairro Concórdia. Essa é outra história.
Depois de algum tempo, nosso guerreiro conseguiu um emprego na Fábrica de Tecidos Renascença, ganhando apenas um salário mínimo, além de ter que trabalhar à noite. Você, menino de bom coração, ajudava sempre nosso pai no sustento da casa. Não perdeu tempo. Iniciou, ainda muito jovem, seu trabalho na linha de ônibus, número 12, Padre Eustáquio, que saía da Praça São Vicente até o centro da idade, como trocador. Filho abençoado e solidário com nosso pai, percebendo as dificuldades, não hesitou em aceitar a tarefa que lhe surgira naquele momento.
Não demorou muito. Não sei precisar a data. Você, através de um anúncio em um jornal, encontrou um trabalho. Onde? Na rua da Bahia, 279, na Alfaiataria dos Irmãos Malacco: Natal e Bruno. Ali encontrou um senhor extraordinário que o tratava como filho. O senhor Natal Malacco. Nós todos sabemos o quanto ele foi bom para você. E para nossa família também. Um belo dia, comprou um motor para máquina de costura e pediu a você que entregasse à mamãe, como presente. Esse foi apenas um dos pequenos gestos por parte dele. O “sô Malacco”, como você o chamava, precocemente foi convocado por Deus e deixou todos muito tristes.
O tempo foi passando... passando... De garoto, que entregava ternos produzidos pelo alfaiate, passa você a trabalhar na loja Eletrorádio Irmãos Malacco, no mesmo endereço. Interessado em progredir, você se tornou profundo conhecedor da área de peças para rádio e televisão. Chegou até a montar, em casa, um aparelho de televisão. Não me esqueço disso. Aposentou-se como gerente da empresa, depois de mais de trinta anos de trabalho. Pavimentou sua vida com um número enorme de amigos.
Continua o tempo a galopar. Ganhou até um dinheirinho em um bilhete de loteria. Eis que, no ano de 1971, no dia 26 de junho, você, feliz da vida, casou-se com Nícia Lisboa. Uma garota simples, nascida na cidade mineira de São Sebastião do Maranhão, localizada no Vale do Rio Doce, conquistou seu coração. Desta união bem sucedida, vieram seus três filhos: Silvânia, Juninho e Dudu, para os quais você dedicou e vem dedicando sua vida, com amor, paciência e carinho. Através de seus exemplos, fez deles pessoas de bem: honestos, trabalhadores, dedicados e amorosos. Claro que vieram em seguida os netinhos, os quais você ama demais. Da Silvânia, as meninas: Melissa, Ana Clara e Giovanna. Do Juninho, o Bernardo. O Dudu, por enquanto ainda está em treinamento. Quem sabe. Não demora muito e arruma mais um netinho ou netinha para você.
Nini, não poderia fazer este manifesto sem mencionar outros fatos simples mais significativos. Nos finais de semana, você e o papai, no intuito conseguir um dinheirinho extra, durante muitas e muitas vezes, com uma bolsa cheia de ferramentas, instalava antenas de televisão em casas ou apartamentos em bairros de Belo Horizonte. Papai era seu companheiro. Alegre e bondoso, sempre disposto, o ajudava na tarefa. E não foram poucas vezes...
Em seguida, você e nosso irmão José Fidêncio, com coragem, criaram um pequeno armazém no bairro Dom Cabral. Papai, muito dedicado, assumiu a gerência do comércio que, depois de algum tempo, foi estabelecido na Rua Almenara, 15. Nosso pai durante muitos anos trabalhou no Bar e Mercearia Pingo até se aposentar.
Lembro-me de uma passagem que foi muito alegre para mim. Vou narrar em poucas palavras. Quando estudava no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Itaúna, Minas Gerais, no período de 1961 a 1963, eis que, acho que em 1962, você e a mamãe saíram de Belo Horizonte para me fazer uma visita. Estava eu sentado na escadaria do prédio, quando, de repente, avisto vocês dois chegando. Corri para abraçá-los. Não havia surpresa melhor do que receber alguém da família. Nossa saudosa genitora estava com um vestido de seda, de cor alaranjada, com florzinhas. Era uma manhã de domingo e ventava muito. O cabelo dela era pretinho e sedoso. Esvoaçante com a brisa daquele momento. Quanta saudade!
Querido irmão, você sabe que eu teria muitas histórias ainda a relatar. No entanto, acho que consegui, nessas palavras, relembrar um pouco de sua trajetória. Estou muito emocionado neste momento. Foi muito gratificante para mim fazer este relato. Você me conhece e sabe como o admiro.
Concluindo, desejo-lhe, em meu nome e de todos que aqui estão, muitas felicidades, muitos anos de vida e saúde. Que Deus continue abençoando você e seus familiares. Saiba que são pessoas muito queridas e merecem nosso carinho e admiração.
Um beijo em seu coração.
LUIZ GONZAGA
Belo Horizonte, 23 DE OUTUBRO DE 2022.