O Brasil (e o mundo) ainda tenha jeito
O medo social de amar impede o fluxo da solidariedade que sustenta e mantém viva e em paz a sociedade humana intrafísica. Amar no seu sentido holístico e real, sem o equívoco de ações que mascarem ou velem intenção contrária e mesmo contraproducente ao propósito da natureza desse sentimento.
Neste impasse, e pela verificação irrefutável de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar espacial, à lacuna que o medo de amar ocasiona, o egoísmo preenche e toma assento. E esta ideia quando predomine, mantém, pelo aval do materialismo, a origem das graves perturbações que nos igualam, seres distintos da Creação, a animais na luta renhida, e de animosidade, por sobrevivência em que se defendam apenas o comer, o vestir, o morar, o reproduzir: aquisições humanas às custas do trabalho pelo qual se torna consumidor voraz ou não, na proporção do quanto consiga auferir recolhido em seu bolso.
A matéria é o corpo, o veículo de ação do homem que imprescinde espiritualidade, de modo a administrar os bens naturais que lhe estão ao alcance sem detrimento de qualquer natureza a quem quer que seja. São incompatíveis egoísmo material e fraternidade humanamente plena.
Exemplos a mancheias semeados por consciências leira afora no seio de diferentes comunidades, e que conquistaram seguidores ao nobre ideal, nenhuns daqueles alijaram, para o bom êxito deste cometimento, a presença divina incutida na fraternidade social. Todos os empreendimentos como ações políticas, ou de civilidade autêntica.
Dentre muitos, vale aduzir a proposta da paz, pela não-violência, de Gandhi, este político que provou que Deus pode estar no mundo, aliás, o qual Lhe pertence, bem como associar perfeitamente política e religião - no comum da ação do bem apartidário.
A inveja tão intensa de seus adversários não lhes permitiu sublimá-la para emulação e imitação, resultando na poda de seu corpo... Quê importa, se cônscio de sua essência inatingível ao fenômeno do não ser existencial?! Quê importa se a semente vingou, a raiz fixada, para a árvore frondosa cujos troncos e ramos lhe sustentam pela adesão ulterior de agentes multiplicadores, quais Martin Luther King Jr, Chico Mendes, Dorothy Stang, Nelson Mandela, entre outros, com seus pares no anonimato mesmo assim ditosos pela causa justa?!
O Brasil recebe por herança histórica, social, cultural, a influência do ideal da fraternidade social, sem dúvida alguma.
Sofre, por sua vez, a influência do combate, neste aspecto, seguindo a regra dos contextos, que confirma a dialética transitória para um mundo em constante evolução, pela transformação, superação e aperfeiçoamento indeterminado.
Indícios probantes nas políticas públicas que se voltam ao arrimo básico aos desprovidos momentaneamente de dignidade existencial, no plano de reinserção social e na contrapartida de seu aproveitamento posterior, uma vez ganha a condição de cidadania, com sua contribuição para a manutenção do sistema econômico provedor dos inúmeros serviços sociais de que o cidadão depende.
Este sentido humanitário é transposto em forma de leis e artigos, sancionados, e previstos nos livros jurídicos da política nacional, acordo a que chegaram os egrégios constituintes, muitos deles ora saudosos.
Desta forma, é sempre louvável, em vez do lugar comum acusatório de populismo, a ação política de um governo, qualquer que seja a sua posição, que sob dotação orçamentária viável, cumpra um projeto até mesmo preexistente.
Vale lembrar que a erradicação da fome ou atenuação da miséria absoluta foram o cumprimento de uma proposta pautada pela ONU.
O modelo do Sistema Único de Saúde tem merecido elogio da parte de alguns países desenvolvidos no mundo, contrariando a razão da existência de um Estado que pretenda reduzir a zero a sua atribuição no contexto social.
Políticas públicas de reparação sem cor em um país em que nenhuma delas predomina e ao mesmo tempo se ausentam em quaisquer das condições, seja no quadro de cidadania, seja no de exclusão.
Na aldeia global, avanço irreversível de que a Terra atinge, essa reparação é um clamor não somente nacional, antes, mundial.
A solução ao problema das necessidades básicas do ser humano terrestre despontou a partir da revolução industrial, sobretudo pelo excedente econômico gerado na produção maior pelo consumo menor de cada trabalhador: isto um fator verificado por senso biológico, com abstração do discurso reivindicatório de maiores salários nesta abordagem.
Uma voz altissonante do senso mundial admite o vexame cósmico de ainda haver tantos e milhões de homens que morrem diariamente por fome e males a ela associados, no agravo de descartes de toneladas de alimentos destinados ao lixo.
A herança de espiritualidade refletida no contexto social do povo brasileiro, em sua miscigenação indígena, africana, européia, até mesmo asiática, é o start favorável ao status da fraternidade: única solução capaz de fomentar a paz a que tanto se anela, pela convergência de intenção de atitudes éticas de ambas as partes: do povo, dirigido, dos políticos, dirigentes, necessariamente comprometidos pela assunção do que as Leis, acima de todos, compondo direitos, deveres, equidade, preceituem.