JORNALISMO NÃO É AVENTURA, PRESIDENTE!
EM QUALQUER momento e circunstância, as declarações tanto do Presidente quanto do seu Vice a respeito do caso Dom Phillips e Bruno Pereira, o jornalista e o indigenista, respectivamente, assassinados no Amazonas no último 05/06, seriam deploráveis. Nos atuais, então, são praticamente um crime.
AO AFIRMAR que as vítimas estavam em uma aventura e, na condição de Chefe do Estado, não se solidarizar oficialmente com as famílias das vítimas e, pior, não condenar, de pronto, clara e veementemente a ação criminosa, o Presidente da República do Brasil não apenas mostra, mais uma vez, desprezo pelos gestos civilizatórios mais elementares, sua profunda inaptidão ao altruísmo e a alteridade e sua completa indignidade do cargo que ora ocupa, muito embora o faça, a princípio, de forma legal e legítima; não se trata apenas de mais uma declaração rude, pequena e vexatória do nosso Chefe maior. A afirmação (bem como o gesto, o tom e a atitude – de desdenho) do Presidente com o caso, além de acintosa e repugnante, é leviana.
SIM, é uma afirmação leviana porque, entre outros motivos, procura inverter a ordem dos fatos, impingindo culpa às vítimas (que podem ter cometidos erros sérios, mas não dolo) e absolvendo os assassinos, tenta desqualificar o indesqualificável e imprescindível trabalho da Imprensa, menospreza a memória das vítimas, ignora o apreço e o respeito dos povos originários por ambas e, como tem feito desde o 1º dia de mandato [e até muito antes], incita a sociedade [pelo menos a parte mais incauta e a mais dissimulada dela] contra o trabalho sério, necessário e, em todos os sentidos, caríssimo do jornalismo profissional. E o faz não por ignorância, mas por capricho, por mesquinhez e por ambição a um projeto de poder que só interessa aos espíritos mais desprovidos do mínimo de informação ou de senso de civilidade.
NÃO, Excelência, Jornalismo profissional não é aventura. É trabalho responsável, árduo, caro e ininterrupto – como, aliás, sugere sua etimologia.
JORNALISMO não é uma aventura. É uma missão, uma grande responsabilidade, um compromisso, um dever... dever este, inclusive, de prestar, muitas vezes, à sociedade serviços que, por incompetência ou por conveniência, o Estado (que o Sr. representa) se exime de fazer.
O JORNALISMO não é uma aventura e, apesar de pessoas como Vossa Excelência, Presidente, que preferem a desinformação à informação, a distorção dos fatos à exatidão, o amadorismo irresponsável ao profissionalismo comprometido, o obscurantismo ao conhecimento, a barbárie à civilização... enfim, o caos à ordem, continuará cumprindo, ainda que a custos incalculáveis (como as perdas brutais de tantos “Herzog’s”, “Tim’s” e “Dom’s”) o seu nobre e imprescindível dever de informar, formar, esclarecer e, em tempos como os atuais, principalmente DENUNCIAR, justamente para, no presente e no futuro, evitar que a sociedade volte a criar aberrações como Vossa Excelência, com todas as justas vênias que vossa função exige.
EM TEMPO, aproveito para, nesse momento tão perturbador e desafiador, do modo mais singelo, porém sincero e fraterno, unir-me aos familiares, amigos, colegas de profissão de Dom Phillips e Bruno Pereira (no Brasil e no exterior) e aos incontáveis indígenas, a quem eles tanto devotaram [incluindo suas vidas] em defesa de sua dignidade, em sua lancinante dor!
BRUNO PEREIRA VIVE!
DOM PHILLIPS VIVE!
O JORNALISMO E A ESPERANÇA VIVEM!