ESTUDO PARA...

Estudo em favor das minhas inquietações enquanto observador do mundo e das pessoas com quem convivo e com quem desejo conviver. E, se estudo para suprir tais inquietações, então estudo para contribuir na construção de um mundo em sociedade que seja mais justo e que me desperte uma espécie de gratidão social. Logo, estudo em favor de mim enquanto ser humano potencialmente possível de crescer e de contribuir para que o outro cresça.

Portanto, estudo em favor de mim mesmo e do outro também. Todavia, confesso: essa fala minha anterior, por vezes, cai na armadilha da fantasia ou da idealização, porquanto o dia a dia na rotina escolar nos impõe um modelo industrial e materialista vinculado ao mundo do trabalho: estudo para melhorar minha qualidade de vida, para suprir os impostos vários, para comprar e pagar e evitar danos no meu nome. Por isso mesmo, estudo também em favor da minha prática docente, para que ela não se distancie integralmente das boas teorias, do bom olhar científico sobre a ação pedagógica, que pode ser transformadora.

Sendo assim, se estudo em favor da prática atrelada a boas teorias, então estudo contra a minha própria tendência de falar sem epistemologia. Estudo para atenuar as minhas ignorâncias em diversas dimensões da vida em sociedade. Porque quanto pouco mais sei, menos posso fazer para colaborar com a formação, integral e íntegra, de outros indivíduos, sobretudo os desfavorecidos.

E se há desfavorecidos, então estudo para compreender melhor essa relação entre favorecidos e desfavorecidos, para refletir sobre as tendências sociais predeterminadamente engajadas em nosso país. Estudo, portanto, contra o homem injusto, para que, na sala de aula, a indisciplina e o desânimo de estudar não favoreçam aqueles que se alimentam da nossa falta de luta.

Estudo contra a escola que repete, e que insiste em não ampliar os espaços de aprendizado para além da sala de aula.