Discurso de posse do acadêmico Christiano Fagundes na presidência da Academia Campista de Letras
Excelentíssima Presidenta da Academia Campista de Letras, Dra. Vanda Terezinha Vasconcelos;
Ilustres Membros(as) da Mesa;
Senhoras Acadêmicas e Senhores Acadêmicos;
Minhas Senhoras e meus Senhores;
Em 21/6/1939, começava a ser tecida a história da Academia Campista de Letras. Nestes mais de 80 anos de existência, a ACL dialogou, de forma efetiva, com a sociedade, promovendo eventos de inquestionável importância para Campos e região.
A semente plantada, neste solo fértil de Campos dos Goytacazes, por Nélson Pereira Rebel, seu primeiro presidente; por Álvaro Duarte Barcelos, por Godofredo Nascentes Tinoco, entre outros ilustres intelectuais, não permitiu que “calmarias e ventos adversos” contivessem o seu florescer.
A ACL sempre soube que navegar é preciso e que, “se quiser falar com Deus/ Tem que se aventurar/ Tem que subir aos céus/ Sem cordas pra segurar”, parafraseando o compositor e membro da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil.
A minha história na ACL ganha relevo a partir de 25/05/2009, quando fui empossado como membro efetivo, ocupando a Cadeira de nº 19, sob a presidência da acadêmica Dra. Arlete Parrilha Sendra, que projetou a ACL para muito além das terras do “Coronel e do Lobisomem”, tamanha a excelência da gestão da professora Arlete.
Em um país que não preserva a sua História, faço questão de consignar que a Cadeira, por mim ocupada, tem como patrono o eminente campista José Alexandre Teixeira de Melo, mais conhecido como Teixeira de Melo, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), e que, antes de mim, a referida Cadeira foi ocupada, com muita competência, pelo “mago das palavras”, o ex-senador, advogado e, sobretudo, professor, Álano Barcelos.
Assim como o poeta Gonzaguinha, entendo que “Toda pessoa sempre é as marcas/ Das lições diárias de outras tantas pessoas” e, aproveitando o ensejo, consigno que trago para a minha gestão, à frente da ACL, as lições que tive com os presidentes que me antecederam, quais sejam: professora Arlete Parrilha Sendra; o grande jornalista Herbson da Rocha Freitas; o advogado e talentoso tribuno, Elmar Martins; o culto professor Hélio Coelho e a professora Vanda Terezinha, mulher atuante que, indubitavelmente, faz ecoar o seguinte texto de Pablo Neruda:
“Elas lutam por aquilo em que acreditam. Elas levantam-se contra a injustiça. Elas não aceitam um “não” como resposta quando acreditam que existe melhor solução.”
Fica aqui a minha homenagem às mulheres, às acadêmicas e, em especial, às que aceitaram o meu convite para comporem o Conselho da “nossa” gestão: Vanda Terezinha Vasconcelos, Heloisa Crespo, Sylvia Márcia da Silva Paes, Inês Cabral Ururahy de Souza, Gilda Wagner Coutinho e Ana Raquel de Sousa Pourbaix.
Pretendo fazer uma gestão que mantenha suas raízes adubadas, cuidadas com zelo, contemplando o legado deixado por nossos patronos, pelos acadêmicos que nos antecederam, mas atenta aos novos sinais, emitidos pelo século XXI, onde existe um estado de interregno, uma fluidez de um mundo líquido, como defende o professor e sociólogo Zygmunt Bauman, um dos intelectuais mais festejados da atualidade.
É preciso promover o diálogo entre o binômio “raízes” e “antenas”. Como leciona Sérgio Arruda de Moura, “As academias, no mundo inteiro, onde quer que haja uma delas, cumpre o mesmo princípio de salvaguarda das letras como atividade não apartada das vivências sociais¹.”
Nélida Piñon, quando do seu discurso de posse na presidência da Academia Brasileira de Letras, registrou que Machado de Assis, no seu discurso inaugural, confessou que os moços inspiraram a fundação da ABL, destacando a escritora que, cem anos mais tarde, era tempo de reduzir a distância que separa os jovens das instituições que os precederam no tempo². Faço coro com Machado de Assis e com Nélida Piñon. Desejamos continuar reduzindo essa distância também aqui na nossa Casa, na nossa Academia.
Que neste jardim ecoem nomes como os de José Candido de Carvalho, Machado de Assis, Adélia Prado, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Cora Coralina, Patativa do Assaré, Luís Gonzaga, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Cartola, Chico Buarque, Adriano Moura, Saramago, Mia Couto, entre outros, pois quem sabe faz a hora, não espera acontecer, e o mundo está precisando da arte, da prosa, da poesia.
Por derradeiro, recordo Guimarães Rosa:
“O importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.”
De fato: assim são as pessoas e, via reflexa, as instituições.
Muito obrigado!!!
Campos dos Goytacazes, 19 de março de 2022.
Christiano Abelardo Fagundes Freitas
Discurso de posse na presidência da ACL
¹MOURA, Sérgio Arruda. As academias de letras e o seu papel na constituição do campo literário, in Revista da Academia Campista de Letras, Ano VII, nº1, junho de 2009, pág. 14.
²https://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D290/Discurso%20de%20Posse%20na%20Presid%C3%AAncia%20da%20ABL, acesso em 18/3/22, às 5h22min.