A REVOLUÇÃO

Já chega deste teu ostracismo voluntário

Em que te encontras

Deste teu egoísmo em meio a tantas outras opções

Tu não és de todo auto-suficiente

As tuas necessidades não são conflitantes

Com as de todos os teus irmãos

Pelo contrário, fazem parte do mesmo matiz

Apesar da tua nuance ser única.

Aliás, as únicas coisas que tens de únicas,

Que não são de ninguém mais,

São a tua impressão digital e o teu DNA

Quanto ao resto de teus afãs

Padeces do mesmo mal que o resto de nós:

— És um ser humano!

Humanamente humano em toda a sua plenitude

Então não sejas indiferente

A este apelo coerente

Abre os teus ouvidos e descartas este lastro de surdez

Que toma conta da tua audição.

Os homens enlouqueceram de tanto buscar a sabedoria

E se fizeram sábios de insanidade

Já bastam de afluentes sanguinários

E domingos ensangüentados

E semanas sanguinárias

E meses sanguinários

E anos sanguinários

E vidas aniquiladas e exauridas

Obrigadas a alimentar estes rios carmesins

De tanto sangue derramado.

É hora de começares a pensar

Em uma revolução definitiva e permanente

Esquece e apaga da tua memória tudo o que conheceste

A despeito de revoluções, guerrilhas e rebeliões

É hora, e já chegou o dia D,

De efetuares a tua revolução

Tua revolução ímpar

Tua revolução íntima

Mas saibas que esta revolução

Cobra um preço exorbitante

E estejas de antemão preparado para pagar

O débito que arcarás é alto e sacrificial

Mas o teu resultado há de contaminar

O teu semelhante depois de ti

E o teu semelhante depois dele

E muitos semelhantes após

E terás a honra de apenas ser o primeiro

De muitos dominós que cairão

Desta fileira interminável de andróginos monólitos

O preço que ela há de cobrar

A única exigência que ela fará de ti

Não é que jogues teus revólveres e fuzis no lixo

Nem que te isoles em busca do teu eu

Muito menos que forces os teus irmãos

A cumprirem constituições e leis

Que sempre pelas próprias leis

Se conseguiram burlar

Não é também que detones a enésima guerra mundial

Pois as guerras têm um fim contraditório

Apoiadas por um motivo sem razão:

Erguerem um fundamento sólido

Para a edificação da paz

(pergunto então: porque ao invés de fazerem guerras

pela busca da paz não dão uma chance à paz

de exterminar as guerras?)

Tua revolução há de ser diferente

Com um motivo único

E os teus reflexos e efeitos indeléveis

Tua revolução será diferente

Porque muitos ouvirão o marchar de milhões

Mas verão em ação

Apenas um exército de um homem só

Porque há de começar em ti

E não a partir de ti

Será ímpar porque ao invés de tentares mudar

O meio em que vives e o mundo que tanto excomungas

Há de começar de dentro para fora de ti

E fará mudanças como tu nunca imaginaras

Ou mesmo sonharas que pudessem acontecer

A mudança que tanto almejaras

E que tanto julgaras com a máxima escusa de que

“Eles não fizeram o suficiente”

agora está tão perto de ti que a podes tocar

Não é preciso consultar nenhum oráculo

Das montanhas tibetanas,

Inacessíveis, quem sabe para ti...

Mas o que precisas para começar a erupção

Está ao teu alcance

Bastando apenas que persistas em efetuares

A tua decisão

E troques o teu atormentado coração de pedra

Por outro mais eficiente porque é capaz de amar.

Os homens querem mudar o mundo

Através de revoluções

Mas mudar a vontade dos homens à força

É como pintar em cada rosto um xérox de si próprio.

A revolução que vai mudar este mundo

Começa dentro do teu coração

E evolui com a decisão de neste propósito permaneceres

Mudar a vontade dos homens à força

Não é ter nenhuma solução que dure para sempre

É preciso extirpar o câncer

Se tiver que jogar suas armas no lixo

Jogue

Aproveite também para jogar fora

O teu velho coração que não tem valia

Para esta ativa transformação.

A única revolução que atinge seus propósitos

E que trás a mudança de forma permanente

É amar...

E podes começar hoje mesmo

Começando a amar seus semelhantes

Da forma que você necessita ser amado

E verás que a revolução que tanto procuravas

Fará com que o mundo em que vives

Já não interfira no meio em que viverás

Pois passarás a viver neste mundo

Vivendo fora dele

E o veiculo que te dará esta passagem

Para esta viagem sem retorno

É o amor

Pense nisto e decida fazer parte desta cruzada

Se ainda quiseres ser um revolucionário

Tem bastante espaço

Pois para amar e ser amado

Basta apenas começar

O restante do começo nem preciso te falar

Pois o resto será conseqüência do seu ato de amar.

31 de janeiro de 2008 09:28hs