Cerimônia do Jaleco - Uninta - T30
Cerimônia do Jaleco
Celebramos hoje a cerimônia do jaleco, o primeiro dos ritos acadêmicos da T 30. Além do aspecto de Equipamento de Proteção Individual, o manto branco que carregarão até o final das vidas, tem um simbolismo e uma historicidade que certamente faz o coração de cada um de vocês, futuros doutores, pulsar mais fortemente agora. Depois, virão a cerimônia do interno e, finalmente, a formatura – transição entre as dúvidas do estudante recém-formado e as dívidas do profissional que será inserido no mercado de trabalho.
O verbete celebrar, de origem latina, tem por sinônimos honrar, “digno de honras”. Portanto, fazendo jus ao que nos trouxe até aqui, faremos referências a todos os que contribuíram e contribuirão para que a caminhada de vocês resulte, ao final, em uma jornada vitoriosa.
Aos diretores da faculdade, visionários que tiveram a coragem de ousar, transformando paradigmas, fica o nosso agradecimento, na condição de pais. Os senhores tornaram acessível e tangível para muitos alunos uma realidade que estava restrita a poucos, por imposições quantitativas de vagas. Quantos jovens sonhadores foram impedidos, num passado recente, de cursar medicina por uma única questão, por nervosismo, estando bem preparados e tendo uma vida estudantil brilhante! Estavam prontos, mas ficaram no passado, por detalhes. Portanto, acima de quaisquer outras percepções, saibam que os senhores nos ajudaram a realizar os sonhos dos nossos filhos.
Aos professores – impossível falar de vitórias sem os mencionar. Os senhores são os gigantes a que Newton se referiu. É nos ombros dos senhores que esses jovens subirão para modificar e conquistar o mundo! Todos os profissionais sentiram as mãos acolhedoras de um educador, ouviram aconselhamentos de tios e tias. Qual de nós, ao buscar nas reminiscências, não lembra de pelo menos um mestre que nos foi inspirador? Desde já, o nosso muito obrigado também!
Aos pais... Não é fácil, não é? Sabemos das dificuldades – e não são poucas. Entregamos nossos maiores tesouros a uma jornada cheia de ausências, angústias, medos e dúvidas. Sofremos em harmonia corpórea e espiritual que apenas o vínculo da consanguinidade consegue explicar, posto que transcende à materialidade. Entretanto, quando o que está em jogo é a felicidade dos nossos filhos, tudo faz sentido e não há limites que não sejam superados. Saibam, queridos filhos, que estaremos aqui, sempre!
Dirijo-me, em especial, aos estudantes:
Quando era adolescente, assisti a um programa onde o saudoso cearense Chico Anysio disse que o jovem sonha, o homem adulto faz, mas é o velho quem sabe. Nesse sentido, estar diante de jovens que sonham é revigorante, pois serão homens e mulheres atuantes e desbravadores! Afinal, quantas vidas lá fora, pertinho de nós, perdem-se nos vícios, diariamente, causando dor e desajustes familiares e sociais. Sejam, portanto, agentes transformadores, entendam as distopias sociais e lutem para a manutenção da vida – o fundamento primário da profissão que abraçaram. Não busquem apenas deixar um mundo melhor para os filhos, mas, acima de tudo, filhos melhores para o mundo: éticos, com bons valores, amantes da sabedoria e da verdade.
Quando nos encontramos naquilo que fazemos, o tempo é mero detalhe. Faz trinta anos que exerço a mesma profissão e ainda hoje, quando estou no exercício da minha atividade laboral, não me preocupo com a hora de sair – porque amo o que faço! Portanto, quando colocarem e sentirem na pele o frescor do jaleco, projetem-se para os próximos anos e tentem, num exercício, imaginativo, um reencontro com vocês no futuro. Conseguem sorrir com o que veem? Estão diante de um profissional realizado, não apenas financeiramente, mas feliz por ter feito a diferença na vida de milhares de pacientes? Se a imagem que se projetou no inconsciente foi essa, parabéns! – você está no lugar certo e o jaleco será, acima de tudo, um manto protetor.
A vida precisa fazer sentido. Viktor Frankl, enquanto esteve na condição de prisioneiro em campos de concentração, entre o ser e o não-ser, não desistiu de lutar pela sobrevivência por sentir na alma a necessidade de que todos os seres humanos tivessem acesso aos horrores do holocausto para que ele nunca mais se repetisse. Segundo Nietzsche, quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como. Assim, deem sentido à vida de vocês e façam valer a pena cada segundo. Com o tempo, perceberão que o essencial é ter saúde e uma vida feliz, serena. Os dias se encarregarão de desacelerar a máquina que hoje está desejando viver tudo ao mesmo tempo agora.
Nunca percam o foco da efemeridade, dediquem-se à família, tenham tempo para alimentar o espírito. Nascemos e morremos – isso não será diferente para nenhum de nós. E mais um detalhe: passa muito rapidamente! Os senhores, mais que ninguém, certamente ouvirão, ao longo da caminhada, pacientes terminais declarando que o último desejo era ter mais tempo com familiares, ter dado mais atenção às coisas simples. Infelizmente, para muitos, essa consciência vem tardiamente.
Quando, por fim, estiverem nos últimos dias, na iminência da eternidade que iguala ricos e pobres; quando tiverem aquele diálogo pessoal e íntimo com Deus, suspirem, mansamente – Ele ouvirá:
Obrigado, Deus! Valeu a pena, venci!
Cerimônia realizada dia 06/03/2022.
Falei em nome dos pais.
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