Discurso de posse na Academia Formiguense de Letras – AFL
* Acadêmico Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro [1]
“O homem não faz senão escrever, com as letras de seus atos e os períodos de sua vida, na direção riscada pelo dedo poderoso do Destino”.
Humberto de Campos Veras. Nasceu em Miritiba – hoje Humberto de Campos, Maranhão, no dia 25 de outubro de 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 05 de dezembro de 1934. Foi jornalista, escritor e político.
Digníssimo Senhor Presidente da Academia Forminguense de Letras – AFL, Acadêmico Paulo José de Oliveira,
Digníssimas Escritoras do livro “Juca: mansos relatos de uma vida”, Professora Maria Rosilene Costa e Silva e Dra. Maria Solange Costa Fonseca, nas pessoas de quem cumprimento a todos os presentes.
Digníssimas Acadêmicas, Digníssimos Acadêmicos,
Caros senhores, caras senhoras e autoridades.
Boa noite.
Em cada oportunidade que me é permitido avivar este pensamento do imortal Humberto de Campos, vem-me a certeza de que devo continuar a grafar o vocábulo destino com “dê” maiúsculo e entender que este “dedo poderoso do Destino”, representa o dedo poderoso de Deus, que está sempre a indicar-me a direção que devo seguir e o que devo escrever com os períodos e os atos de minha vida. E dúvidas não tenho, que assim também o é, com todos os seus outros filhos.
Portanto, neste momento de alegria e gratidão, compartilharei o que escrevi em períodos pregressos com as letras dos meus atos e que se tornaram páginas importantes e inesquecíveis de minha vida, escritas nesta cidade com a ajuda e inspiração de seus cidadãos.
Era final da década de 70, entre 1977 e 1979, não posso precisar com exatidão. Encontrava-me no alvorecer de minha juventude, quando aqui estive pela primeira vez. Lembro-me que chegamos em uma tarde chuvosa, éramos quatro: Ângelo, Anselmo, Arnaldo e Tarcísio, nos acampamos à margem da barragem e, durante a noite, acompanhados de um bom conhaque, do frio trazido pela chuva e pelo vento, somados com os frequentes clarões dos relâmpagos e o insistente esbravejar dos trovões, tudo nos parecia belo, normal e emocionante.
No dia seguinte, cessado o temporal e com os primeiros raios do sol, passamos a usufruir das belezas que a ambiência propiciava, nadávamos e preparávamos o almoço, enquanto degustávamos o que restara das garrafas de conhaque. Estávamos também, atentos ao velho rádio de um TL amarelo, de onde vinha o som que povoava os ares e nossas mentes e corações com as canções da Betânia, da Elis, do Erasmo, do Chico, do Ramalho, do Roberto, do Elvis e dos Beatles.
A beleza do local confirmava o que dissera João Guimarães Rosa: “Perto de muita água, tudo é feliz” e, verdadeiramente, estávamos felizes. Porém, ao avizinhar-se a tarde e a certeza de que a chuva retornaria, optamos por procurar um lugar mais seguro e confortável para aquela segunda noite, portanto, Formiga fora o nosso destino.
No final da tarde chegamos à Pensão São Geraldo [2] , estávamos com os sapatos e as roupas sujas de barro. Entusiasmados, falávamos desordenadamente, enquanto subíamos uma longa escada, por certo, motivados pelos efeitos neuronais que ainda restavam do conhaque em nossas mentes. Ocasião em que fomos recebidos pela senhora Diomar Ribeiro Rezende, a quem perguntamos, se tinha quartos e chuveiros, que nos respondeu com respeito, firmeza e pedagogicamente:
“Tem chuveiro para tomar banho, comida para comer e cama para dormir. Mas, se demorar no chuveiro ou comer muito, pagarão mais caro e, se fizer bagunça, chamarei a polícia”.
Diante daquela pedagógica recepção passamos respeitosamente a nos apresentar, a disponibilizar os documentos de identificação e a declinar nossas profissões e o porquê que ali estávamos naquela forma, de onde vínhamos e afirmar: que só queríamos um lugar para o banho, descanso e alimentação. Feitos os esclarecimentos, tivemos o que buscávamos e fomos cordialmente tratados.
Aquele episódio de disciplina, firmeza e pedagógico mesclado com cordialidade e respeito, ficara imantado em minha alma e mente e, sempre que dele me lembro, agradeço a Deus por tê-lo vivido e com ele aprendido. E hoje, neste momento e com este registro, rendo homenagem e externo meu respeito e gratidão à senhora Diomar Ribeiro Rezende que, com poucas palavras nos dera uma verdadeira aula de civilidade e de bons princípios.
Os anos se passaram, quatro décadas depois, no dia 17 de agosto de 2018, retornei a Formiga para os festejos de inauguração da sede provisória da Academia Formiguense de Letras – AFL, em uma das salas na Casa do Engenheiro. Foi uma festa maravilhosa, com palestra proferida pelo Acadêmico Dr. Wilson Alves Figueira, apresentações musicais e folclóricas. Com destaque para a magistral participação do pianista Dr. Francisco José dos Santos Braga e sua esposa Rute Pardine, cantora Lírica, cuja apresentação encantara e emocionara a todos.
No ano seguinte, no dia 25 de outubro de 2019, convidado pelo Clube Literário Marconi Montoli – CLMM e pela Academia Formiguense de Letras – AFL, por ocasião das premiações do Concurso Literário de Conto, Poesia, Redação e Trova e outorga do “Troféu Formiga de Letras”, retornei. Durante o evento, proferi palestra sob o tema: A Literatura Brasileira e os Desafios da Língua Pátria e lancei o meu livro: “Tributo ao Professor Roque José de Oliveira Camêllo”. Ocasião em que fui agraciado com o Certificado de Honra ao Mérito, outorgado pelo Clube Literário Marconi Montoli – CLMM, pelos serviços prestados à cultura e literatura. O evento fora realizado no Teatro da Universidade de Formiga – UNIFOR, atentamente acompanhado pelos participantes, com destaque para as professoras e estudantes do curso de Pedagogia.
Outro acontecimento que liga minha vida à cidade de Formiga foi conhecer o casal Maria Solange Costa Fonseca e Alair Carlos da Fonseca. Em princípio, nos corredores da Universidade de Itaúna - UIT e, posteriormente, como frequentadores da Confraria dos Amigos do Vinho de Itaúna – CAVI. Amizade que se intensificara e estendera a seus familiares o que resultou na honra de convidar-me para Prefaciar o livro “Juca: mansos relatos de uma vida”, que será lançado nesta noite.
No referido livro, as autoras, além de relatar a história da vida de seus pais, adentraram na história de seus ancestrais e, ainda, registraram a ambiência histórica e atual desta maravilhosa cidade, que se destaca pelo seu progresso, pela urbanidade e pela cultura de seus cidadãos e cidadãs. O que se comprova com a forma cordial que recebem os turistas, a beleza da cidade e a conservação do admirável monumento histórico setecentista que é a Igreja de São Vicente Férrer. Cuja história leva-nos ao dia 11 de março de 1765. E, ao lado da beleza marcante do estilo Barroco, guarda consigo um órgão que possui 952 tubos o quinto maior do Brasil.
Meus caros senhores, minhas caras senhoras,
Pelo exposto, este feliz momento que vivo hoje, a meu juízo, é também guiado pelo dedo poderoso de Deus, cujos preparativos foram iniciados no final da década de 70 e se consolidara nas décadas seguintes, alicerçado na bondade Divina e na generosidade dos cidadãos e cidadãs Formiguenses com os quais tive e tenho a honra e a felicidade de conhecer e conviver. Portanto, agradeço penhoradamente a generosidade dos integrantes da Academia Formiguenses de Letras – AFL e reconheço, ao conceder-me o honroso título de Acadêmico Correspondente Nacional, tornaram-me imortal, entre eles e os cidadãos e cidadãs desta cidade, que já se encontravam imortalizados em minha alma desde que os conheci, naquela já longínqua e saudosa tarde chuvosa do final da década de 70.
Muito obrigado, e que o bondoso Deus, ilumine a todos.
Formiga, 06 de novembro de 2021.
Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro
Confrade Correspondente Nacional
Notas. 1. Discurso proferido no dia 06.11.21, durante Reunião Solene da Academia Formiguense de Letras – AFL, quando tomei posse na Cadeira n. 9 – Patroneada por Humberto Campos Veras, na condição de Confrade Correspondente Nacional e apresentação do livro “Juca: mansos relatos de uma vida”, escrito pela Professora Maria Rosilene Costa e Silva e Dra. Maria Solange Costa Fonseca, que tive a honra de prefaciar.
2.O resgate do nome da pensão e de sua proprietária àquele tempo só foi possível, em razão do trabalho de pesquisa realizado pela professora e escritora Maria Rosilene Costa e Silva, a quem consigno meus agradecimentos.
Arnaldo de Souza Ribeiro: Pós-doutor pela Universidad de Las Palmas de Gran Canárias - ULPGC, Espanha. Doutor pela UNIMES, Santos-SP, Mestre pela UNIFRAN, Franca-SP e Especialista em educação pelas Faculdades Claretianas, São José de Batatais - SP. Prof. do curso de direito da Universidade de Itaúna – UIT, foi seu coordenador por nove anos e Prof. convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu – RJ. Autor dos livros: Magistério: estudos, pesquisas e palestras (Ramos, 2ª Edição, 2018); Itaúna Livre: memorial de setenta anos (Adelante, 2019); Tributo ao Professor Roque José de Oliveira Camello (Adelante, 2019). Coautor dos livros: Democracia, direitos fundamentais e Jurisdição (Virtual Books, 2014); Olhares múltiplos (Daniela, 2016); Hipérboles (Ramos, 2017); Direitos e seus desafios socioambientais e tecnológicos nas democracias contemporâneas (Universidade do Porto, 2021). Organizador dos livros: Fundamentabilidade horizontal dos direitos: proteção à propriedade e posse (Virtual Books, 2016); Fundamentabilidade horizontal dos direitos nas relações de famílias e trabalho (Virtual Books, 2018); O que a vida quer da gente é coragem (Ramos, 2ª Edição, 2018). Escreve para Jornais, Revistas e Sites do Brasil e exterior. Presidente da Academia Itaunense de Letras – AILE, membro da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa – ACLGR, Acadêmico Correspondente Nacional da Academia Formiguense de Letras – AFL, do Instituto Mineiro de Direito Processual – IMDP, Belo Horizonte – MG, do Instituto de Direito de Língua Portuguesa – IDILP e da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa – CJLP, Lisboa.