Vera Alice Rodrigues dos Santos

Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro

“Amigo é coisa pra se guardar

Debaixo de sete chaves

Dentro do coração”.

Milton Nascimento

Ilustríssimos senhores e senhoras integrantes da família de nossa homenageada Acadêmica Vera Alice Rodrigues dos Santos,

Excelentíssimo Senhor Secretário de Finanças de Itaúna – MG, Dr. Walter Gonçalves do Amaral, digníssimo representante do poder público municipal,

Ilustríssima Senhora Dra. Maria Solange Fonseca Costa, digníssima representante e Presidente da Confraria dos Amigos do Vinho de Itaúna – CAVI,

Ilustríssima Senhora Dra. Maria Maria de Lourdes Spinola Antunes, digníssima representante da 34a Subseção da Ordem dos Advogados de Itaúna – OAB,

Ilustríssimo Senhor Dr. Carlos Alberto de Brito, digníssimo representante da Loja Maçônica Itaúna Livre - LMIL, da Loja Maçônica Mestre Chaue Chequer - LMMCC e da Loja Maçônica Ordem e Progresso – LMOP,

Ilustríssimo Senhor Acadêmico Raimundo Batista Bechelaine, digníssimo representante da Academia Divinopolitana de Letras – ADL,

Ilustríssimo Senhor Acadêmico Geraldo Fernandes Fonte Boa, digníssimo representante da Academia de Letras de Pará de Minas – ALPM,

Senhores Confrades, senhoras Confreiras e demais senhores e senhoras que nos honram com suas ilustres presenças.

Boa noite a todos.

Este é um momento muito especial para todos nós, tendo em vista que, com esta merecida homenagem, perpetuaremos a memória daquela que sempre soube guardar os parentes e os amigos no lado esquerdo do peito e, de igual modo, todos que tiveram este privilégio também a guardam, o que a faz viva entre nós, em forma de saudade.

Agradecemos a Acadêmica Benemérita Maria Helena Corgosinho, por trazer aos nossos corações, com sua maviosa voz, este hino à amizade, que se consubstancia a música Canção da América, de Milton Nascimento. Esta era a canção preferida da homenageada, conforme disseram seus familiares.

Com a inauguração da Biblioteca “Vera Alice Rodrigues dos Santos”, a Academia Itaunense de Letras - AILE contribui para levar a vida e a obra da homenageada às pessoas que não tiveram a felicidade de conhecê-la e com ela conviver. Estamos certos, quando os leitores compulsarem os livros e encontrar em suas páginas os carimbos a estamparem o nome da Patrona, deduzirão que a honraria não fora gratuita, ela a merecera. E ainda, poderão comprovar, pela produção literária que deixou, pelo que dela hoje se fala, e, com toda certeza, se falará e se escreverá no futuro.

E para contribuir com as pessoas que não a conheceram, faço um breve histórico de sua vida e de seus trabalhos.

Vera Alice Rodrigues dos Santos nasceu em Itaúna - MG, no dia 20 de novembro de 1950. Era filha da senhora Maria Rodrigues dos Santos e do senhor Jesus Taveira dos Santos, também conhecido como Jesus do Banjo, pela maestria com que executava belas músicas com o referido instrumento.

Era a quarta filha de uma linhagem de oitos irmãos, sendo: Maria Lúcia, Maria Augusta, Maria Dulce, Vera Alice, José Rodrigues, Antônio Carlos, Márcia Aparecida e Wilson Murilo.

Desde a mais tenra idade, era uma menina inteligente, feliz e sonhadora e se destacava entre as crianças de seu tempo. Bons tempos. Tempos em que os meios de comunicações precários permitiam que as pessoas, parentes e amigos dialogassem e vivessem de forma mais próxima e fraterna. Era um tempo em que as calçadas e as varandas eram destinadas aos compadres e as comadres para longas conversas. E as ruas eram palcos para as saltitantes crianças brincarem e promoverem suas travessuras. Tempos dos fogões, das varandas e dos grandes quintais com seus pomares.

Seus pais, cientes da importância do ensino, propiciaram que a menina Vera Alice fizesse o curso primário no então Grupo Escolar Dr. José Gonçalves de Melo, àquele tempo, conhecido como grupo de cima, curso que fizera com brilhantismo.

No alvorecer de sua adolescência fora vítima de um fatídico acidente promovido por um caminhão desgovernado, cuja gravidade exigira que suas pernas fossem amputadas e, a partir daquele momento, passasse a servir-se de pernas mecânicas e de cadeiras de rodas para locomover-se. Mas, a gravidade do acidente e as dificuldades com as pernas mecânicas e a cadeira de rodas não foram capazes de interromper seus sonhos, reduzir sua coragem, sua grandeza, sua vontade de viver, de servir, de aprender e de ensinar.

Como prova de sua coragem e determinação, registra-se, àquele tempo, carro era objeto de luxo e a família não o tinha. O que não constituiu grande problema para locomoção, pois a generosidade do irmão Antônio Carlos, ao tempo adolescente, a levava e a buscava na escola em sua bicicleta. Apura-se neste ato duas grandezas, a generosidade do jovem na condução de sua irmã e esta, mesmo vulnerável e diante da eminência de uma queda, o que certamente deve ter ocorrido, não temeu ou absteve-se do meio de transporte que lhe fora disponibilizado.

Outra mostra de sua determinação e grandeza encontra-se na permanência e no brilhantismo dos estudos que realizara na então Escola Normal, àquele tempo referência no ensino em Itaúna e região.

Concluído o equivalente ao ensino médio, ingressara na Universidade de Itaúna, para estudar Economia e fora aprovada em primeiro lugar no Vestibular. Durante todo o curso, transitou na Universidade com o mesmo brilhantismo que fizera no primário, na Escola Normal e no Vestibular, o que a tornara destinatária do respeito e da amizade de todos, em especial de seus professores. O que se comprova com o testemunho de um deles, o Prof. Raimundo da Silva Rabello, que integra nossa Academia. Por muitas vezes, antes ou depois das nossas reuniões, presenciei e ouvi as manifestações recíprocas de admiração e respeito entre a ex-aluna e o ex-professor que, naqueles momentos, eram dois brilhantes acadêmicos.

Com o mesmo vigor e brilhantismo que enfrentara o mundo acadêmico, Vera Alice Rodrigues dos Santos ingressara no mundo do trabalho e, por anos, prestou relevantes serviços à Companhia Industrial Itaunense.

Aposentada, não buscou o merecido sossego no exílio de seu lar, abraçou o voluntariado e assim contribuiu e foi útil, por longo tempo, na condição de assistente da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados - APAC, onde também angariou respeito e admiração de todos. E isto se confirma, pois, mesmo durante os dias em que esteve internada, seus colegas a ela recorriam, na busca de orientações quando algo novo ou mais relevante ocorria.

Na família era sempre presente, compartilhava das alegrias e das tristezas de todos, era referência, um porto seguro, um reservatório de paz, bondade e compreensão.

Como escritora, desenvolvera muito cedo suas habilidades para transformar em literatura os sonhos e as grandezas que estavam imantadas no seu elevado espirito, como ela mesma se definiu: “Poetisa para colocar em palavras o que só é possível sentir”. E o fez com singular beleza e brilhantismo, conforme registram as Coletâneas: Essências, Olhares Múltiplos e Hipérboles e também no primeiro volume da Revista da AILE a ser lançada amanhã, dia 25 de setembro de 2021.

Participou ativamente do Grupo de Escritores Itaunenses e, no dia 22 de outubro de 2016, ingressou na Academia Itaunense de Letras – AILE, onde ocupou a Cadeira n. 12, patroneada pelo Dr. Guaraci de Castro Nogueira, pessoa por quem nutria grande amizade, admiração e respeito.

Enquanto acadêmica, estava sempre presente e solícita, inclusive exercera com brilhantismo o cargo de tesoureira.

No final do mês de fevereiro de 2019, inesperadamente, faltaram-lhe a força e o entusiasmo que sempre marcaram e orientaram sua vida e a internação no Hospital local se impusera. Para tristeza dos familiares e amigos, na noite de 2/3/19, discretamente na presença daqueles que a acompanhavam, adormeceu e não mais acordou. Na manhã do ensolarado domingo de carnaval dia 3/3/19, com toda certeza fora despertar nos braços do Pai, pois, enquanto aqui estivera, soubera praticar o verdadeiro catolicismo, na exata forma que Ele e os Evangelhos ensinam. De tal forma, aquela que foi feliz e contribuiu para a felicidade de muitos, despediu-se no domingo de carnaval, exatamente no dia em que a felicidade, as músicas, as serpentinas e os confetes serpenteavam pelo país.

Meus queridos senhores e senhoras.

Como já predissera Abraham Lincoln “A melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades”. E como é bom saber que a Acadêmica Vera Alice Rodrigues dos Santos fora nossa amiga e estivera em nossas vidas e, de igual modo, também nós estivemos na dela, embora para seus familiares e amigos ela ainda continua viva e presente em forma de saudade. Como bem ensinara João Guimarães Rosa, “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, portanto, ela encantou-se e nos deixou encantados com tudo o que dela vimos, vivemos e aprendemos.

Com a Biblioteca Vera Alice Rodrigues dos Santos, ora inaugurada, inicialmente com 120 livros de vários seguimentos da cultura, escritos por pensadores itaunenses, brasileiros e estrangeiros, os integrantes da AILE desejam que a homenageada Vera Alice Rodrigues dos Santos, se eternize e continue a inspirar e a ensinar.

A generosidade dos benfeitores da Biblioteca, propiciou a somatória de 118 livros e a Academia adquiriu mais dois e assim o fez para registro de forma simbólica, ainda que modesta, uma homenagem à cidade de Itaúna, pelo seu centésimo vigésimo aniversário de emancipação política.

Para aquilatar a importância dos livros, outrora já predissera: Aberto é um amigo que fala, fechado é um amigo que espera.

Esperamos que estes livros e os próximos que virão possam falar e ensinar às pessoas que deles se acercarem, assim como a Acadêmica Vera Alice Rodrigues dos Santos o fizera, com suas palavras e, sobretudo com a grandeza de seus trabalhos e exemplos.

Rogo ao bondoso Deus que a tem junto de Si, que a ilumine, a seus familiares e a todos nós, que eternamente a guardaremos dentro dos nossos corações, na forma ensinada por ela e pela canção que tanto gostava e que hoje magistralmente no início desta solenidade fora executada pela Acadêmica Benemérita Maria Helena Cargosinho.

Muito obrigado a todos.

Boa noite.

Itaúna - MG, 24 de setembro de 2021

Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro

Presidente da AILE

* Arnaldo de Souza Ribeiro: Pós-doutor pela Universidad de Las Palmas de Gran Canárias - ULPGC, Espanha. Doutor pela UNIMES, Santos-SP, Mestre pela UNIFRAN, Franca-SP e Especialista em educação pelas Faculdades Claretianas, São José de Batatais - SP. Prof. do curso de direito da Universidade de Itaúna – UIT, foi seu coordenador por nove anos. Presidente da Academia Itaunense de Letras – AILE, membro da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa – ACLGR, Acadêmico Correspondente Nacional da Academia Formiguense de Letras – AFL, do Instituto de Direito de Língua Portuguesa – IDILP e da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa – CJLP, Lisboa.