Quem é você nisso tudo?
Se eu parasse de ler e reler e silenciasse tudo que já li? E me concentrasse em Ser? Onde está o amor? Nos livros? nas seitas? nas certezas? nas opiniões?
Se eu parasse de ler para Ser? para transcender?
É tentador, não é mesmo?
Mas abandonar o mundo, não seria outra ilusão? Que parte de mim quer se afastar dos deveres, quer se afastar do convivio, quer se afastar da ação, do servir com o coração? do servir sem ter razão?
Quanto disso tudo não é preguiça, procrastinação, egocentrismo, solidão?
Voce e eu falamos em Ser, em abandonar o materialismo, mas quanto está disposto a abandonar seus excessos na comida, nos filmes, nas coisas da moda? Voce e eu ainda atravessa a rua, quando vÊ um mendigo ou ainda dá a sopa na rua, mas não perdoa seu irmão?
Estou confuso. Nada sei. Ainda busco reconhecimento, ainda busco validação, ainda busco ser amado, pois não sei o que é viver no reino dos céus.
Já li marvilhas. Toquei o céu contemplando uma bela arte. Encontrei a paz no silencio da natureza e na respiração do meu filho que dorme em meu colo.
Um raio de sol escapa entre as nuvens e vem tocar o meu teclado enquanto escrevo. Onde está a verdade?
Uma lágrima ensaia escapar, mas ainda não encontrou uma verdadeira motivação que valesse a pena.
Contemplo minha estante de livros. Mestres da humanidade a alimentar minha alma. Ainda sim estou aqui, sem saber porque.
Não quero fugir dos deveres. Quero ser livre nos deveres. Quero ser livre.
Quero sacralizar minha mente, meu corpo, esta casa que me abriga. Quero viver no mundo Real, no mundo da alma, do belo, do celeste sem abandonar meus irmão.
Na verdade, parte de mim quer abandonar meus irmãos sim, por que tudo é para mim. No meu mundo sou diretor e protagonista. Os demais são apenas figurantes, cuja unica função é me idolatrar.
Que parte de mim cansou disso tudo? que não quer mais reconhecimento, nem preguiça, nem ter razão. Que parte de mim quer se dissolver no amor e viver esse amor em cada gota do dever terrestre?
Quantos livros tenho que ler para que eu retorne para a minha casa. Para a casa do Pai?
Qual meu verdadeiro compromisso? A que meta entreguei o meu coração?
Me dê sua forças Pegasus. Me leve as cumes celestes e recupere minhas asas divinas.
Estou arrependido de ter virado as costas para Deus. Será se estou?
Eu que busco atalhos para sentir a Sua presença. Que busco escapismos para suportar a sua ausência. Quem sou eu nisso tudo?
Agora as lagrimas escorrem. Se convenceram da minha sinceridade, mas não da minha força de vontade.
Logo vou morrer. Por quanto tempo ainda ficarei vivendo pelas certezas dos outros? Para o outro, sou apenas um figurante da sua história dirigida e protagonizada por ele. Ainda sim, estou ansioso para impressionar a opinião alheia.
Me de um musica, uma meditação guiada, que me leve, não para fora de tudo, mas para dentro de tudo. Para o verdadeiro mundo do eterno e impermeável a mentiras.
Quem vai me guiar nessa meditação? Quem estaria apto a me conduzir ao lugar nenhum, onde o Todo está por toda a parte?
Quero parar de ler. Parar de fazer. Parar de escrever para então Ser. E sendo, passar também a Ser lendo, Ser fazendo, Ser escrevendo, Ser duvidando, Ser chorando, Ser acertando e errando. Ser com meu filho no colo, Ser no sorriso da minha esposa, Ser no mendigo. Ser no tumulo de todos que eu amo e daqueles que não fui capaz de amar.
Há uma beleza por trás de toda tragédia. De todo "não" que eu recebo. De todos meus erros que carrego.
Serei capaz de ver essa beleza?
Até quando estaremos juntos?
Já estivemos separados?