UM PAÍS DIFÍCIL

UM PAÍS DIFÍCIL

Com a maturidade vou me conhecendo cada vez mais e me questiono muito. Por que não gosto dessa linha de raciocínio, por que simpatizo com este comportamento, por que odeio atitudes que considero inadequadas, porque muitas pessoas amam essas mesmas atitudes. Evidentemente existem fortes razões para sermos como somos. O ser humano está sempre em um processo de construção pessoal e, ainda utilizando essa comparação, só assentamos um novo tijolo em nossos valores quando esse se encaixa perfeitamente em nossa ótica. A meu ver, quando não conseguimos adaptar o novo ao que possuímos em nosso interior e reconsiderar conceitos e comportamentos que consideramos serem portos seguros de nossa personalidade, estamos velhos. Mesmo assim, há fatos que não aceitamos e são objeto de nosso repúdio, independente da idade. É nesse aspecto que acredito a experiência ter valor, possuímos um grande conjunto de conceitos formado ao longo dos anos que nos faz concordar ou não com fatos, idéias e pessoas. É nosso senso ou juízo, o sentido relacionado à capacidade de julgar. Ao mesmo tempo em que nos guia e auxilia muito, nosso senso pode nos conduzir a caminhos que nem sempre se compatibilizam com a verdade. Ainda corremos o risco de nos apropriar do dito “senso comum”, que é um juízo formado pela sociedade e que nem sempre é produto de uma análise inteligente, por ser muito cômodo. É mais fácil “seguir a manada” do que ter coragem de ser um lobo solitário, mas correto, e se sujeitar a severas críticas ou coisa pior. O maior pecado é a incapacidade de sermos imparciais, independente de nossos interesses conseguirmos ver onde está a realidade. No mundo atual, a luta por sua opinião é desmedida. As correntes de pensamento morrem e matam por sua concordância e para sua integração às hostes delas. E a grande maioria, a manada, acaba por se convencer que esta linha ou aquela é melhor para todos. Somos esmagados em nossas convicções por bombardeios de informações, falsas ou verdadeiras, que de tudo fazem para no cooptar. Então vemos pessoas ilustres, ditas esclarecidas, apoiar pensamentos e ideologias absurdas, sejam de direita ou de esquerda, como se não houvesse nenhuma opção fora dessas duas.

Quando uma pessoa se apaixona desesperadamente por outra a ponto de matar ou morrer, ou se apega a um emprego, um time de futebol ou partido político, uma turma ou atitude, a ponto de concluir que não vale a pena viver sem esse objeto de apego, ela se encontra no estado chamado de constrição cognitiva. Hoje, lamentavelmente, a mídia e a propaganda exploram a exaustão essa tendência humana à preguiça mental e condicionam as pessoas a escolher um produto, um político, uma cidade, etc., como a única coisa que lhe fará feliz. E, como uns patinhos, acreditamos nisso. A constrição cognitiva é grande causadora da maioria dos suicídios, homicídios e feminícidios. O indivíduo chega a conclusão que terminar com uma vida é a única atitude que resolve a situação em que se encontra. Em minha opinião, sofremos pequenas mortes, diferentes da morte física. Morremos quando perdemos um ente querido, mas sabemos que a vida é assim. Morremos quando saímos de um emprego, mas acreditamos conseguir outro. Tudo isso pode ocorrer em qualquer escala, individual ou coletiva.

Hoje, no Brasil, temos a sensação de estarmos a beira de abismos, seja de direita, seja de esquerda, o que considero uma ingenuidade. Acima das ideologias políticas estão os grandes interesses financeiros e materiais de enormes grupos e famílias que usam o “ismos” como cortina de fumaça e isca para buscar nossa adesão. Santa inocência, Batman.

Soltamos, na última eleição um elefante na grande cristaleira recheada de interesses espúrios, chamada Brasil. O animal está mexendo com louças e cristais há muito severamente conservados. Pelo jeito, cada grupo que sempre se sentiu dona de parte do conteúdo esperneia, fazendo de tudo para remover o barulhento paquiderme. È um caso de constrição cognitiva. Torço para que se quebrem as peças ilegalmente colocadas na cristaleira e também para que o animal não destrua o precioso móvel.

Paulo Miorim 20/08/2021

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 22/08/2021
Reeditado em 23/08/2021
Código do texto: T7325995
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