CASO LÁZARO: DEMOCRACIA AMEAÇADA

Diálogo com Ayala Gurgel

Ayala:

Minha pobre opinião sobre a Operação Lázaro:

Foram 20 dias de intenso treinamento da PM, em campo aberto, que mostrou ser possível seu aparelhamento para atuar de forma unificada, em situação de crise, sob comando único.

Esse é o ingrediente que faltava para a PM ser força motriz de um golpe político. Faltava. O que era anunciado como hipótese, mas não havia condições concretas para ser testada, agora foi provado.

O gosto fica, a experiência será analisada pelos altos comandos e eles sabem o que fazer, quais caminhos podem seguir. Lembrem-se que as verdadeiras forças armadas deste país são as PMs (estão em maior número, tão bem armadas e mais bem treinadas para combate urbano) e também um alto risco para a democracia.

Qualquer um que viveu, lembra que foi a PM quem sustentou a intentona militar de 1964, dando o verdadeiro golpe.

Eu temo o que aconteceu, e isso não tem nada a ver com Lázaro, mas com o que não está sendo dito: essa operação foi um teste.

Desejo que esteja errado.

Ayala Gurgel

Professor (UFERSA) e mestre (UFPB) em filosofia

Doutor em políticas públicas (UFMA)

Doutorando em filosofia (UFC)

Autor de várias obras acadêmicas nas áreas de filosofia e sociologia.

Escritor romancista, ficcionista e contista (autor do consagrado ¨O Livro de Caim¨).

COMENTÁRIO RESPOSTA:

Também concordo... parece que ficou bem claro o objetivo, senão, por que fazer uma espetacularização numa situação que não é muito incomum nos meios policiais?

E também conforme você afirma, essa hipótese já estava colocada há algum tempo. Alguns jornalistas e comentaristas de peso, goste-se ou não deles, como Marco Villa, Reinaldo Azevedo e o José (do Portal do José) acham que as forças policiais e de segurança já estão dominadas pelo Bolsonaro.

No dia a dia do meu cotidiano de plantões nas emergências, tenho constatado este cenário ao receber para atendimento, bandidos e criminosos feridos por forças policiais.

A greve e insubordinação da PM do Ceará também não deixam dúvidas. Depois dela, outros estados apresentaram algo semelhante, como nas manifestações de rua em Recife, onde ainda ninguém sabe de onde partiu a ordem para reprimi-la com violência.

Aliás, tem sido mais comum as forças de segurança reprimirem manifestações de rua organizadas por setores progressistas e contrários ao Bolsonaro, do que o inverso.

O psicopata terrorista, genocida e mandrião tem se esforçado para ganhar a simpatia dos militares das forças armadas, oferecendo cargos no governo como nunca aconteceu na história do Brasil, nem nas ditaduras dos governos militares, prestigiando até formaturas de soldados e taifeiros, com todo respeito que eles merecem, porém num comportamento inédito para qualquer governante brasileiro que já tenha ficado à frente do país.

Entretanto, nesses ambientes, ¨o buraco é mais embaixo¨, no que pese o fato de alguns militares terem aceitado essa condição humilhante e indigna por puro interesse financeiro e não por patriotismo. A grande maioria dos milicos brasileiros, pelo menos os mais graduados como os oficiais intermediários (capitães), superiores (major, ten coronel, coronel) e oficiais generais (General no exército, Brigadeiro na FAB e Almirante na Marinha) acordaram para a ameaça bolsonarista.

E não se iluda, mesmo estando inferiorizados em número e armamentos, a capacidade de mobilização e organização militar federal é muito superior à das polícias militares. Digo isso sem medo de errar pois convivi grande parte da minha vida nesse meio através do meu pai, oficial da aeronáutica, eu na Marinha do Brasil, meu irmão na Marinha Mercante e três tios paternos na Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Contudo, compartilho com sua preocupação e por que não profecia? Até essa aventura perigosa do Bolsonaro cair em descrédito, talvez muito sangue brasileiro possa correr numa guerra civil.

Vamos torcer para que a tradição brasileira de não beligerância extrema prevaleça e que estejamos, eu e você, errados na nossa análise. Garanto que não vou achar ruim, como não achei ao errar na minha avaliação do Sérgio Moro.

Saudações. Um forte e tríplice abraço.

NOTA: Tenho percebido uma semelhança do governo bolsonaro com o início do fascismo na Itália de 1922, que culminou com a marcha sobre Roma. Ainda bem que o psicopata é ignorante e desconhece a história.

Marco Antônio Abreu Florentino