Palavra parida
Tem palavra que a gente já pariu, só não aguentamos suas cores. As mesmas, ofuscam e calam as palavras já pré-concebidas, ditadas e reverberando em nossa mente.
Palavras, estas últimas, de crenças que nos sustentam em nossos lugares confortáveis, lugares que nos denunciam em nossa hipocrisia, em nossa falta de empatia, em nossa mediocridade. Sustentam nossa face sombria e mascarada de dizer que gosta quando não gosta, apenas para agradar aos ouvidos e não dizer da nossa antipatia. Ou ainda, para usar até a última gota, aquele que nos é de interesse, com um sorriso nos lábios e palavras doces.
Somos esquisitos, estranhos, mal humorados, preconceituosos, trevosos por dentro; vestidos e identificados com uma luz ou personalidade que, hoje, é uma casca fina e deixa escapar a voz rouca saindo das frestas desse tecido puído. Não dá mais para esconder, está a mostra, estamos vendo, é triste sim, mas real. Melhor assumir do que deixar apenas para o outro carregar esse fardo, quando através dos teus dedos em riste, você aponta que ele ou aquele, é que está errado.
Somos feios por dentro e queremos nos esconder diante do silêncio que grita em nossos ouvidos, tudo isso. Está aí a palavra que queremos ver morta ou sufocada dentro do nosso silêncio, dentro de uma postura enigmática de uma pessoa que de magia, só entende o que é escrito nos livros; viver isso, está longe essa maestria.
Queremos abortar a palavra nascida em nossas orelhas, mas ela está lá falando e falando, sempre. E nós, nós cerramos os lábios acreditando no ideal de um silêncio inspirado que nos dite palavras mansas em tempos de loucura. Isso no mínimo seria lindo se fosse só o único a dizer, mas como isso diz de toda uma massa ensandecida, é tosco, louco e pobre. De um pobreza de espírito que não me convence mais.
Prefiro a palavra torta, que denuncia, que revela, que deixa ver a que veio do que bajular com palavras de uma casca rachada e sua nudez escura, sorrateira, pérfida e venenosa, escorrendo pelas frestas.
Estou aqui torcendo pelas palavras lindas retornarem, mas elas se negam e não vejo mais outra travessia a não ser denunciar nossa farta e bem alimentada farsa de querer ser gente quando escondemos nossos rabos por aí, com cara de pessoa evoluída, centrada madura e resolvida.
Kátia de Souza - 27/06/2021
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