Homilia na ordenação presbiteral do Diac. Kleison, 01.05.2021
Homilia na Ordenação Sacerdotal do Diác. Kleison, 01/05/2021
Amados irmãos e irmãs,
Nossa Igreja Diocesana está em festa com a ordenação sacerdotal do Diácono Kleison, mais um operário para essa grande seara diocesana que passa a contar com mais um padre para a santificação do povo de Deus.
Nossa celebração ocorre nesta data tão importante em que fazemos memória de São José Operário. Trata-se de uma data civil, “marcada, muitas vezes, por conflitos e revoltas e reinvindicações. A Santa Igreja, providencialmente, cristianizou esta data, quando na presença de mais de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, as quais gritavam alegremente: “Viva Cristo trabalhador, vivam os trabalhadores, viva o Papa!”, o Papa Pio XII, em 1955, deu aos trabalhadores um protetor e modelo: São José, o operário de Nazaré.
O santíssimo São José, protetor da Igreja Universal, não deixará nenhum trabalhador de fé se esquecer que ao seu lado estão Jesus e Maria e que o trabalho é uma fonte que dignifica o homem como nos ensinou São João Paulo na sua Encíclica Laborem Exercens. São Josemaria Escrivá, o fundador do Opus Dei já havia contribuído de forma incisiva para que tenhamos em conta o trabalho como uma forma de nossa santificação, conferindo-lhe uma visão espiritual que projeta o sentido do serviço humano para além das aparências deste mundo, ou seja, com a atividade laboriosa podemos mergulhar na sobrenaturalidade que Deus deu às nossas vidas. Somos chamados à santidade através do trabalho que realizamos.
“Certamente o texto do Génesis que acabamos de ouvir é dos mais antigos: segundo os especialistas da Bíblia, foi escrito cerca do século IX antes de Cristo. Contém a verdade fundamental da nossa fé, o primeiro artigo do Credo apostólico. A parte do texto, que apresenta a criação do homem, é estupenda na simplicidade e ao mesmo tempo na profundidade. As afirmações que ela encerra correspondem à nossa experiência e ao nosso conhecimento do homem. É claro para todos, sem distinção de ideologia sobre a concepção do mundo, que o homem — embora pertencendo ao mundo visível, à natureza — se diferencia de algum modo da mesma natureza. De fato, o mundo visível existe "para o homem" e o homem "exerce o domínio"; embora seja, em vários modos, "condicionado" pela natureza, ele "a domina". Domina-a, com a força do que ele é, das suas capacidades e faculdades de ordem espiritual, que o distinguem do mundo natural. São exatamente estas faculdades que constituem o homem. Sobre tal ponto o livro do Génesis é extraordinariamente preciso. Definindo o homem "imagem de Deus", evidencia aquilo que faz que o homem seja homem; aquilo que faz que seja um ser distinto de todas as outras criaturas do mundo visível”. O Gênesis relata, assim, com detalhes, a antiga criação divina, sendo o homem a última etapa desse feito divino.
A antiga criação foi corrompida pelo pecado, o Jardim do Éden, criado por Deus para ser o lugar mais aprazível tornou-se, em razão do pecado da desobediência do primeiro casal, Adão e Eva, o jardim da aflição, maculando a obra criada com a peçonha do inimigo de Deus, o demônio. Foi preciso um novo jardim, o Getsêmani, onde o novo Adão, Cristo, o Sumo e Eterno Sacerdote venceria a tentação do mal e, com o suor e sangue ali derramados dava início ao aniquilamento da aflição original que matara a candura na alma da pessoa humana. Do Getsêmani ao Golgota, o Filho de Deus, extirpa o pecado e restitui a nova imagem ao homem e resgata sua semelhança com Deus. Contudo, o homem continua livre e angustiado com o verme da concupiscência que o inclina a todo momento a voltar ao jardim das aflições. Daí a recomendação do Senhor Jesus: “vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26,41).
Vivemos em permanente luta contra nós mesmos. O caminho para o cristão não pode ser outro senão o do Getsêmani ao Golgota, a via cruxis... Na quinta estação da via sacra, quando Jesus é ajudado por Simão de Cireno, cantamos: “No caminho do calvário, um auxílio é necessário, não lhe nega o Cirineu”. Temos necessidade de permanente ajuda no caminho da conversão e da santidade. Por isso Nosso Senhor deixou sua Igreja com seus sacramentos e os sacerdotes para administrar-nos esses divinos mistérios, indispensáveis para nos conduzir à santidade e à salvação.
O padre não é apensa necessário, “mas absolutamente necessário”. O Papa Emérito, Bento XVI, durante o Ano Sacerdotal, tocou sobejamente nos pontos que caracterizam a índole e o perfil do sacerdote católico. Em nossos dias, marcados por tantas confusões teológicas e eclesiológicas, há um impulso ideológico e maldoso para reduzir o ministério sacerdotal apenas a uma função ou a um mero aspecto funcional. Nesta visão vesga que ganhou corpo nos últimos setenta anos, tenta-se a todo custo fazer do padre um mero comunicador ou administrador, militante de ideologia ou ‘ongueiro’, agente de marketing ou de autoajuda ou simplesmente um coach, enfim, um agente da palavra humana. O modismo do relativismo teológico e eclesial além de desconsiderar a eficácia da Graça Divina nos sacramentos, desconfigura o papel do ministro sagrado, despojando-o da áurea dos sagrados mistérios.
Nosso povo quer o padre simplesmente padre, realizando os ofícios de Deus como homem do altar, do confessionário e do rosário. O padre não pode fugir ao essencial do seu ministério sem cair no ativismo e na acídia espiritual. Muitos sucumbiram e sucumbem por desprezar o que lhe é próprio. É muito simples ser o padre que agrada a Deus, basta seguir o que nossa Santa Igreja nos ensina acerca do homem do sagrado.
São João Crisostomos nos ensina sobre o padre: “Porque se alguém procurasse considerar o que é um homem ainda envolto na carne e no sangue, ter o poder de se aproximar daquela feliz e imortal natureza, veria então quão grande é a honra que a graça do Espírito Santo concedeu aos sacerdotes. Pois por meio desses se exercem essas coisas e outras também nada inferiores, que dizem respeito à nossa dignidade e a nossa salvação.
A eles que habitam nessa terra e fazem nela sua morada, foi dado o encargo de administrar as coisas celestiais e receberam um poder que Deus não concedeu nem mesmo aos anjos e arcanjos, pois não foram a esses que foi dito: "Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no Céu e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no Céu" (Mt18,18). Os que dominam nesse mundo possuem também o poder de atar, porém somente os corpos; mas a atadura de que falamos, diz respeito à própria alma e penetra os Céus; e as coisas que aqui na terra, o fazem os sacerdotes, Deus as ratifica lá nos Céus confirmando a sentença de seus servos” .
Na esteira do Papa Emérito, “ser "voz" da Palavra não constitui para o sacerdote um mero aspecto funcional. Pelo contrário, pressupõe um substancial "perder-se" em Cristo, participante no seu mistério de morte e de ressurreição com todo o próprio eu: inteligência, liberdade, vontade e oferta do próprio corpo, como sacrifício vivo (cf. Rm 12, 1-2). Somente a participação no sacrifício de Cristo, na sua kénosi, torna autêntico o anúncio! E este é o caminho que deve percorrer com Cristo para chegar a dizer ao Pai, juntamente com Ele: "não se faça o que Eu quero, mas o que tu queres" (Mc 14, 36). Então, o anúncio comporta sempre também o sacrifício pessoal, condição para que o anúncio seja genuíno e eficaz.
“Alter Christus, o sacerdote está profundamente unido ao Verbo do Pai que, encarnando, assumiu a forma de servo, se tornou servo (cf. Fl 2, 5-11). O presbítero é servo de Cristo, no sentido que a sua existência, ontologicamente configurada com Cristo, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive em Cristo, por Cristo e com Cristo no serviço dos homens. Precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero encontra-se radicalmente no serviço dos homens: é ministro da sua salvação, nesta progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no "estar coração a coração" com Ele. Assim, esta é a condição imprescindível de cada anúncio, que exige a participação na oferenda sacramental da Eucaristia e a obediência dócil à Igreja.
Com as lágrimas nos olhos, o Santo Cura d'Ars repetia com frequência: "Como é assustador ser sacerdote!". E acrescentava: "Como é lastimável um sacerdote que celebra a Missa como se fosse um facto ordinário! Como é desventurado um sacerdote sem vida interior!".
Permitam-me dirigir algumas palavras ao ordinando. Caro irmão Diácono Kleison, pela sua ordenação no dia de hoje, te associais ao clero desta Diocese de Formosa, como sacerdote do Deus Altíssimo, para dedicar sem reserva, até sua morte para este mundo, às almas sedentas de eternidade. Procure ser sempre solicito para com seu Bispo e irmãos sacerdotes e diáconos, não deixe de promover a fraternidade sacerdotal como nos indicou o Concílio Vaticano II no Decreto Presbyterorum Ordinis. Há um grande perigo de isolamento no clero em nossos tempos. O padre não pode criar seu mundo próprio, de forma individualista, relegando a comunhão e o cuidado com seus próprios irmãos de presbitério. Mesmo que seja tão difícil a fraterna convivência e interação no clero, procure não recuar a esse imperativo que é tão desejado por Nosso Senhor: “... que todos sejam um” (Jo. 17, 14).
Recorde-se sempre que tais dificuldades tem um endereço, o orgulho que vem do jardim das aflições onde o demônio semeou no coração da humanidade a cizânia do obscurantismo e da divisão. O padre é humano, vem dessa humanidade ferida, machucada e dividida pela ação do inimigo da Obra de Cristo. Reze sempre pelos seus irmãos sacerdote e pelos bispos que irá ter ao longo de sua vida no exercício do seu ministério. Seja o sacerdote da paciência, da perseverança, não despreze a oração e tampouco a piedade na celebração dos sacramentos e viva com amor e ternura seu estado celibarário. Promova as vocações e seja para os vocacionados e seminaristas o bom exemplo de padre pobre, casto e obediente. Aos membros do clero peço que acolham o novo sacerdote com estima e paciência.
O Papa Francisco, falando aos formadores em Roma, no dia 15 de novembro de 2015 nos ofereceu belos pensamentos sobre a pessoa do padre:
“Um padre jamais pode perder suas raízes para não esquecer onde Cristo o chamou, e os formadores não podem esquecer que cada padre tem uma história pessoal que deve ser considerada na hora da formação”. “Não é normal que um padre seja frequentemente triste, nervoso ou duro de caráter; não está bem e não faz bem, nem ao padre, nem a seu povo. Nós, sacerdotes, somos apóstolos da alegria, anunciamos o Evangelho, a ‘boa nova”.
“Nós sacerdotes não caímos do céu, mas somos chamados por Deus, que nos tira “do meio dos homens”, para nos constituir “em favor dos homens”. “Aí está um ponto fundamental da vida e do ministério dos presbíteros. Respondendo à vocação de Deus, se tornam padres para servir aos irmãos e irmãs”, recordou o Papa, antes de concluir: “Torna-se sacerdote para estar no meio do povo. O bem que os padres podem fazer nasce, sobretudo, da sua proximidade e de um tenro amor pelas pessoas. Não são filantropos ou funcionários, mas pais e irmãos”.
Que a Santíssima Virgem, A Imaculada Conceição, nossa Excelsa Padroeira, e seu Castíssimo Esposo São José, interceda pelo Diácono Kleison para que seja um santo sacerdote, por todos os sacerdotes, diáconos religiosos e pro todo o Povo de Deus para que sejamos agentes da fé, da esperança e do amor e pelo fim da peste, da fome e da guerra, amém!