SÍNDROME DO JOVEM EMOCIONÁVEL

Algo tem me incomodado bastante ultimamente. Na verdade, muitas coisas, mas uma delas sem dúvida é o problema do jovem emocionado. Eu nasci nessa geração, sou de 2002, e de fato não vivi as outras gerações para saber sobre seus erros e acertos, não conheci nenhuma além da minha própria, mas os mais velhos sempre reclamam muito que essa geração é mimada e chorona. Eu, acima de tudo, não diria em primeiro lugar que ela é mimada e chorona, eu ressaltaria a superficialidade gritante que ela possui. Me sinto, como humana, presa por uma hipocrisia sufocante e que é, cada dia que passa, esfregada cada vez mais forte nas nossas caras, ao ponto de rasgá-las, mas por algum motivo nós não damos atenção o suficiente para elas, e quando fazemos, fazemos de uma forma tão repetitiva e entediante (a famosa militância), que as pessoas que são contra essa militância e protesto apenas ficam cada vez mais contra. Um exemplo de hipocrisia da sociedade atual é a moda. Todos nós devemos nos amar, amar nossos corpos independente de como sejam, como essa geração nos lembra sempre. A moda é uma grande barreira para esse amor. Existem coisas que não saem de moda, como um corpo que é, sem generalizar, "cobiçado por todos os homens", como os pornôs e hentais costumam mostrar: uma mulher de barriga lisa, com grandes coxas e peitos, e existem coisas que são moda temporariamente, como os famosos desafios estúpidos feitos por jovens. É imperioso pensar que muita gente consegue amar seu corpo em uma época em que a beleza exterior e a moda são tão superestimadas e desejadas, muitas revistas e sites que te dizem para se amar e que você é perfeita em algum momento jogam na sua fuça uma receita para perder 30 quilos, ou mesmo os infinitos famosos de corpo padrão criado pela lipoaspiração que pedem pra você se amar, mas estão cheios de plástica, as blogueiras que dizem que bens materiais não importam mas que morrem se não tiverem toneladas de maquiagem ou o que quer que esteja na moda. As pessoas que dizem "não se mate, sua vida importa" e topam qualquer moda de desafio estúpido da internet. Lembro bem do desafio da Baleia Azul, sendo o mais pesado que já vi, mas já vi outras burrices, como tentar engolir canela seca ou enfiar uma camisinha pelo nariz e puxar pela boca. Uma pessoa pede pra você se amar enquanto ela se enche de botox, diz que bens materiais não importam quando não vive sem todos os seus mimos mais caros, fala que sua vida importa quando arrisca a sua própria em desafios idiotas por atenção. Boa parte das pessoas que pedem a quebra dos padrões de beleza são, em algum ponto, (até mesmo por serem jovens) alienados pela moda. Seja por querer se encaixar em um grupo, ser popular ou por outra razão. Tudo bem gostar de moda, mas que a nossa geração foi alienada por ela, isso é inegável. Até mesmo as pessoas que querem amar seus corpos fora de padrão se vêem pressionadas a ter um corpo padrão porque essa sociedade fala que todos os corpos são lindos mas ao mesmo tempo glorifica cada vez mais uma barriga magra com duas coxas e dois peitos.

Outra coisa fortemente glorificada nessa geração: a depravação.

Os jovens costumam achar graça em coisas que atrapalham não apenas a adolescência, mas, possivelmente, o futuro deles. O maior exemplo que eu daria é a bebida. Jovens gostam de beber porque eles acham que isso é descolado e que eles são incríveis quando fazem isso, como se não fosse a coisa mais normal do mundo. Não há nada de novo em jovens se drogando, bebendo e transando loucamente, e tenho certeza de que nas gerações passadas isso também ocorreu, pois os adolescentes tem certa necessidade de se sentirem adultos e independentes. Mas muitas vezes por conta dessa libertinagem desenfreada, hoje nós temos jovens que adoram se achar revoltados, adoram pensar que quebram o sistema, mas não chegam nem perto disso. Difícil pensar que alguém quebra o "sistema" sendo tão fiel à mídia, à moda e aos jornais como os jovens são hoje, achando que todos os que falam palavras doces à eles são seus amigos, obedecendo YouTubers, concordando com opiniões sem pesquisar, falando de política sem compreender por completo. O que mais me intriga é que o jovem que quer se revoltar e lutar, manifestar e, em casos mais extremos, vandalizar, é o mesmo que pede mais amor e diálogo. O jovem que se acha o mais psicopata e sem coração é o primeiro a chorar quando chamado de "bobo". Nenhum deles pega em armas, como dizem que farão, eles apenas choram e pedem por mais amor, sempre que contrariados o mínimo possível. Ultimamente, parece que algo absurdo aconteceu, parece que a depressão e o suicídio viraram modas também. De um lado vemos na geração atual muitos artistas fazendo músicas tristes e deprimentes e do outro lado vemos muitos artistas fazendo músicas empoderadas, principalmente para meninas. A única coisa que consigo ver nesses dois extremos é o reflexo da minha geração: muitas e muitas pessoas que estão apenas tristes ou insatisfeitas e que consideram estar na mais profunda e horrível depressão do mundo, sendo que isso pode ser apenas tédio do seu cotidiano ou qualquer outra coisa comum, como desilusão com o mundo real, coisa que todos sentimos em algum momento. A modinha das roupas escritas "Sad Boys" e outras coisas ligadas à depressão entrou na cabeça de nossa geração e agora, muitos jovens carentes podem pensar que se terem depressão ou fingirem, terão alguma atenção da sociedade, enquanto pessoas com depressão se isolam com medo de serem julgadas porque essa geração passou um ar, não apenas para mim, mas para todos, inevitavelmente, que depressão é algo que não podemos distinguir, como se um desânimo por três dias também fosse depressão. Há de fato o diagnóstico médico, mas atualmente fizeram parecer que a menor tristeza possível pode ser uma depressão, como aconteceu comigo: na minha tenra infância, com sete/oito/nove, eu passei com uma psicóloga porque comecei com ataques de pânico fortes e repentinos, além de ansiedade, lembro da minha vó ter dito que eu tinha depressão também: eu apanhava na escola e tinha medo de frequentá-la. Não sei se minha depressão era diagnosticada ou ela que disse, mas se a psicóloga me diagnosticou com depressão, com toda a certeza foi porque eu lhe dei provas de muito sofrimento interno, o pânico, por exemplo, uma vez minha vó chegou no consultório desesperada porque eu estava ansiosa e eu comecei a chorar na frente da psicóloga porque pensava que tinha perdido o meu tato e que não sentia mais toques nem nada. Se ela me diagnosticou, foi porque apresentei (e muito, naquela época), muita confusão mental e sofrimento. Quando eu tinha 17, me aconselharam passar de novo com uma psicóloga. Nós conversamos por 30 minutos e tudo o que eu disse foi que estava entediada (como de costume) e ela me diagnosticou com depressão sem mais nem menos. Não falei que estava infeliz, falei que estava entediada, quase não conversamos e ela me diagnosticou. Temo que os psicólogos e a geração atual esteja taxando tudo de depressão, quando a "depressão" de muita gente pode apenas ser a frustração de uma sociedade hipócrita, superficial e egoísta, como pode ser tédio (que é o caso da pessoa que foi diagnosticada em 30 minutos de conversa aqui). Nossa geração romantizou tanto a depressão que o que mais vemos são músicas depressivas e páginas de internet falando de depressão com fotos de pulsos cortados. Não estou dizendo que depressão não deve ser levada à sério, estou dizendo que muitos jovens emocionados pensando estar com depressão estão deixando as pessoas que realmente tem depressão com vergonha de buscar apoio. Falando das músicas empoderadas, muitas músicas que ouvi da geração atual falam de mulheres empoderadas, que você é incrível, que você está indo bem, que você é lindo e maravilhoso e tudo o mais, no começo achei todo esse positivismo saudável para nossa sociedade de jovens com tamanha baixa auto-estima, mas esse excesso de otimismo é tóxico e enjoativo, faz muita gente pensar que é o alecrim dourado que nasceu no campo e que não precisa superar suas limitações, nem tentar ser uma pessoa melhor, se estacionando e não evoluindo como pessoa, inventando desculpas e sendo egocêntrico.

Esses dois estilos de música são a mistura de um jovem egocêntrico, mimado e desanimado da vida, que acaba tentando culpar alguém que não seja ele por sua desilusão, se entrega fácil e rápido ao prazer e se arrepende amargamente, não tem objetivos e por isso se sente vazio, acaba se depravando cedo demais e sofre demais por antecipação. Esse é o jovem que temos.

Inclusive há muitas músicas sobre psicopatas, fazendo o jovem que chora quando a mãe diz não pensar que virou repentinamente Gesche Gottfried, Carl Panzram ou qualquer outro psicopata sanguinário, e que isso é engraçado.

Mais engraçado é que os mesmos jovens "psicopáticos" que postam sexo nos status e gore para parecerem adultos e malvados sofrem pelas coisas mais inúteis possíveis, como por serem chamados de "feio" ou "bobo" como se a opinião alheia fosse grande coisa, além de chorar porque alguém tem uma opinião contrária ou não lhe deu atenção, não amaciou seu ego ou não lhe elogiou, confundem obrigação como um favor que fazem aos pais, como ir bem no colégio. Reclamam de fascismo sem saber seu real significado, reclamam de racismo fazendo uma guerra de cores, não se lembram mais das palavras de Martin Luther King: "A escuridão não pode expulsar a escuridão; apenas a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio; só o amor pode fazer isso.", ou "Eu decidi ficar com o amor. O ódio é um fardo muito grande para se carregar."

A grande geração pensadora, que quer mudar o mundo mas a cada três palavras eles interpretam mal duas. Tudo está contra eles menos eles mesmos, pensam que a vida é um filme pornô ou alguma porcaria de série ou filme que mostra adolescentes bebendo, fumando e se drogando, com uma música triste e melancólica de fundo.

Esses jovens "revoltados", que estão cada vez mais presos no padrão de "quebradores de padrões", "quebradores do sistema" e tudo o mais estão se achando cada vez mais especiais e importantes, movidos por "você só vive uma vez" , frase que vem antes do arrependimento, deixando de lado muita coisa importante, inclusive a própria vida por aventuras que podem custar muito caro. Choram por tudo, reclamam pra caramba, pensam apenas no próprio umbigo, ligam cada vez mais para assuntos que não os levarão para lugar nenhum, extremamente revoltados. Eu digo que é a Síndrome do Jovem Emocionável.

O universo conspira apenas contra você, ó, última árvore da humanidade, último ser humano que presta, divindade absoluta.

"Você é apenas uma pessoa normal como todas os outras. Todos nós somos humanos, temos costumes, paranóias é muitas esquisitices e comportamentos excêntricos e individuais e não somos mais especiais por isso, somos apenas humanos, somos esquisitos, você é especial da sua forma, mas não mais especial que os outros e ninguém vai dizer que você é só porque a sua mãe dizia."

Termino minha crítica com uma frase que não envelhece:

"Não é um sinal de saúde estar bem ajustado em uma sociedade profundamente doente." - Jiddu Krishnamurti.

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 18/04/2021
Reeditado em 06/02/2022
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