O Amor e a Amizade
O amor e a amizade que eu quero se despertam, se desprendem do lugar intocado de onde nos vem a poesia, e surge na minha alma como um segredo. O pensamento ordinário, aliás nenhum pensamento, pode pensar com precisão exatamente o segredo desse amor e dessa amizade que eu respeito. Quando muito o pensamento se esforça para criar uma imagem segura e fiel que dê contorno àquilo que acostumou a chamar de amor e amizade em nosso cotidiano. Mas acontece em todo caso uma grande incerteza vinda do limiar entre a tonalidade do amor e da amizade, uma grande incerteza de estar aí: a segura felicidade. O amor e a amizade quando construídos pela dubitabilidade do pensamento estarão subordinados a determinadas idéias, podendo vir a não passar de uma lógica construtiva de um sentido conveniente, tornado, no instante seguinte, inconveniente e infeliz. A fonte humana de incerteza está na vida dúbia do pensamento. No lugar de pensar o amor e a amizade, é preferível se dá a todas as fontes possíveis de percepção, e ter a chance de sentir o despertar próprio dessas virtudes. É preciso esquecer por um instante, que o pensamento pode nos indicar tudo, e acreditar, num seguinte, que há muita realidade atingindo nosso corpo, antes mesmo de se tornar pensamento.