MUNDO VIOLENTO

Ando ouvindo, lendo e mesmo constatando com meus próprios olhos a desastrosa realidade a que chegamos. Refiro-me à violência espalhada nas guerras declaradas, não declaradas, civis, internacionais, também na fome e miséria etc., desse mundo afora. Mas fiquemos por aqui, em nosso país, onde a situação se mostra bastante caótica. Parece-me, ao menos, que a vida perdeu seu valor, banalizaram-na, já a morte, sua oposta, é comum. Estamos vivendo o avesso, onde o anormal parece ser não haver violência. É bizarro falar de amor nesse ambiente. Não revidar é ato de covardia, de fraqueza. Forte é quem “não deixa barato”. E assim somos incitados à violência o tempo todo. As boas notícias não têm destaque nas manchetes, mas também não é bem recebida por nós, não é? Apreciamos o desastre, ainda que inconscientemente.

A violência, que se materializa nas mais diversas formas, como nas repressões, nas privações, no roubo do simples ao mais sofisticado, na discriminação social, racial, sexual, religiosa, étnica, etc., e muitas vezes também no niilismo ou indiferença, agiganta-se assustadoramente, somos todos igualmente passíveis das suas consequências. Tanto o rico quanto o pobre estão sujeitos a ela. O rico é vítima do pobre que, por sua vez, é vítima do rico, e por aí vai. Há uma reciprocidade nesse âmbito; onde deveria imperar o amor ou, ao menos, o respeito mútuo e a sapiência de que cada um tem sua importância no mundo, há o ódio, a aversão ao diferente, justificada, não raras vezes, por sua simples diferença, o seu ponto de vista diverso sobre qualquer assunto.

A verdade constatada é que nos acostumamos ou nos contaminamos tanto com a violência que chegamos a estranhar, e com razão, o bom, um ato gentil advindo de uma pessoa desconhecida. Afinal, não somos sempre instruídos a não acreditar em estranhos? A qualquer sinal de bondade do outro desconhecido somos já impelidos a desconfiar dele. Estranhamos um bom atendimento nos recintos públicos, a gentileza nas lojas, nas ruas, praças etc, etc, etc. Por outro lado, a violência já é vista quase sempre como algo puramente normal, faz parte desse mundo.

Quando observamos com mais minúcia, vemos, contudo, que a violência não um fato moderno, desde os primórdios da humanidade ela esteve por aqui. Nas sagradas escrituras, encontra-se o clássico exemplo disso, a narrativa do assassinato de Abel por Caim, seu próprio irmão. Na verdade o que houve com o passar dos anos, segundo observamos, foi uma naturalização dessas atrocidades. Segundo, ainda, as escrituras sagradas, esse mundo jaz no maligno. Então me pergunto: não há solução? O que fazer então? Lutarmos pela paz, pela boa convivência mesmo sabendo que ela jamais será alcançada aqui? Ou abdicarmos logo da ilusão de um mundo melhor e buscarmos tão somente alcançar os céus com toda nossa fé e devoção? Diríamos que a segunda alternativa é mais plausível, embora as duas possam ser feitas ou até se comuniquem, mas aqui encontramos, quase sempre, outro grande problema: o de não concordar com a maneira como o outro busca a salvação de sua alma. Se formos ignorantes nesse quesito, o que pode pressupor fanatismo religioso, está dada a largada para mais um confronto.

Daniel Pereira S
Enviado por Daniel Pereira S em 25/01/2021
Reeditado em 07/02/2021
Código do texto: T7168582
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