"a Virtude deve avaliar o prazer antes de aceitá-lo" Sêneca
– A dor e o prazer - Certamente dois conselheiros insensatos, caro SÊNECA. O que dizer daqueles que em tudo reverenciam esses conselheiros?
– Digo-lhes, insensatos, PLATÃO.
– E qual é o conselheiro dos sensatos, SÊNECA?
– Certamente a Virtude pautada pela razão.
– O que queres dizer?
– Quero dizer que a Virtude deve ser o filtro que avalia o prazer antes de aceitá-lo. Sabe, PLATÃO. O impulso do prazer tem vida própria e deve ser limitada pela Virtude da moderação. Caso contrário teremos o “feio” profanando o templo da alma.
– Chamas de feio os excessos no geral?
– Tanto os excessos como as carências, que nos levam aos vícios.
– E tu, MUSÔNIO, concordas com as ideias de SÊNECA?
– Penso que se praticares o “feio” em meio ao prazer, verás que o prazer passa, mas o feio permanece.
– Sem dúvida, MUSÔNIO. Modernamente chamamos esse desconforto de ressaca moral. Mas e quanto a dor? Também cabe a razão virtuosa avaliá-la antes de rejeita-la?
– Ninguém deseja a dor em sã consciência, PLATÃO, mas penso que também ha casos em que ela, a dor, deve ser enfrentada.
– Explique melhor, MUSÔNIO.
– Se és um homem vituoso, PLATÃO, e sei bem que és, sabes que a vida lhe impõe certos deveres morais.
– Reconheço isso como verdade.
– Pois se o dever moral lhe impor que sustente uma atitude digna e bela enfrentando a dor ao invés de fugir dela, verás que a dor uma hora passa, mas o Belo permanece.
– Falas com propriedade, MUSÔNIO. A lembrança dos heróis, cujas atitudes dignas ecoam pela eternidade são a prova de que o Belo permanece
E quanto a você SÊNECA. Algo mais acrescentar sobre a dor?
– Aconselho que não procurem a dor, mas que também não fujam dela. Afinal, não há nada que faça sofrer o corpo que não favoreça a alma.