O nascimento da GRATIDÃO.
O desejo de retribuir o que recebeu é um conceito simplório de gratidão, pois também o mesmo conceito pode servir para Vingança.
Gratidão tem a ver com apreciar o ato e reconhecer a benevolência de quem o fez.
A verdadeira gratidão nasce com o preenchimento simultâneo de dois requisitos:
1)Apreciar a obra pelo beneficio proporcionado e
2) Apreciar a virtude benevolente do autor.
Apreciar a obra é reconhecer algum valor naquilo que recebeu, o que significa gostar do presente, sentir prazer na apreciação de algo que recebeu. O segundo aspecto, apreciar o autor, refere-se a estima e apreço pelo autor do feito que nos beneficiou. Apreço este que se reflete em uma prazerosa disposição a retribuir o autor.
Os dois aspectos do apreciar devem estar juntos para nascer o Homem grato e estes aspectos sempre perpassa pela capacidade do beneficiado em reconhecer e compreender algo como benéfico.
Para apreciar tem que adquirir sensibilidade, compreensão. A capacidade de apreciar não é um presente dos deuses que vem no DNA. Deve ser construído e começa pelo querer.
A inteligencia cósmica é muito amorosa, justa e precisa. Por isso, de certa forma, o universo e as pessoas que a gente convive sempre nos dão aquilo que precisamos receber para evoluir, ou seja, provas(desafios, problemas) e, as vezes, soluções. É difícil reconhecer e compreender o “remédio amargo” e por isso é difícil sentir gratidão diante das provas.
Mas a gratidão é dificil também em muitos outros casos. É difícil ter gratidão por alguém que nos vende algo. É difícil ter gratidão por receber de graça aquilo que nem pedimos ou que nem apreciamos. É dificil sentir gratidão por receber aquilo que esperamos como uma obrigação receber. Mas se nos dão o que apreciamos de forma inesperada e sem pedir nada em troca, as chances aumentam de reconhecermos como um presente e sermos gratos.
O Homem que tem gratidão é aquele que sente prazer em ser bom a quem lhe foi bom.
O autor do benefício, aquele que nos beneficia, se nos incute gratidão, nos incute um desejo de ser bom. Num primeiro momento um desejo de ser bom apenas a pessoa que nos beneficiou, mas pode se ampliar para apreciar retribuir a bondade para outros, como uma corrente do bem.
Em outras palavras, Sentir gratidão É SENTIR PRAZER EM SER BOM e DESEJAR SER BOM.
O prazer que aporta para nossa felicidade vem quando saímos apenas do desejo e partimos para a prática bondosa, materializando a gratidão.
A felicidade só se concretiza pela ação. Por isso Aristóteles nos diz que a felicidade é a atividade da alma/psique guiada pela virtude. Ou seja, agir guiado pelo bem.
Se você liberta um animal selvagem de uma armadilha, você deu a ele algo que ele precisava e queria, ou seja, você deu algo util e apreciável, mas isso não indica que este animal vai sentir gratidão por você.
Gratidão é um salto. Não ha garantia que você ira sentir ou incutir gratidão em uma pessoa, não importa o que você faça. Ou seja, não há garantia que você vá incutir “o desejo de ser bom” em uma pessoa.
Mas as chances aumentam se você der a essa pessoa, não só uma coisa que ela precisa, mas também uma coisa que ela quer , principalmente se esse doar seja de forma inesperada.
Se você der só o que ela precisa – um remédio amargo, por exemplo, pode ser que ela não sinta gratidao e sinta ate raiva.
Se você der o que ela precisa e quer, mas que ela espera receber, - exemplo: o morador de rua pede um prato de comida. A pessoa pede um remedio para o médico/ a pessoa liga para o bombeiro apagar um incendio em seu apartamento.. a pessoa pede o cardápio e compra uma comida. Em todos os casos ela recebe o que ela precisa, quer e de alguma forma espera receber. Neste caso, pode ser que ela não sinta gratidao.
Mas se ela precisa de algo, quer esse algo, mas não espera receber isso de você, então as chances de você incutir a gratidão nela é maior. Exemplo: ela precisa e quer apagar o incendio da sua casa, e de forma inesperada, uma vizinho vai la ajudar. A pessoa perde a carteira. Você acha a carteira, descobre o endereço e vai la devolver. Essa boa ação de forma inesperada pode ser a espoleta para a pessoa dar o salto de gratidão, o salto de querer ser bom. Mas nada é certeza.
Eu adoro despertar a gratidão das pessoas. Gosto que elas sintam gratidão por mim. Não porque eu queira ser beneficiado por elas, mas porque, quando eu desperto a gratidão da pessoa, eu estou a despertar nelas o “desejo de ser bom”. Despertar para o “desejo de ser bom” é despertar para a própria divindade dela, uma vez que o coração agradecido comunica-se com Deus.