Sobre a Amizade
O filósofo Cicero indaga:
Como pode ser suportável a vida que não repousa na benevolência mutua de um amigo?
Existe coisa tão doce como ter um amigo com quem falar de forma tão livremente como se fala-se consigo mesmo?
Cicero afirma que o verdadeiro amigo vê o outro como a imagem de si mesmo, e a amizade entre eles os faz mais abundante a prósperos, tornando mais suportável as adversidades.
" a mais bela e a mais sólida das associações é a que a amizade, pela conformidade de inclinação, estabelece entre pessoas de bem."
Para este filósofo, a verdadeira amizade não nasce da carência ou da necessidade. Ele constata que, geralmente, os homens mais abundantes em sabedoria e virtude e que de nada necessitam, pois que todos os bens sabem residir dentro de si mesmo, são, não obstante, os mais excelentes em procurar e conservar a amizade.
Já o filósofo Aristóteles nos lembra que a mera presença de amigos é agradável tanto na prosperidade e quanto na adversidade.
Tanto Cicero, quanto o filósofo Aristóteles concordam que a Verdadeira amizade só pode haver entre homens bons.
Seria então a amizade verdadeiro fruto de um interesse genuíno entre homens bons que cultivam a companhia um do outro?
Em outra acepção, poderíamos pensar que aquele que busca a companhia de Deus e que tem um interesse genuíno por Ele, não por medo do inferno, nem pelo desejo do paraíso, mas pelo bem que Ele representa, é um amigo de Deus. No mesmo contexto, aquele que busca o convívio com o melhor de si mesmo e que se interessa genuinamente por essa sua melhor parte, não por medo de desgraças, nem por desejar benesses, mas pelo que ele é, o divino em si, é de fato amigo da sua Alma.
Sobre essa amizade interior, o filósofo Aristóteles vai nos dizer que o sentimento de amizade parece ter sua origem nos sentimentos que temos por nós mesmos, uma vez que o individuo bom é harmônico consigo mesmo e por isso se harmoniza fora. Para Aristóteles, a amizade extrema assemelha-se ao amor por si mesmo, pois todas as expressões de amizade pelos outros são um prolongamento dessa harmonia interior. Para ele, o amigo é o outro eu.
Em contrapartida, Aristóteles vai dizer que indivíduos maus evitam estar sós, pois nestes momentos relembram muitas contrariedades do passado e antecipam outras. Já o individuo bom é harmônico consigo mesmo inclusive nos momentos de solidão.
Amizade do latim “amicus”, deriva de “amare”, sendo, portanto, um tipo de amor.
No grego é representado pela palavra “philia, traduzido como amor virtuoso desapaixonado.
Para o filósofo Aristóteles, a porta para qualquer amizade é sempre o bom humor e a sociabilidade que resulta em atitudes afáveis e agradáveis. Dai pode surgir tanto a amizade superior, duradoura, como a inferior, efêmera, a depender da intenção.
Aristóteles continua.
Se o interesse for de utilidade material mutua, é uma amizade inferior com base na carência, comum nos homens grosseiros sendo possível, inclusive, entre homens maus.
Se for um interesse pelo prazer que o outro proporciona é também uma amizade inferior com base na carência, comum entre os jovens e de fácil rompimento.
Assim, se a base da amizade é a utilidade ou o prazer, não há nada de estranho no fato de a amizade ser rompida quando os amigos deixam de ser uteis e agradáveis.
Contudo, se a amizade tiver por base o interesse humano genuíno, ou seja, um interesse pelo outro em si, não pelo o que ele pode te oferecer, mas pelo o que ele é, é uma amizade superior, amizade por excelência, possível só entre homens bons, que se gostam pela virtude que possuem e pelo ideal de bem que buscam. Nessa amizade superior, ambos também acabam sendo mutuamente agradáveis e úteis, mas não como busca, mas como consequência.
Como se trata de homens bons, a virtude que existem neles faz prevalecer a gentileza, a cordialidade, a benevolência mútua, a amistosidade e a concórdia. Tais características dão a potência de uma amizade que só vai de fato se concretizar com o cultivo do convívio, gerando experiência, intimidade, familiaridade. “Há que comer muito sal juntos para se tornarem digno de confiança”, razão porque a amizade plena é mais rara.
Assim, mesmo que sejam bons, se não houver a busca da companhia um do outro, se nada realizam juntos, ainda que haja benevolência mutua, não se formará a amizade plena. Assim, é possível agradar a muitos, sendo benevolente, útil e espirituoso, sem ser necessariamente amigos, pois não é possível ter amigos plenos sem que haja convivência.
Cumpre salientar que a virtude da amistosidade, intimamente ligada com a virtude da amizade, própria do homem bom, é a boa vontade para as coisas devidas e a indisposição para as coisas indevidas.
A Concórdia, também virtude relacionada a amizade, não é consenso de opinião, mas sim quando indivíduos concordam quanto aos seus interesses comuns e adotam as mesmas medidas e resoluções. É a concordância de coração para coração. Ela surge entre indivíduos bons porque estes são concordes tanto consigo mesmos quanto reciprocamente.
No grego também se diz que amizade deriva de “aego”, ou seja, sem ego, sem eu. Assim, amigos verdadeiros abrem mão de seu eus e partilham de uma única alma.
Aristoteles nos mostra que a amizade entre homens bons traz felicidade e nos torna melhores.
A amizade plena, fruto de um convívio entre homens bons, é uma atividade que gera felicidade, primeiro porque é uma atividade da alma guiada pela virtude e, segundo, porque satisfaz uma necessidade social, própria do ser humano. Além disso, é mais nobre beneficiar amigos do que
estranhos e o individuo bom será mais feliz tendo amigos para que possa beneficiá-los.
Para Aristóteles, estamos melhores capacitadas a contemplar nossos semelhantes do que a nos mesmos. E indivíduos bons encontram prazer na contemplação da ação digna de seus amigos. Ademais, a companhia dos bons proporciona uma espécie de treinamento na virtude. Conclui-se que para ser feliz o individuo não dispensa de amigos virtuosos.
Além disso, a amizade entre os bons os tornam melhores, por meio de um aprimoramento recíproco, uma vez que os amigos se amoldam, assimilando os traços mútuos que aprovam e agradam.
Para o filósfo Srim Ram, a fraternidade é o único relacionamento reto, onde todos os homens tornam-se um Homem. Onde o interesse pessoal dar lugar ao interesse humano.
Sêneca cita Átalo - "pensar em amigos que estão vivos e bem é como desfrutar de uma refeição de bolos e mel, a lembrança de amigos que passaram(morreram) dá um prazer que não é sem um toque de amargor, no entanto, quem negará que a´te mesmo essas coisas, que são amargas e contêm um elemento de acidez, servem para despertar o estômago?"
Quanto a isto, Sêneca comenta - " Por minha parte, eu não concordo com ele. Para mim, o pensamento de meus amigos mortos é doce e atraente. Porque eu os tive como se eu os pudesse perder; eu perdi-os como se eu os ainda tivesse."
Fechemos com o Poema do Amigo(Fernando Pessoa)
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar e nem calar fora da hora.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…
O filósofo Cicero indaga:
Como pode ser suportável a vida que não repousa na benevolência mutua de um amigo?
Existe coisa tão doce como ter um amigo com quem falar de forma tão livremente como se fala-se consigo mesmo?
Cicero afirma que o verdadeiro amigo vê o outro como a imagem de si mesmo, e a amizade entre eles os faz mais abundante a prósperos, tornando mais suportável as adversidades.
" a mais bela e a mais sólida das associações é a que a amizade, pela conformidade de inclinação, estabelece entre pessoas de bem."
Para este filósofo, a verdadeira amizade não nasce da carência ou da necessidade. Ele constata que, geralmente, os homens mais abundantes em sabedoria e virtude e que de nada necessitam, pois que todos os bens sabem residir dentro de si mesmo, são, não obstante, os mais excelentes em procurar e conservar a amizade.
Já o filósofo Aristóteles nos lembra que a mera presença de amigos é agradável tanto na prosperidade e quanto na adversidade.
Tanto Cicero, quanto o filósofo Aristóteles concordam que a Verdadeira amizade só pode haver entre homens bons.
Seria então a amizade verdadeiro fruto de um interesse genuíno entre homens bons que cultivam a companhia um do outro?
Em outra acepção, poderíamos pensar que aquele que busca a companhia de Deus e que tem um interesse genuíno por Ele, não por medo do inferno, nem pelo desejo do paraíso, mas pelo bem que Ele representa, é um amigo de Deus. No mesmo contexto, aquele que busca o convívio com o melhor de si mesmo e que se interessa genuinamente por essa sua melhor parte, não por medo de desgraças, nem por desejar benesses, mas pelo que ele é, o divino em si, é de fato amigo da sua Alma.
Sobre essa amizade interior, o filósofo Aristóteles vai nos dizer que o sentimento de amizade parece ter sua origem nos sentimentos que temos por nós mesmos, uma vez que o individuo bom é harmônico consigo mesmo e por isso se harmoniza fora. Para Aristóteles, a amizade extrema assemelha-se ao amor por si mesmo, pois todas as expressões de amizade pelos outros são um prolongamento dessa harmonia interior. Para ele, o amigo é o outro eu.
Em contrapartida, Aristóteles vai dizer que indivíduos maus evitam estar sós, pois nestes momentos relembram muitas contrariedades do passado e antecipam outras. Já o individuo bom é harmônico consigo mesmo inclusive nos momentos de solidão.
Amizade do latim “amicus”, deriva de “amare”, sendo, portanto, um tipo de amor.
No grego é representado pela palavra “philia, traduzido como amor virtuoso desapaixonado.
Para o filósofo Aristóteles, a porta para qualquer amizade é sempre o bom humor e a sociabilidade que resulta em atitudes afáveis e agradáveis. Dai pode surgir tanto a amizade superior, duradoura, como a inferior, efêmera, a depender da intenção.
Aristóteles continua.
Se o interesse for de utilidade material mutua, é uma amizade inferior com base na carência, comum nos homens grosseiros sendo possível, inclusive, entre homens maus.
Se for um interesse pelo prazer que o outro proporciona é também uma amizade inferior com base na carência, comum entre os jovens e de fácil rompimento.
Assim, se a base da amizade é a utilidade ou o prazer, não há nada de estranho no fato de a amizade ser rompida quando os amigos deixam de ser uteis e agradáveis.
Contudo, se a amizade tiver por base o interesse humano genuíno, ou seja, um interesse pelo outro em si, não pelo o que ele pode te oferecer, mas pelo o que ele é, é uma amizade superior, amizade por excelência, possível só entre homens bons, que se gostam pela virtude que possuem e pelo ideal de bem que buscam. Nessa amizade superior, ambos também acabam sendo mutuamente agradáveis e úteis, mas não como busca, mas como consequência.
Como se trata de homens bons, a virtude que existem neles faz prevalecer a gentileza, a cordialidade, a benevolência mútua, a amistosidade e a concórdia. Tais características dão a potência de uma amizade que só vai de fato se concretizar com o cultivo do convívio, gerando experiência, intimidade, familiaridade. “Há que comer muito sal juntos para se tornarem digno de confiança”, razão porque a amizade plena é mais rara.
Assim, mesmo que sejam bons, se não houver a busca da companhia um do outro, se nada realizam juntos, ainda que haja benevolência mutua, não se formará a amizade plena. Assim, é possível agradar a muitos, sendo benevolente, útil e espirituoso, sem ser necessariamente amigos, pois não é possível ter amigos plenos sem que haja convivência.
Cumpre salientar que a virtude da amistosidade, intimamente ligada com a virtude da amizade, própria do homem bom, é a boa vontade para as coisas devidas e a indisposição para as coisas indevidas.
A Concórdia, também virtude relacionada a amizade, não é consenso de opinião, mas sim quando indivíduos concordam quanto aos seus interesses comuns e adotam as mesmas medidas e resoluções. É a concordância de coração para coração. Ela surge entre indivíduos bons porque estes são concordes tanto consigo mesmos quanto reciprocamente.
No grego também se diz que amizade deriva de “aego”, ou seja, sem ego, sem eu. Assim, amigos verdadeiros abrem mão de seu eus e partilham de uma única alma.
Aristoteles nos mostra que a amizade entre homens bons traz felicidade e nos torna melhores.
A amizade plena, fruto de um convívio entre homens bons, é uma atividade que gera felicidade, primeiro porque é uma atividade da alma guiada pela virtude e, segundo, porque satisfaz uma necessidade social, própria do ser humano. Além disso, é mais nobre beneficiar amigos do que
estranhos e o individuo bom será mais feliz tendo amigos para que possa beneficiá-los.
Para Aristóteles, estamos melhores capacitadas a contemplar nossos semelhantes do que a nos mesmos. E indivíduos bons encontram prazer na contemplação da ação digna de seus amigos. Ademais, a companhia dos bons proporciona uma espécie de treinamento na virtude. Conclui-se que para ser feliz o individuo não dispensa de amigos virtuosos.
Além disso, a amizade entre os bons os tornam melhores, por meio de um aprimoramento recíproco, uma vez que os amigos se amoldam, assimilando os traços mútuos que aprovam e agradam.
Para o filósfo Srim Ram, a fraternidade é o único relacionamento reto, onde todos os homens tornam-se um Homem. Onde o interesse pessoal dar lugar ao interesse humano.
Sêneca cita Átalo - "pensar em amigos que estão vivos e bem é como desfrutar de uma refeição de bolos e mel, a lembrança de amigos que passaram(morreram) dá um prazer que não é sem um toque de amargor, no entanto, quem negará que a´te mesmo essas coisas, que são amargas e contêm um elemento de acidez, servem para despertar o estômago?"
Quanto a isto, Sêneca comenta - " Por minha parte, eu não concordo com ele. Para mim, o pensamento de meus amigos mortos é doce e atraente. Porque eu os tive como se eu os pudesse perder; eu perdi-os como se eu os ainda tivesse."
Fechemos com o Poema do Amigo(Fernando Pessoa)
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar e nem calar fora da hora.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…