COMPORTAMENTO (De onde vem?) - Opinião
Como moldamos, formatamos ou constituímos nosso comportamento?
Pensar ou refletir sobre qualquer categoria torna-se problemático na medida em que a sociedade não se baseia mais em princípios orientadores (valores normativos) de qualquer espécie.
Interpretar, refletir, criar conhecimento acerca de qualquer temática ou face do ser humano é vulnerável antes mesmo de ser produzido. As várias visões e diversas perspectivas com que se permite inferir sobre fatos – universalmente aceitas –, aliada à individualização de todas elas, decretam a fragmentação de uma percepção coerente sobre qualquer conhecimento. Nunca a ‘dialética’ foi tão manifesta e tão nefasta. Para pensar além, temos alternativa à diversidade interpretativa sem esbarrar em controles inaceitáveis?
Isso é notório no cenário atual que vivemos diante da COVID-19. Há tantas versões sobre a ‘compreensão’ da pandemia e suas necessárias atitudes para voltar a uma ‘normalidade’ que, discursivamente, estamos em guerra. Ninguém se entende. E cada grupo arma-se, cada vez mais, para defender suas ideias. Grupos de olhares diferentes não sentam à mesma mesa para dialogar e construir consensos. Sem consensos e a almejada validação de dissensos, a guerra continua... matando.
Este fato decorre, claramente, da permissividade colada ao discurso. Ou seja, o discurso e suas normas deixaram de ser valorativas (universais) para se tornar utilitárias (individuais). Cada um e cada uma constitui-se porta-voz de uma interpretação sobre qualquer fato.
Não se trata de pensar que a sociedade deva ser regida por pensamento único, mas de estabelecer quais referenciais devem guiar consensos e dissensões. Isto precisa ser discutido coletivamente, construído e constituído como princípio (ou valor) universal, mesmo que haja discordâncias internas. Validar tudo e todos acelera o processo de precarização da socialidade civilizada. Voltaremos à barbárie.
Voltando à pergunta inicial. O que acontece com o discurso está acontecendo igualmente ao comportamento humano. Ninguém ousa afirmar resposta à questão: qual comportamento adequado?
E não se trata de dizer que o comportamento é – e deve ser – contextualizado. Basta ir a uma igreja, a uma festa, olhar dentro de uma mesma família, comunidade, grupo... – onde quiser – e será difícil formular uma ideia do que seja o padrão comportamental em cada contexto.
Ampliando este aspecto para a sociedade a ‘torre de babel’ evidencia-se com mais detalhes. Estamos chegando ao ponto de que (quase) tudo se permite em termos de comportamento.
A resposta à questão é simples e complexa. Quem estabelece como constituímos o comportamento nos humanos é a cultura ou a sociedade que é regida por uma cultura.
A dimensão social responsável por esta construção é a Educação. Maiúscula, porque não pode ser relegada somente a uma instituição (família ou escola). Deve ser responsabilidade de toda a comunidade, de toda sociedade. Como era nas culturas tradicionais clássicas. Como continua sendo nas civilizações ainda afastadas das civilizações brancas.
Uma questão pode impor-se: então seria solução voltar ao passado? Não.
Na opinião que ora formulo (pensamento digitado), provoco-me acerca da dificuldade e desafio que consiste em lidar com o comportamento das pessoas em todas as esferas: crianças, adultos; família, sociedade, escola; formalidade e informalidade. As exceções que se encontram no interior de cada cenário constituem-se ‘anomalias’ no discurso coletivo. O certo é errado. A mentira compõe a verdade. Alertar alguém para o correto agir é ‘fazer’ um inimigo vitalício. São comportamentos consequentes da falta de referenciais positivos, culturalmente acordados.
O que se pode ou deve-se fazer? Construir algo que não está dado implica em pensar e saber o que desejamos para a obra final.
Apoiando-me na concepção de que ninguém nasce com comportamento social, deve-se partir do fato de que todo tipo de comportamento precisa ser ensinado. Aprendemos como nos comportar. Está no modelo de Educação de uma sociedade a resposta para o que permitimos como comportamento adequado e/ou aceitável.
Neste sentido, penso, que a permissividade colada ao discurso e ao comportamento precisa ser repensada por todos. Não há sociedade Humana sem Educação para valores e princípios universais. Se a ideia de cultura contextualizada é verdadeira e regra, estamos desconstruindo uma sociedade Humana para dar lugar a comunidades de humanos dentro de uma sociedade maior considerada, retoricamente, de humana. Onde tudo pode ser permitido.
Minha opinião (e resposta) não é afirmativa, mas provocativa.
Educar comportamentos é diferente de ensinar conteúdos e saberes. Envolve atitudes.
Assim, não sei (penso que ninguém sabe) o que seria – exatamente – educar para comportamentos adequados (ideal) para o futuro de uma criança. Mas, sei (creio que todos sabem) quais comportamentos são inadequados em qualquer contexto que estamos – com ou sem crianças.
Talvez uma ideia seja considerar o contexto presente como ponte para um futuro mais humano e educar nossas crianças para valores, atitudes, princípios e ideais que signifiquem comportamentos que têm no respeito ao outro a base e referência para qualquer contexto.
Educar para a vida como relação. Não para uma sociedade de consumo que tem a vida como mercadoria.