Brasil de Quem?

Em um mundo onde as vidas humanas não mais importam, te pergunto:

O que importa?

Se a vida se tornou irrelevante aos olhos dos que creem em uma supremacia, te pergunto:

Como viver com dignidade sendo um brasileiro?

em uma nação que idolatra aos que ditam os padrões e em seus discursos fortalecem os princípios de colonização, escravidão, estrutura social vertical; em uma nação que bate continência, e tão logo se torna motivo de vergonha para aqueles que insiste em servir de capacho; em uma nação que vê na privatização a solução para resolver a crise economica; em uma nação que ocupa a posição de 7º pais mais desigual do mundo, que tem uma das piores educações do mundo, entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática (PISA 2018), que está entre os 7º país mais intolerantes do mundo quanto a cor, e segue a lista.

como viver com dignidade sendo um negro?

Em uma nação onde o negro tem 2,7 mais chance de ser assassinado (entre 2012 e 2017 foram 255 mil mortes de negros por assassinato); em uma nação de negros, índios e pardos, submersa em um racismo estrutural e escravizados por seus governantes; em uma nação que busca expurgar escritores, jornalistas, influenciadores, ativistas, por irem contra uma política de branqueamento nacional; uma nação cuja policia é capitão do mato, e caça como cão raivoso, o negro favelado, que voltando do trabalho ou da escola, ou apenas na pratica de lazer e alvejado pelas costas; uma nação onde Marieles, João Pedro e muitas outras vidas negras são interrompidas; em uma nação que diz que no Brasil não existe racismo e sim vitimismo.

Então te pergunto:

Quantos brancos no Brasil são assassinados por ano?

Quantos brancos no Brasilsão mortos em ações da polícia?

Quantos brancos no Brasil estão presos – em prisões populares, com 50 detentos em cela para 10?

Quantos brancos no Brasil ocupam cargos recebendo menos de um salário mínimo?

Qual é o índice de analfabetismo entre os brancos no Brasil.

Antes de responder, procure saber o que é ser negro e o que é ser branco, por que tem muito preto se achando branco por morar em apartamento com varanda gourmet (não se faça de Sergio Camargo).

Como viver com dignidade sendo uma mulher?

em uma nação que se diz igualitária, mas com altos índices de feminicidio, onde os autores nunca foram sequer presos; em uma nação que objetiva a mulher, que a comercializa no exterior, tendo políticos como articuladores dessas transações; em uma nação machista que chama de puta a mulher que tem uma camisinha na bolsa, que não assumi paternidade, que justifica o estupro porque "ela estava usando roupas impróprias"; em uma nação que se você for mulher negra e/ou periférica e/ou LGBTAQIA+, será jogada nas vielas da inexistência.

Como viver com dignidade, respeito e liberdade sendo um LGBTQIA+?

em uma nação heteronormativa, governada por políticos homofóbicos e retrógados; em uma nação excludente, que viola direitos por intolerância e ódio, que veda pautas que protegem vidas; em uma nação que assegura ao hetero o direto de agredir verbalmente, fisicamente e ate matar um LGBTAQIA+, e sair impune; em uma nação que deveria ser laica, mas viola direitos humanos embasa em conceito religiosos; em uma nação que marginaliza o homossexual, que vê em seu sangue doença, e o impede de doar vida (quantas vidas foram perdidas por que o governo brasileiro impedia os homossexuais de doarem sangue?); em uma nação que tenta pela lei impedir a união, impedir a adoção, impedir que pessoas constituam família, por não se enquadrarem nos conceitos de "família tradicional" (são inúmeras as atrocidades cometidas todos os dias por essa família tradicional).

Como viver dignamente sendo um trabalhador?

em uma nação onde 10% de sua população detém 49,9% da renda bruta do país; em uma nação que hoje é a 7ª mais desigual do mundo, perdendo apenas para países africanos; em uma nação onde em plena crise não tem economia para manter empregos, mas tem para aprovar propostas para aumentar salário de parlamentares; em uma nação onde cargos políticos recebem remuneração exorbitante, sendo o epicentro da corrupção do país; em uma nação de governo incapaz, que propõe reformas, fazendo o trabalhador pagar por sua má administração; em uma nação que cobra impostos abusivos do trabalhor, e sugere isenção de impostos para os bancos, para as multinacionais; uma nação onde para o trabalhador negro e/ou mulher e/ou LGBTQIA+, o mercado se torna de subsistência, pois existe uma estrutura de desigualdade, e o desgoverno atua com o objetivo de manter cada um em sua classe, em seu distrito.

Como evoluir dignamente sendo um estudante?

em uma nação que ver nas universidades um antro de balburdias; uma nação que não investe na formação de pensadores, antes exila a filosofia, a sociologia e manipula a historia; uma nação cuja educação se tornou artigo de luxo, sendo elitizada com o objetivo de manter cada um em sua classe, em seu distrito; uma nação que tira recursos da educação, que tenta impedir que negros, indios e pobres tenham acesso ao ensino superior; uma nação que ataca um de seus pilares, que é base de desemvolvimento científico; uma nação que destroi futuros, sonhos.

BRASIL DE QUEM?

Diante de uma iminente ditadura nazista, como resistir a essa polarização embriagada por ódio? Onde posso falar e ser ouvido, visto que os pilares da democracia estão ruindo, se tornando rachaduras nas paredes do executivo, do legislativo e do judiciário? A quem recorrer em uma massa que só quer falar, vomitar, gritar palavras de ordem em meio a uma completa desordem?

O negro machista espanca a mulher, estupra a filha e mata o filho por ele ser gay.

“Não fico com negro” diz o gay da zona sul, que acha um absurdo mulheres ficarem seminuas na praia, mas transa em publico no carnaval, na Parada do “orgulho” LGBTQIA+, nas baladas.

A mulher critica o movimento feminista, mas considera uma violação dos seus diretos quando sai de roupa justa e é assediada.

Onde Sul se tornou Norte, porque minha bússula esta enlouquecida com essas falas que não condizem com as condutas?

O negro, a mulher, o LGBTAIA+, o trabalhador, o periférico briga por dignidade, por respeito, por igualdade, mas coloca no poder um governo que vai garantir mudanças para o Brasil dos brancos, dos empresários, dos políticos.

Brasil por quem?

Brasil De quem?

Brasil Para Quem?

RL Perco
Enviado por RL Perco em 20/06/2020
Reeditado em 20/06/2020
Código do texto: T6982943
Classificação de conteúdo: seguro