– Que alegria é essa, meu senhor. Não vejo nenhuma razão para tamanha felicidade. Estamos cavalgando ao léu, com sol escaldante e minha barriga não para de roncar.
– Essa é a alegria dos Justos, Sancho. Ao cavalgar de posse dos deveres cumpridos, os raios de sol mais parecem honrosas saudações de reconhecimento e consagração do cavaleiro andante. Para mim, que cavalgo com a cabeça naturalmente erguida de quem respira um ideal, o mormaço se assemelha a um grande abraço fraternal que o velho irmão vento oferta ao fatigado guerreiro. Estou feliz, Sancho, não pelos prazeres do corpo que a tempo não me visitam, mas por ter meus gostos dominados e uma razão altiva, sempre pronta a galgar novos patamares. Não dê demasiada expressão as suas preferencias, Sancho. Elas representam a sua personalidade mutável e não o seu Eu real.
– Estais a falar de uma vida boa conduzida pela virtude, mestre, ainda que na escassez da matéria. Para mim isto é estranho. Quando penso em vida boa, lembro do ditado: “tudo que é bom é ilegal, é imoral ou engorda.”
– Ora, meu escudeiro. Você e seus ditados. Pois saiba que no homem moral, os gostos são como agregados que se curvam e seguem a razão superior, e não o contrário. Ajustar a razão aos gostos e quebrar princípios para atender suas preferências são debilidades próprias do homem fraco.
– Mas eu sou muito burro, mestre. Como fazer para galgar novos patamares com a razão.
– É pela investigação dos assuntos divinos, caro Sancho, que você começa a colocar a razão em patamares mais alto do que os gostos. Mas isso não é suficiente, pois ao menor descuido a razão regride e vai deitar-se de novo com os excessos do corpo, com suas justificativas e subterfúgios. Mas se trabalhares também com o Serviço e a Devoção, estes serão como grampos de segurança fixados nas fendas da montanha. São esses grampos que garantem a segurança do escalador em não regredir. Com o serviço desinteressado e a devoção, Sancho, fixará a razão nas fendas da evolução, garantindo assim o território conquistado sem ser arrastado pelos desejos. Quanto a investigação, esta servirá como picareta para alcançar novos degraus rumo a sabedoria.
– Mas mestre. Do jeito que disseste, o escalador de montanhas com sua picareta, vai subindo e deixando para trás os seus gostos e prazeres. Que felicidade há nisso?
– A felicidade dos justos, meu caro. Essa que carrego comigo, independente das circunstancias.Com o tempo, quando tiveres conquistado certa altura com a razão, veras que suas preferências se elevarão também. Chamamos isso de apuração do gosto. Se tiveres paciência e constância o refinamento ganhara tamanha estatura que alcança a razão e passaras a gostar apenas do que se deve e a fazer sempre o que se gosta, sem cair em imoralidades ou no aumento da gordura visceral.
– Quem dera eu tivesse essa convicção, mestre – exclamou Pança, enquanto alisava sua pança, interessado agora apenas na próxima refeição.
– Essa é a alegria dos Justos, Sancho. Ao cavalgar de posse dos deveres cumpridos, os raios de sol mais parecem honrosas saudações de reconhecimento e consagração do cavaleiro andante. Para mim, que cavalgo com a cabeça naturalmente erguida de quem respira um ideal, o mormaço se assemelha a um grande abraço fraternal que o velho irmão vento oferta ao fatigado guerreiro. Estou feliz, Sancho, não pelos prazeres do corpo que a tempo não me visitam, mas por ter meus gostos dominados e uma razão altiva, sempre pronta a galgar novos patamares. Não dê demasiada expressão as suas preferencias, Sancho. Elas representam a sua personalidade mutável e não o seu Eu real.
– Estais a falar de uma vida boa conduzida pela virtude, mestre, ainda que na escassez da matéria. Para mim isto é estranho. Quando penso em vida boa, lembro do ditado: “tudo que é bom é ilegal, é imoral ou engorda.”
– Ora, meu escudeiro. Você e seus ditados. Pois saiba que no homem moral, os gostos são como agregados que se curvam e seguem a razão superior, e não o contrário. Ajustar a razão aos gostos e quebrar princípios para atender suas preferências são debilidades próprias do homem fraco.
– Mas eu sou muito burro, mestre. Como fazer para galgar novos patamares com a razão.
– É pela investigação dos assuntos divinos, caro Sancho, que você começa a colocar a razão em patamares mais alto do que os gostos. Mas isso não é suficiente, pois ao menor descuido a razão regride e vai deitar-se de novo com os excessos do corpo, com suas justificativas e subterfúgios. Mas se trabalhares também com o Serviço e a Devoção, estes serão como grampos de segurança fixados nas fendas da montanha. São esses grampos que garantem a segurança do escalador em não regredir. Com o serviço desinteressado e a devoção, Sancho, fixará a razão nas fendas da evolução, garantindo assim o território conquistado sem ser arrastado pelos desejos. Quanto a investigação, esta servirá como picareta para alcançar novos degraus rumo a sabedoria.
– Mas mestre. Do jeito que disseste, o escalador de montanhas com sua picareta, vai subindo e deixando para trás os seus gostos e prazeres. Que felicidade há nisso?
– A felicidade dos justos, meu caro. Essa que carrego comigo, independente das circunstancias.Com o tempo, quando tiveres conquistado certa altura com a razão, veras que suas preferências se elevarão também. Chamamos isso de apuração do gosto. Se tiveres paciência e constância o refinamento ganhara tamanha estatura que alcança a razão e passaras a gostar apenas do que se deve e a fazer sempre o que se gosta, sem cair em imoralidades ou no aumento da gordura visceral.
– Quem dera eu tivesse essa convicção, mestre – exclamou Pança, enquanto alisava sua pança, interessado agora apenas na próxima refeição.