democracia e vertigens

os problemas da democracia são a ela inerentes. é um sistema. um jogo tal como qualquer outro, possui um conjunto de regras abstratas para supor e determinar os resultados de possíveis movimentos. de variáveis.

muda que, no contrário do xadrez, as peças não são “manipuladas”, elas são induzidas a se mover. se dá, em tese, quando há um alinhamento entre o condutor da peça e ela própria. uma ressonância.

deixando a Grécia para trás – onde a mais de 4.000 anos os homens supostamente mais inteligentes da terra discutiam sobre as implicações lógicas de sistemas como a democracia e suas falhas – de onde obtivemos a clara percepção de que a democracia e a tirania estariam a algumas moedas de distância (pois ganhavam os debates que são ESSENCIAIS ao jogo democrático, quem podia pagar por um bom professor de retórica, ou seja os ricos), para focar nos problemas do brasil:

1. sabemos que a democracia não é perfeita, mas dela extraímos alguns suspiros aliviados e algumas boas noites de sono, sabendo que não seriamos presos ou mortos por discordarmos de algumas ideias mesmo elas sendo tão facilmente aceitas pela maioria.

2. Sem as regras do jogo democrático estaríamos entregues descaradamente aos interesses da oligarquia. milhões de vidas seriam sabotadas, aniquiladas, por uma ordem eugenista. semelhante ao que acontece agora com o descaso do presidente ante ao coronavirus.

3. Mesmo sabendo do problema 1 e 2, nada fazemos de verdade. Não temos o engajamento ativo daquela porcentagem dos brasileiros que compactuaram com a ascensão do Bolsonaro ao poder. e nem dos que desde sempre estavam alertas aos perigos de assumir como líder um sujeito aspirante ao totalitarismo. Candidatos autoritários viram lideres autoritários. E quando eles usam como mote de campanha eleitoral arminhas nas mãos: arminhas...

4. Os que ainda o defendem, dizem ter acreditado que ele teria alguma solução para nossos problemas, que ele promoveria uma mudança. Mas sim, ele a promoveu. Os interesses sombrios por trás das campanhas políticas veiculadas pelas fakenews não precisam mais ser escamoteadas. Absurdos são disparados a torto e a direito, e só ouvimos e passamos mal.

Que tipo de monstro compactua com o discurso do presidente Jair Bolsonaro? Daquele tipo de monstro que anseia para que “tudo isso passe” porque quer a “normalidade” de volta.

Que os peões voltem a poder dar dois passos na largada mesmo que seja para puro sacrifício em nome da liberdade dos bispos, da rainha, da proteção do rei.

Do tipo que considera que pobres não devem ter direito a filhos, pois essa enorme massa de gente não consegue ter acesso a educação, e se tornam delinquentes e violentos. Isentando do estado e da concentração de riquezas dentro dos mesmos átrios por séculos. a conservação do status quo. a desigualdade social conservada.

Do tipo que aposta na queima de arquivos, no apagamento dos registros de todo o sangue derramado até aqui. Que pretende deixar que gerações e gerações de guerreiros que nos últimos séculos lutaram contra a fome simplesmente desapareçam. que morram junto com sua história, sua cultura, seus ancestrais, as terras que eram suas.

Enfim, parece que estamos aqui apontando para os radicais de extrema direita. Fazendo alusão aos marketeiros que auxiliaram tanto o Trump em sua campanha, quanto alguns outros neoliberais do continente Europeu no estilo sofista. E, de certa forma estamos.

Mas o mais claro disso tudo é que eles estão dispostos a matar pelos seus interesses. Matar ou deixar morrer.

E não precisam de muito para conseguir. Só precisam fazer com que nós, como eles, desejemos nossas vidas normais de volta. Mesmo com todas as merdas. Que queiramos a segurança de casa pro trabalho e que sobre uma graninha para ir a um bar, a uma lanchonete. “Um trocado para comprar um xarope pra curar a tosse do cigarro do fiteiro da esquina”.

E é assim que, geração após outra, nossos problemas são exatamente os mesmos. Nós só queremos viver. Mas, quem de fato “fez diferença” neste país, estava disposto a morrer por ela.

O sistema como um todo está podre. Os pilares estão desmoronando, o que viemos tentando fazer foi amarras umas vigas de ferro em torno deles, com arame e tal, mas na verdade o que deveríamos ter feito era chamar uns bons pedreiros e ajudantes, e bater forte com marreta e talhadeira, remover os entulhos e dar poder aos verdadeiros construtores. O povo.

Feito a casa cair.