Vou fazer da minha gaiola mundo

É TUDO FEITO ÁS PRESAS, POR DENTRO OU POR FORA

A vida é tão ligeira que demoro observando até onde ela não vai. Até onde ela fica estagnada e presa. É como se colocasse dentro de uma gaiola. Uma gaiola suja e mal feita. E é de se perceber que a porta está meia aberta. E isso é uma coisa boa, pois ninguém quer manter a vida presa ou trancafiada dentro de uma jaula.

Já não basta colocarem os pobres e voadores passarinhos. A humanidade é realmente cruel por pensar que dentro de uma gaiola se encontra felicidade. Ainda mais para um pássaro feito para voar por aí, solto ao vento, sem temer à noite e muito menos a chuva de um dia úmido.

Mas digamos que agora a situação se inverta. Somos nós que nos encontramos presos em jaulas, só que com a porta trancada. Recebemos ração diariamente, mas mesmo assim ainda vai existir aquele vazio. Aquela vontade de viver e ser independente se perde quando deixamos que nos enjaule por míseras refeições diárias.

Uma coisa é se a gaiola estivesse aberta. Poderíamos entrar e sair quando quisermos, seria um abrigo na chuva, uma proteção contra predadores e também seria certo de que não estamos presos ali dentro. Mas isso é a vida, nem sempre escolhemos. A jaula pode estar para uns como a porta estar para outros. As duas te trancam, a saída das duas te liberta.

Mesmo sendo me dado a opção de escolha e eu dele fazendo pouco caso, ainda me pergunto se não deveria ser grato por saber escolher. Uma gaiola não deve ter portas, mas uma porta nunca deve ser uma gaiola.

Eu sei que não sou um passarinho, sei que ainda não sei voar. Também sei que em cima na árvore pouco posso andar. Mas ao ver um pássaro trancafiado me questiono quem tem a autoridade sobre essa vida. Quem tem permissão para me aprisionar dentro de uma jaula. Eu que fui feito para voar.

Ainda não sou um pássaro, ainda não bato minhas asas por aí. Mas questiono minha liberdade e ao comparar com a de um pássaro me desvio do fundamental questionamento sobre a vida: quem tem direito sobre a sua.

Pois se devo entrar na gaiola, que tenha as minhas regras. Que seja um casa ou pousada, mas que saiba a hora de sair e a de entrar. Não irei me trancafiar, nem em portas ei de me guardar. A minha gaiola continuará aberta e do lado de fora tudo há de passar tão de pressa que acabo fazendo casa o que até então me tormenta. Pode ser hostil, nem um pouco suave. Pode ser duro feito pedra, mas ainda vai ser meu e jamais terá portas fechadas. Vou criar um mundo aqui dentro, tirar do tormento e colocar ao relento. Vou pintar todas das grades de cores diferentes, irei mudar por dentro até que desbote a desacelerar essa vida tão ligeira.

Uma gaiola de portas abertas ao mundo, a todas as possibilidades que podem existir e que eu consiga atrair. Quero jogar ao universo todas as chances de ser feliz. Não quero mais ter sentido, quero me escorregar no limo e cair aos gritos, mas sem nenhuma dor e sem nenhuma ferida.

Vou querer novamente estar livremente solto ao eternamente. Vou querer seguidamente me juntar ao delinquente que me soltou na luz independente.

Não tem jeito, por mais ligeira que seja a vida ainda estarei profundamente quente. E isso me esfria, ao mesmo tempo em que me deixa mais quente.

E no final não importará como eu esteja, qual seja a minha temperatura ou em que céus o mar esteja. Estarei em paz dentro ou por fora, que ainda assim essa gaiola não manterá portas. E serão todos bem vindos para fora do tempo, tempo esse que aflora.

iaGovinda
Enviado por iaGovinda em 27/02/2020
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