Homilia nas ordenações de Formosa, dez 2019

DOM ADAIR JOSÉ GUIMARÃES

Bispo de Formosa – Go

Homilia nas ordenações sacerdotais em Formosa

07 de dezembro de 2019

Amados Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas,

Amados formadores de nossos seminários de Formosa e Brasília,

Amados irmãos e irmãs, seminaristas e familiares dos ordinandos,

Amados benfeitores do seminário, Movimento Serra e Pastoral Vocacional,

Salve Maria, a Imaculada Conceição!

01.A festa mais importante de uma diocese são as ordenações de novos ministros para cuidar da seara de Deus, a Igreja. Nossa Diocese se reúne nesta arcana Catedral para celebrar a ordenação presbiteral dos Diáconos Kenedy e Ozias. É um momento de ação de graças e de louvores a Deus pelo dom do sacerdócio instituído por Nosso Senhor e dado à Igreja como sinal da perpetuidade da ação e dos gestos de Cristo na história, até a sua gloriosa volta.

02.Na primeira leitura o Profeta Isaías descreve a identidade missionária do Messias esperado, nosso Senhor Jesus Cristo. O Espírito Santo ungirá as ações do Cristo em favor dos sofridos, esquecidos e desprezados, erguerá o ânimo dos que se encontram abatidos e estabelecerá o ano da graça, o jubileu salvífico, o tempo da Graça, do kairós divino, que alvissareiramente conduzirá os passos da humanidade ao convívio eterno com Deus. Será o tempo do consolo, da esperança e do verdadeiro amor, o ágape celeste que plasmará nossos corações com o coroamento do real sentido da vida. Será o triunfo da justiça na terra.

03.O salmista evoca a figura de Melquisedec, o rei sacerdote sem descendência, que apareceu e desapareceu sem explicar a si mesmo. Na verdade, Melquisedec é uma prefiguração do Messias, envolto em mistério no seu nascimento, na contradição de seu jeito de viver e no novo Reino inaugurado, fora dos padrões conhecidos, por ser um Reino espiritual, metafísico, sobrenatural, cuja realização se dá para além dos muros circunscritos da história. A Carta aos Hebreus arremata o real sentido da correlação de Cristo e Melquisedec: “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. De fato, ele foi por Deus proclamado sumo sacerdote na ordem de Melquisedec”.

04.O sacerdote cristão católico é o homem da morte. É o grão que jogado na terra morre a cada instante para que a vida seja plenificada na sua pujança. Daqui a pouco os ordinandos irão prostrarem-se por terra enquanto entoaremos a ladainha de todos os santos. É um gesto de morte! O padre morre para esse mundo para viver para Deus e assim conduzir seu povo ao céu. A batina preta do sacerdote é um eloquente sinal de morte. O padre está morto para este mundo e vivo para os céus. É um vivente que está no mundo, mas não é do mundo e consorcia a própria vida com os demais viventes, necessitados do pão e do hálito da misericórdia.

5.O padre diocesano está morto para as realidades mundanas se terrenas e configurado ao Cristo que vive para sempre. Será com Jesus o Bom Pastor, o pastor que morre para seu rebanho e não tem outra preocupação maior do que esta: preparar o rebando para Cristo, para os prados eternos. Enfim, o padre é um cuidador das almas para Deus. Nenhum padre terá a compreensão plena de si e do seu ofício enquanto estiver neste mundo. É algo grandioso, sobrenatural, inacessível à nossa parca compreensão humana. Hoje lembramos na liturgia da Igreja um grande sacerdote do Sec. IV, Santo Ambrósio de Milão, que tem uma frase profunda: “Não é o homem que encontra a Verdade, mas a Verdade que encontra o homem”. Somente a Verdade que nos encontra, o próprio Senhor, nos dará a chave da compreensão do nosso ministério e nos levantará o ânimo a cada manhã para fazermos a vontade de Deus e agradá-lo com nosso apostolado.

6.Vivemos tempos de grandes conturbações e turbulências no mundo e na Igreja. Os escândalos no clero, as tentativas de desconstrução da Igreja no seu escopo doutrinário, a partir de dentro dela, tem levado muitos irmãos sacerdotes ao desânimo e à baixa estima. A famigerada Teologia da Libertação, marcadamente herética pelo seu método marxista, em consonância com a revolução Gramscista, é um mal que precisa ser combatido, visto que agora alargou seu campo de ação teórica em teologia ecológica, teologia índia, teologia da negritude, teologia amazônica e por ai vai. Tudo isso são artimanhas do diabo para dilacerar o Corpo Místico de Cristo. O mundo, mais do que nunca, precisa de nós sacerdotes no atual momento crucial da história em que se faz tudo para extrair Deus do coração do homem. Há um forte movimento embalado pelo secularismo, pelo relativismo e pela revolução cultural marxista para assassinar Deus no coração da humanidade. Essa autossuficiência que representa a morte da humanidade como nos lembrou São João Paulo II, deve ser combatida incessantemente pelos sacerdotes, através da penitência, da humildade, da oração e com nossa vida corajosa, envolta na nossa batina preta, a velha sotana, através da qual mostramos ao mundo que ainda existem homens que creem em Deus e na vida após a morte. Sem Deus, sentencia o bom padre, não há vida, não há esperança, não há sentido.

07.Caros ordinandos e demais sacerdotes, diáconos e religiosos aqui presentes, a humanidade está enferma, existem muitas perebas purulentas na atual sociedade dos homens. Nós, consagrados, fomos investidos no ofício sagrado para curados curar essas chagas e restabelecer o ânimo da nossa gente. Nosso povo sofre, as famílias estão em grandes dificuldades, nossa juventude foi roubada pelo ateísmo, pelo relativismo e pela indiferença a troca do vazio, da sexualidade sem amor e sem compromisso, das drogas, dos modismos, do suicídio e da vida sem esperança. Há uma síndrome do desespero e do desamparo. Imaginemos o quanto nosso povo pobre sofre e é maltratado nas repartições públicas, na busca dos seus direitos e etc. Há muito sofrimento no mundo por falta de fé e da real experiencia com o Ressuscitado. A miséria horripilante que traz a fome é inaceitável e nos machuca como pastores do Povo de Deus.

08.Mais horripilante ainda é quando o povo sofrido é maltratado em paróquias e comunidades mundo a fora pelos próprios sacerdotes, religiosos e diáconos. Outro dia um grupo de uma diocese comentava em lágrimas que o bispo havia enviado à paróquia não um sacerdote católico, mas um estúpido de estola. Que triste! O padre que deveria exalar o odor de Cristo que acolhe e ama, vocifera, ao contrário, a brutalidade e a má acolhida como se ele fosse um “rei” a ser servido. Que seminário esse homem fez? Que direção espiritual vivenciou? Que espiritualidade empreendeu em sua vida? Que leitura espiritual faz? Tenho ouvido e atendido na Diocese pessoas que há tempos estão afastadas da Igreja, enquanto outras já estão nas seitas, por ações de sacerdotes brutos, indecorosos, arrogantes e estúpidos que lamentavelmente estiveram à frente do serviço pastoral. Um padre que amaldiçoa e excomunga as pessoas que querem rezar e serem atendidas, que não concordam com seus maus exemplos , atrai para si mesmo o que deseja às suas ovelhas. Miseráveis sacerdotes que atendem bem que tem dinheiro e comunidades que lhe ofertam bons proventos e escarnecem dos pobres e das comunidades humildes. A Igreja não precisa desses sacerdotes, porque são pagãos, usam do ministério para buscar a fama e curtir a vida nos seus medonhos vícios, na vida mansa e na mordomia do dinheiro adquirido pecaminosamente através da simonia. Não entenderam que o padre segue ao Cristo, Bom Pastor, pobre, casto e obediente. Quando um padre abandona o ideal sacerdotal é porque antes abandou a missa diária, a Liturgia das Horas, a adoração a Jesus Sacramentado, o amor ao Santo Terço da Santíssima Virgem e o amor desveloso para com o povo.

09.Na Igreja não há lugar para sacerdotes que não desejam ser outros cristos no meio do povo, configurados ao Senhor na oração e na vida de santidade. O padre deve ser um homem ávido pela santidade com uma consciência clara, como nos ensinou o Papa Inocêncio III: “o padre é o homem que cuida das coisas de Deus na terra”. O Povo de Deus precisa interceder sempre pelo clero e pela santidade dele. O padre fiel e oblativo é um grande bem para a Igreja e para povo de Deus. Caros ordinandos, em primeiro lugar, a Igreja espera dos senhores a santa missa diária bem celebrada, uma vida de oração e aperfeiçoamento nas virtudes sacerdotais, atendimento sereno e amoroso às confissões e aos doentes. Acolher bem o povo, ajudar cada pessoa a se encontrar com Deus, com ela mesma e com o próximo. Nunca maltratem as pessoas, especialmente os simples; acolham bem a todos, vão sempre ao encontro das ovelhas feridas e esquecidas. Sejam homens alegres e imersos na beleza da vida espiritual. Nunca cultivem vícios e uma vida frívola, inclusive nas férias e em passeios sem a presença de Deus. O padre é padre onde quer que vá. Não tenham vergonha de ser e de se apresentar como um homem de Deus, como eclesiástico, pois onde os senhores estiverem a Igreja estará nas vossas pessoas. Sejam transparentes e santos no cuidados com as coisas materiais, os bens canônicos da Igreja.

10.Nosso clero é bom e de relevo dentro do Regional Centro Oeste. Preciso que todos os sacerdotes que aqui laboram nos ajudem a manter a ascendência da excelência sacerdotal na Diocese, preconizada pelo Concílio Vaticano II na Presbiterorum Ordinis. Certamente, caros ordinandos, os senhores já conhecem os pecados e defeitos do clero em geral. Não entrem na jogada dos escárnios, das indiferenças e da vida fútil que sempre esteve presente na vida clerical ao longo desses 2000 anos. Nunca se isolem, procurem ser fraternos com todos os padres. Busquem sempre a confissão sacramental, a direção espiritual e o conselho dos mais experientes. É um grande dom ser padre. Nos meus 34 anos de sacerdócio posso lhes atestar que mil vidas tivessem, mil vezes seria padre. Nada nesse mundo compensa a alegria de celebrar uma missa, de atender a uma confissão sacramental, de batizar uma criança, de ungir um idoso ou doente e de auxiliar a consciência das pessoas. Só o padre pode fazê-lo! Isso basta para nos satisfazer.

11. Santo Ambrósio nos dá esta máxima que podemos trazer conosco para alentar nosso sacerdócio: “Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, Ele é o médico; se estás a arder de febre, Ele é a fonte; se estás oprimido pela iniquidade, Ele é a justiça; se precisas de ajuda, Ele é a força; se temes a morte, Ele é a vida; se desejas o céu, Ele é o caminho; se estás nas trevas, Ele é a luz... Saboreai e vede como o Senhor é bom: bem-aventurado é o homem que nele depõe a sua esperança”.

12.Que a Santíssima Virgem Maria, a Imaculada Conceição, nossa excelsa Padroeira, interceda pelos novos sacerdotes e por todo nosso clero, pelos nossos religiosos e religiosas, pelos seminaristas e pelo nosso amado povo com suas liderança leigas. Caros ordinandos, com a Santíssima Mãe dos Sacerdotes, em poucos minutos sereis: Sacérdos in aetérnum Chrístus Dóminus Secúndum órdinem Melchísedech, Pánem et vínum óbtulit. Amém!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 07/12/2019
Código do texto: T6813187
Classificação de conteúdo: seguro