Questões ao porque da busca do conhecimento maior (continuação).
Depois que li sua opinião sobre a busca do conhecimento como filosofia de vida pensei profundamente e tenho alguns questionamentos a mais a fazer, esses que são de extrema importância para que eu acredite realmente que o que falas é o que pensas.
Vou começar a perguntar e terás quanto tempo for preciso para responder, sem com isso que seja permitido o mínimo de mentira. Deixo a tua consciência somente a guarda do conhecimento se mentes ou não, pois é nela que a mentira castiga com maior força.
Qual a tua prática mais comum no dia a dia, na busca do conhecimento?
O questionamento, aquele puro e o mais livre de ataduras sociais possível. Fico extremamente triste e angustiado quando julgo. Cabe a quem a arte do julgamento? Cabe a nós exploradores do conhecimento questionar, ao invés de rotular e julgar. Quando vejo algo que não concordo, procuro não o julgar e sim questionar-me o porquê de minha recusa a aceitar tal fato. Assim crendo que chegarei mais perto da origem das coisas, dos sentimentos, das engrenagens sociais. Mas, sim! Julgo e a cada vez menos e mais conscientemente.
Não ficarias então, com o passar do tempo, livre dessas mesmas engrenagens sociais?
É um preço a se pagar pelo conhecer, do momento que se conhece totalmente alguma coisa se vê dominando-a e livre, por isso mesmo, de suas amarras. Como não dizer que assim que o homem dominou, em sua maior parte, a natureza a deixou de temê-la com superstições e passou a enfrentá-la com a cabeça erguida de quem a consegue compreender e saber que ela é uma inimiga a altura? Vejo quanta inutilidade há em dogmas e tradições em que estamos absortos. Do momento que se perdeu a qualidade cíclica para a sobrevivência, como por exemplo, o ciclo anual para o plantio ou a colheita. Deixamos de vivenciar esses fatos para simplesmente viver ilusoriamente todos os eventos que só servem atualmente para movimentar a economia sem nenhum sentido a mais para que existam.
Então você diz para que paremos com essas coisas? Não estaríamos perdidos e sem direção a seguir?
Creio que a massa está tão acostumada com seu eterno ciclo de vida inútil que sem ele poderia pensar que estaria perdida. Não proponho acabar com tal tipo de vida, mas sim uma conscientização dele. Sem essa conscientização não podemos viver realmente estando reduzidos a uma pseudo vida. Como saber se somos nós mesmos do momento que deixamos de ser nós e passamos a representar um papel na renovação cíclica de nossa sociedade?
E de que serviria nos conscientizarmos dele?
Tudo! É o primeiro passo do conhecimento e como disse mais acima conhecendo se controla e se extingue. Do momento que estamos conscientes de nossas eternas ilusões elas vão se dissolvendo. É o que acontece quando envelhecemos, perdemos, aparentemente, essa utilidade social caindo em um canto em que a vida é nossa, mas não desejamos mais viver uma vida e sim voltar a participar do teatro em que representamos durante toda nossa existência. A maioria se vê ainda imerso no processo de sobrevivência com o trabalho ao invés da aposentadoria, ou que busca algo de “útil” para se fazer.
Mas não é realmente melhor a pessoa se manter ativa que simplesmente ficar sem fazer nada?
Essa é a idéia que mais permeia nossos pensamentos atuais. Ser produtivo, em tudo, não parar, não pensar, agir, agir e agir. Preenchemos qualquer e todo espaço de tempo que temos em atividades. Esse é o máximo que se pode alcançar da representação. Nunca paramos para pensar, refletir, viver realmente. Acumulamos uma série de experiências que são totalmente afastadas do viver real e sempre nos inserimos em algum ponto da sociedade em que pretendemos representar ou nos sentir como participantes dela.
Você está dizendo que tudo que eu vivo é fantasia, ilusão?
Se você se identifica com o estilo de vida que descrevo, sim! Não posso classificar como outra coisa uma vida em que todas as normas e determinações sociais te coagem a ser de determinada maneira. O primeiro passo da consciência sobre nossa vida inútil é perceber o quanto estamos desperdiçando nossas existências em processos diários inúteis para a vida.
Aprofunde esse pensamento para que eu possa crer.
Acredite que anualmente, nossas vidas são, por força maior, divididas em anos, décadas e séculos, temos que aturar os mesmos ritos, as mesmas estruturas que nos coagem a viver sobre determinada rede de aprisionamento. Não vivemos o ano, vamos percebendo que o ano já passou à medida que percebemos quanto do ano já perdemos sem ter feito nada realmente. O ano passa sem que tenhamos vivenciado alguma coisa realmente. Somos imprensados a eventos rotineiros. Shows, boates, viagens, e tudo o mais programado para aceitarmos. Somos parte intrínseca de uma sociedade que nos obriga diariamente a renunciar a escolhas e recorrer às opções possíveis. Temos que aturar diariamente as mesmas coisas do dia anterior disfarçadas para parecerem ligeiramente diferentes e preencherem nossas cascas com nada inútil.
Isso tudo é inquietante, mas como nos livra-nos desse ciclo?
Como eu poderia lhe dizer algo desse tipo? É algo único, jamais tentado em larga escala, pois os patéticos seres humanos querem, ou já não tem a noção que tem a escolha de ser diferente, de viver da forma que quiserem. Pensam em como se adequar mais perfeitamente a essa rotina esmagadora do ser, da alma, do amor. Essa que desconstrói toda a superfície e a insere no “superficioso” da vida efêmera de sentimentos, felicidades e amores passageiros e inúteis. Quando percebemos que crescemos? Quando nos damos conta da verdadeira passagem do tempo, aquele que nos cansa, aquele que nos deixa mais próximos de nossas mortes, percebemos que nada fizemos por nós mesmos, não nos conhecemos, conhecemos sim aquele que viveu uma vida comum e ordinária, pensando que era única e especial. Pois aprenda, não há nada de especial em vida alguma, simples o fato de que somos mais um em um mundo que não liga a mínima para o que somos, o que cremos, o que fazemos. Temos que crer e fazer nossas vidas por nós mesmos antes de qualquer outra coisa, aí entra o amor próprio que tanto explicitei no texto passado.
Então quando nos amamos verdadeiramente acabamos com esse ciclo?
Mas o que mais poderíamos fazer se não terminar esse inferno terreno ao nos amarmos? Quantos de nós estaríamos satisfeitos em viver uma vida em que faz de tudo para evitar o amor próprio? Necessitamos estar frágeis, desejosos e esperançosos para consumir e com isso girar a economia, que parece ser o único motivo de existência de nossa sociedade. Quem de nós se renderia a moda ridícula que anualmente nos “diz” o que vestir, usar e como nos comportarmos? Quantos de nós ainda cairia nos ardilosos embustes econômicos se tivéssemos mais amor próprio a sentir a vida ao invés de querer sentir que a sente?
Vejo, mas também não seria uma forma de destruir nossa sociedade como vemos hoje? Não seria sua filosofia um meio de destruir tudo o que construímos?
E você, por acaso, não vê que o que estamos vivendo já faz isso por si só de modo muito mais eficaz e metódico? Nosso modo de ser nos destrói a cada ano de forma mais efetiva que qualquer outro modo de viver. O modo que proponho através do conhecimento e do amor próprio acima de qualquer coisa emprega meios que não deslizariam ante as rotinas e as superficialidades, elas seriam negadas a ponto de estarem à banca rota de cara.
Mas também não cairiam os valores e toda nossa moral?
Lógico! São elas necessárias quando se tem conhecimento? O que é o bem o que é o mal? Nada mais do que convenções seculares de comportamento moldado para ser de determinada maneira. Através da reflexão e do conhecimento se chega a conclusões sobre o que é melhor para ser feito em determinadas situações sem que abstraíssem nosso pensamento para nos agarrarmos a moldes já prontos, que são de nosso total inconsciente. Mudar esse jeito de ser é doloroso e muito mais responsável, pois passamos a ser responsáveis totais por nossos atos. E não apenas o fazemos por convenção ou determinações sociais ridículas. A tradição é inimiga do conhecedor de si mesmo, a cultura é um obstáculo para o conhecedor de si mesmo e as crenças são obstáculos maiores para o conhecedor de si mesmo.
Tenho que parar e pensar, creio que estou ficando seduzido por esse modo de pensar.
Justamente, antes de irdes, esse não é um modo de pensar, se crer nisso já estará sendo esmagado pelo seu próprio modo se agir. O que proponho é um modo de ser, agir e viver. Se não praticas o que falas então é apenas um falador. Crê e aja. Só assim começa-se uma mudança em si mesmo e para todo o mundo.