A LUZ DE DEUS

Viver em um mundo como o nosso, sendo cristão, ou seja, vivendo de maneira uniforme ou parelha aos preceitos que Cristo nos deixou não é uma tarefa das mais fáceis. Mas também presumo que não o tenha sido para os primeiros cristãos.

É fato que estar em um mundo onde vemos constantemente o mal se sobressair ao bem, onde o corrupto escapa por entre os dedos da justiça, onde essa mesma justiça é por si corrupta e corruptível, onde a sensualidade e a banalização do corpo e das paixões infames são regras a ser seguidas, onde pessoas se aproveitam umas das outras como se fossem meros objetos nos faz acreditar que é errado ser bom, amável, tolerante, enfim, cristão.

Estamos em um mundo danoso que subjugam todos e os traga para suas entranhas a fim de reduzi-los a nada. É um mundo vil, repleto de pessoas vis, de ideias vis.

Quantos de nós somos atacados constantemente por forças externas e internas mesmo, pois o mal é algo que nasce do pecado pelo qual fomos concebidos, que nos faz esmorecer diante do caminho que nos leva a luz de Deus?

Quantos de nós já não pensaram: “Deus me perdoará por falhar, por pecar contra o seu propósito”, não é mesmo?

Sob essa perspectiva a visão que temos da santidade se modifica e se deturpa a tal ponto que mal reconhecemos a luz de Deus em nós. A luz que nos formou mesmo no pecado.

Nascemos do pecado, mas somos parte da luz de Deus.

Continuamos a nos indagar de maneira infantil, débil e diante de tantas atrocidades, quais os motivos que levam Deus a permitir tudo isso. Chegamos a crer que Ele é injusto ou quiçá, insensível as nossas dores. Mas não é assim que acontece, não é assim que nosso Senhor é.

Os maus já estão acostumados com a escuridão, a falsidade, a promiscuidade, o roubo, a mentira, as paixões torpes e a morte da sua própria essência. Deus sabe disso!

Entendam: Os maus nunca contemplarão a felicidade que é estar na presença de Deus mostrando-lhe os bons frutos de uma vida inteira.

Eles não poderão dizer: Senhor! Senhor! Eis-me aqui, sonda-me!

A verdade para isso encontramos em Mt 5,8:

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

O Senhor nos convida constantemente a sermos sua luz e refletir sua obra em nossa vida. E isso não é uma ordem dada por algum tirano poderoso, pois sendo o que é Ele poderia nos forçar a amá-lo, mas não o faz.

E não o faz por que nos ama como filhos que somos.

Ele nos ama de tal maneira que permite nossa liberdade de escolha, mesmo que seja má. Mesmo que seja para renega-lo. Permite para que possamos fazer aquilo que é certo quando vemos algo de errado ou quando estamos no meio dos maus!

Essa bondade, esse amor incondicional e a singularidade de Deus não são atributos humanos e talvez por isso constantemente nos perguntamos o porquê que Ele não interfere.

Somos humanos e imperfeitos e mesmo assim empreendemos uma ansiosa e doentia busca por essa mesma “perfeição” que se distancia por completo do ideal de santidade que Deus almeja que tenhamos em nossas vidas. E quando não conseguimos atingir nos frustramos e passamos a ser ríspidos, amargos, soberbos, mundanos... e nos afastamos da luz de Deus.

O principio da cristandade, da ideia real de ser cristão é que tenhamos uma comunhão arraigada no amor pelo próximo e, sobretudo no amor a Deus.

É com certeza uma das tarefas mais árduas nessa nossa jornada, mas o prêmio não está no fim dela e sim no caminho, na medida em que passamos a enxergar a luz de Deus dentro de nós mesmos.

Não se contristem pelos maus, não se aninhem aos maus, ou sequer tenham medo deles. Perdoe-os e estarão perdoando a si mesmos. Ame-os e estarão amando a si mesmos, pois somos todos filhos de um único e amável Pai que não deseja que o mau nos consuma e afaste-nos dEle.

Também não cabe a nós guiar os maus ao arrependimento, pois somos apenas o reflexo da luz de Deus na medida em que permitimos que seu imenso amor nos ilumine. Logo, se um homem mau se arrepende ele o faz pelo poder de Deus, pois somente aquilo que é santo pode santificar.

Não é o vidro da lâmpada que dá a luz, mas aquilo que esta dentro dela.

Que a paz de Cristo reine em todos nós.

Amém.