“Se conheceras o dom de Deus…”
“Se conheceras o dom de Deus…”
A frase deste título, se encontra em João 4:10 onde o Senhor Jesus tem um encontro marcante no início de Seu ministério com uma mulher samaritana (“Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”.).
Jesus conhecia o coração daquela mulher, sabia que ela era sincera em suas dúvidas e questionamentos e que de alguma forma ela buscava adorar a Deus. Por isso Ele se dirige a ela, respondendo-lhe à pergunta: “Como sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana?” Dizendo-lhe: “Se conheceras o dom de Deus…!” (João 4:9).
Todo o ministério e toda a vida de Jesus são marcados com uma característica que O torna a expressão exata de Deus aos homens: o amor.
A Bíblia nos diz que Deus é amor (1 João.4:8 – “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor”.) e Jesus é a “materialização” do amor de Deus. A expressão viva deste amor (João 3:16 – “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.). Portanto, conhecer Jesus é conhecer o “dom de Deus”, ou o Seu amor.
A mulher samaritana não pôde compreender o que levou um homem judeu a falar com ela e Jesus lhe diz que é o amor. E como se não bastasse, Ele ainda lhe fala que se ela soubesse quem Ele é, ela é que lhe pediria água e Jesus lhe daria “água viva”, ou o Espírito Santo, porque somente Ele é quem que nos conduz a toda verdade e através do qual conhecemos o amor de Deus.
No decorrer da conversa entre a samaritana e o Senhor, em João 4:16 (“Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá”.), Jesus pede que ela vá chamar o seu marido e depois volte a Ele. Creio que nesta hora, Ele estava tentando mostrar àquela mulher que ela realmente não conhecia o dom de Deus, pois nunca conseguiu ser esposa de um só homem. Isto demonstra falta de compromisso que claramente denota ausência de amor não somente por parte dela, mas também dos homens com que tentou se relacionar. A maior carência daquela mulher era, com certeza, conhecer o verdadeiro amor.
Vemos que Jesus leva a mulher samaritana ao ponto mais importante de sua vida e na ordem do diálogo, revela que o Pai procura adoradores que “o adorem em espírito e em verdade”. (João 4:23).
Não se pode adorar a Deus sem amá-Lo. O amor requer disposição e compromisso. E o que Jesus estava dizendo é que não podemos amar a Deus, sem amar o próximo, muito menos sem amar o seu próprio marido, “pois se não amamos àqueles que vemos, como amaremos Aquele a quem não vemos? Se dissermos que amamos a Deus e não amamos o nosso próximo, somos mentirosos e o amor de Deus não está em nós” (1 João 4:7-21).
A verdadeira adoração, só pode proceder de um coração que ama e amar não de palavras, mas de fato, assim como Jesus nos amou (1 João 3:18 – “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade”.).
Como é o amor de Jesus? Qual o padrão?
O amor do Senhor é paciente e nunca causa o mal, é benigno.
O amor de Jesus não arde em ciúmes, sabe medir o zelo sem prejudicar aquele a quem ama, dando-lhe liberdade de ação e escolha.
O amor de Jesus não é soberbo, Ele mesmo disse: “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mateus 20:28); Ele dá espaço para que cresçamos ao Seu lado, experimentando um coração de servo.
O Seu amor não se conduz inconvenientemente, é racional e não compulsivo.
Não procura os Seus interesses, não se exaspera (se irrita). Pois se não fosse por isso, não teria se entregado para morrer em meu lugar!
O amor do Senhor Jesus não se ressente do mal, ou, não guarda ressentimento quando é ofendido, mas sempre está pronto para perdoar e esquecer – “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
O Seu coração não se alegra com a injustiça, isto é, não se alegra com atitudes que não procedem da verdade ou da sinceridade do coração de quem Ele ama e que diz amá-Lo também – “mas regozija-se com a verdade”. (1 Coríntios 13:6b).
O amor de Jesus tudo sofre, tudo espera e tudo suporta. Pensemos em tudo que Ele viveu aqui nesta Terra, sofrendo e suportando tudo sem perder a fé e a esperança de deixar discípulos do Seu amor!
Este texto de 1 Coríntios 13, inicia-se dizendo: “ainda que…” Isto nos leva a analisar a nossa vida e pensar que mesmo que tenhamos recebido dons do Senhor como o de profetizar, por exemplo, mesmo que venhamos a conhecer toda a ciência e todos os mistérios, ou que tenhamos revelações da Palavra de Deus, ainda que tenhamos fé ao ponto de transportar montes e também possamos praticar toda boa obra que o Senhor nos designou para que praticássemos, ou até que entregasse o nosso próprio corpo para ser queimado, nada disso nos aproveitaria se não tiver o dom supremo que é o amor. A única coisa que prevalece é o amor, por isso podemos dizer que o motivo de todos os seis relacionamentos da mulher samaritana não ter permanecido, foi, exclusivamente, pela ausência do amor.
Sendo assim, fica fácil entender a intenção de Deus para a Igreja do tempo do fim o qual estamos vivendo hoje: a restauração do amor verdadeiro, o amor da noiva para com o Seu Noivo, da esposa para com Seu Esposo. O amor que a mulher samaritana não conhecia, mas que passou a vivenciá-lo depois, em Jesus. Só Jesus conseguiu matar a verdadeira sede daquela mulher, amando-a incondicionalmente e isso mudou o curso da sua vida. O amor de Jesus, literalmente, é maior que todo preconceito humano. Ele supera todas as linhas divisórias que separam os homens, sejam diferenças de raça, cor, língua, religião, sexo, etc. Os próprios discípulos de Jesus ao voltarem da cidade, vendo que Ele conversava com “uma mulher” (vs.27), não entenderam o que O levou a isso, porém nada lhe perguntaram, pois, provavelmente, ficaram constrangidos com tamanha demonstração de amor e humildade.
Concluindo: para se adorar em verdade é necessário que se ame em verdade. Não podemos dizer que adoramos a Deus sem amá-Lo primeiramente e incondicionalmente e também aos nossos irmãos. Isto seria hipocrisia assim como a dos fariseus religiosos cobertos com sua suposta santidade, aparente, como sepulcros caiados.
Primeiro, “segui o amor” e depois, “procurai com zelo os dons espirituais” (1 Coríntios 14:1). “Se conheceras o dom de Deus…” pense nisto: por que tudo que Jesus tocava era transformado? Por que todos a quem Ele olhava eram tocados? Por que por onde passava, multidões O seguiam? Por que as criancinhas saíam ao Seu encontro e Lhe beijavam a face? Por que pecadores eram levados a se arrependerem e se curvarem aos Seus pés em adoração? Por que lágrimas eram derramadas quando Ele estava presente? Por que homens recostavam sua cabeça em Seus ombros e se sentiam seguros em Seus braços?
Posso responder, com toda certeza, porque Jesus era o próprio amor em pessoa andando no meio de um mundo carente e desesperado de afeto e compaixão. Um mundo endurecido pelo ódio e enganado pela religião dos fariseus (João 5:41,42 – “Eu não aceito glória que vem dos homens; sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus”.). Apesar de serem rigorosos em cumprir as leis de Moisés, os fariseus não andavam em conformidade com aquilo que exigiam das pessoas e nem tão pouco agradavam a Deus, pois não amavam. Por isso, o apóstolo Paulo, inspirado na vida de Jesus, disse: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama o próximo tem cumprido a lei” (Romanos 13:8).
“Deus amou o mundo, de tal maneira e por isso deu o seu Filho unigênito” (João 3:16a). O amor no coração de Deus gerou Jesus no ventre de Maria. O amor de Jesus gerou filhos para Deus; e o nosso amor por Ele, gera um exército de adoradores que se move novamente em direção ao coração do Pai irradiando o Seu amor ao mundo.
Experimentar o amor de Deus na pessoa salvadora de Jesus deve ser o maior objetivo da nossa vida cristã. Sabemos, por meio da Palavra, que Deus tem derramado o Seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo (a Água Viva) que já nos foi outorgado, ou doado, pela graça (Romanos 5:5 – “Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”.) E este mesmo “Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8:16). Acredito que seja este o motivo principal pelo qual Jesus escolheu se encontrar com a mulher samaritana num poço de água: apresentar-lhe a Fonte inesgotável da água verdadeira que mataria a sua sede eternamente (Jo.4:13,14 – “Afirmou-lhe Jesus: Quem beber dessa água tornará a ter sede; aquele, perém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” ).
Na vivência diária do amor incondicional de Deus, está o fluir do Seu poder transformador por meio do Corpo de Cristo, que é a Sua Igreja.
Jesus se manifesta pelo amor; e os dons do Espírito são nivelados como parte de um todo, para o serviço e edificação dos membros que compreendem a grandeza das últimas palavras de Jesus, antes da Sua morte na cruz, ao distribuir a ceia aos discípulos: “Em memória de mim” (1 Coríntios 11:24,25 – “E, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”.).
Um dos momentos mais sublimes da comunhão com o Senhor e entre os irmãos foi vivenciado pelos discípulos durante a última ceia. Jesus lhes pede que nunca se esqueçam do fundamento da vida cristã que Ele ensinou: o amor!
Rory Noland em seu livro “O coração do Artista” faz menção de Dallas Willard comentando sobre este famoso capítulo do amor em 1 Coríntios 13:
“Quando Jesus orou na cruz: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”, isso não foi difícil para Ele. O que teria sido difícil para Ele teria sido amaldiçoar Seus inimigos e desejar mesquinhez e maldade sobre todos, Deus e o mundo, assim como aqueles crucificados com Ele fizeram, ao menos por um tempo. Ele nos chama para repartir de Si mesmo conosco. Ele não nos chama para fazer o que Ele fez, mas para sermos como Ele foi, permeados de amor. Então, o que Ele fez e disse, torna-se a expressão natural de quem somos Nele.”
João é conhecido como “o discípulo do amor” e esta experiência da mulher samaritana só é descrita neste evangelho. Como não poderia deixar de ser, o Espírito Santo inspirou este amado discípulo do Senhor a registrar este acontecimento para, mais uma vez, nos ensinar sobre o incomparável e perfeito amor de Jesus reforçando esta característica, não só do seu evangelho, mas também de suas cartas quando estava preso na ilha de Patmos: “Filhinhos, amados, vede que grande amor nos tem concedido o Pai…” (1 João 3:1).
Este continua sendo o convite que o Senhor Jesus nos faz ainda hoje: “Se conheceras o dom de Deus…”