O pobre pensa mais
Quem pensa mais: o pobre ou o rico? Caso alguém fosse acometido por essa disjunção, temo que muitos diriam o rico, e outros o pobre, pelas oportunidades de um lado e necessidades do outro, bem como alguns diriam que não tem diferença. Eu digo que quem pensa mais é o pobre, não por vaidade de ser ou pelo fetiche da categoria, afinal, não pretendo buscar exatidão mas, refletir sobre o medo que condena muitos ao refúgio do pensamento e aos avanços em certa medida.
No entanto algo nisso incorre em problema, que além do mais pode ser observado facilmente com diligência ao aspecto do pensar. O que seria pensar? Bem, caso estivermos associando o pensamento como o conhecimento de algo, como no caso dos cientistas ou da costureira, pensar não tem graduação, pois, em ambos os aspectos há pensar.
Então, o que distingue um melhor cientista da costureira? Aparentemente apenas o valor que damos. É a sociedade que concorda o valor dado ao cientista em detrimento de outros. Por outro lado, como o título desta reflexão propõe o pensar do pobre, em que dimensão o pobre pensa mais?
Caso estejam me acompanhando na leitura, farei um esforço de seguir o texto sem edição, coisa que noutra oportunidade farei. De outro modo também, não pretendo ter uma categoria verdadeira e universal com os limites exatos de pobre e rico para conseguir dizer a verdade num texto, coisa que nem acredito, mesmo com as estatísticas. - Não! Tenho ciência do aspecto retórico de todo discurso.
Retornando a questão de quem pensa mais: O pobre ou o rico? Diria com uma probabilidade bem plausível que é o pobre. E digo isso por vários motivos sem perder de vista o essencial, a saber, o fato de conseguir sobreviver diante das adversidades e dificuldades da vida pobre afastam os prazeres - que tem um caráter receptivo em nós - e ativa o pensamento num modo continuo da luta pela sobrevivência . Isto é, não é a toa que os bichos precisam de muita atividade na hora de fugir dos predadores, pois, parece que é sob o risco eminente que injetamos o pensar rápido, contrário ao pólo do prazer por exemplo, quando um animal pasta tranquilamente comendo o trigo e a grama sem serem incomodados.
Desse modo, em certo momento o prazer pode ser outro tipo de pensar, que mais a frente pode potencializar um pensamento rico, complexo, entretanto, com uma linha mais simples de reflexão, prazer tende a figurar como ausência de pensar imediato. Vejamos que é assim com o prazer do sexo, com um doce ou outra sensação que chamamos prazerosa. Isto é, numa vida rica o indivíduo busca e pode satisfazer os prazeres em demasia; Já na vida pobre, pensar em como sobreviver - a partir do medo - leva a fuga dos prazeres e consequentemente conduz reflexões continuadas na busca por saídas.
O pobre tem medo a noite, dorme com medo, acorda com medo, e finalmente sai de casa com medo. Quando paga a comida de alguns dias, fica tranquilo por alguns dias, e daí, pode finalmente pensar em outras coisas. Com essa estrutura do pensar preciso e rápido de quem sofre ameaças contínuas, aplica pulsação da necessidade do pensar em tudo, e então explode. Muitos acabam fazendo artes, poesias e outras coisas e/ou serviços.
Quando consegue dar vários turnos estudando e observando desenfreadamente para dar conta da atrasada percepção da complexidade da vida humana, percebe que precisa compreender melhor sua complexidade. Chegada a hora, não desiste do desafio. No entanto, ao passar anos nessa atividade intelectual percebe que Conhecimento é Conhecimento de algo, e Erudição sempre foi Erudição.
Nesse dilema começa a receber ataques do seu próprio povo, pobre, pois, já imaginou um pobre erudito? Não é aceito pelos eruditos ricos, tampouco pelo seu povo que vê na erudição, máscara que atrapalha a mão de obra técnica, necessária para certos interesses humanos.
(Sobre a erudição do pobre ver texto: Erudição de pobre)