Homilia na Ordenação Diaconal de Itálo Breno, 28.12.2018
Amados irmãos e irmãs,
1.Nos encontramos nesta noite para celebrar a Divina Liturgia Eucarística, fazendo memória dos Santos Inocentes Mártires, ocasião de grande alegria pela ordenação diaconal do nosso irmão Ítalo Breno. Deus seja louvado por esta liturgia tão especial e memorável, uma festa para nossa Diocese.
2.“São Mateus narra a chacina das crianças de Belém (Mt 2,13-18). A celebração destes “santos inocentes” por ordem do perseguidor, o rei Herodes, tem uma história muito antiga na liturgia da Igreja. Por volta da metade do século 5º, São Pedro Crisólogo já se referia a ela. No calendário da Igreja em Cartago, no século anterior, ela já constava. Os Inocentes são mártires, pois foram mortos por causa de Jesus, por ódio ao Messias. São inocentes, porque não tinham culpa nenhuma.
3.Herodes era famoso pela crueldade. Foram matanças contra malfeitores que o levaram ao trono, por determinação dos romanos, que queriam ordem a todo custo no Império. Assassinou, por ciúmes, a princesa Mariane, descendente dos Macabeus, que ele, porém, amava. Mandou matar três dos próprios filhos, por receio de que conspirassem para tirá-lo do trono” (Site Caminhado com Ele, Revista de Espiritualidade). Mandou matar os inocentes para liquidar com o Menino Jesus, o Messias esperado dos Judeus. Os Santos Inocentes não morreram por Cristo, mas no lugar de Cristo.
4.Jesus nasce num ambiente em que a barbárie do poder fazia parte do cotidiano. No meio do sofrimento Ele é a esperança de todos os tempos. A esperança é uma virtude teologal que o Senhor restaura em Israel e no mundo todo. Somos os filhos da esperança, cremos na vida eterna, cremos na misericórdia e na salvação de nosso Deus. A esperança não é uma realidade estática dentro do cristão, mas uma dinâmica que o desinstala da comodidade para ir à luta, sabendo que a Graça do Bom Deus sempre nos impele a irmos adiante, sem medo e sem esmorecer-nos. Quem espera não fica esperando, age, vai a luta!
5.A Igreja é filha da esperança inaugurada pelo Messias a partir do mistério de sua encarnação e nascimento. A gruta de Belém continua a ecoar em nós e no coração da Igreja que a paz, a fraternidade, a solidariedade, a justiça e o amor são possíveis. O ódio, a violência, a discriminação não podem ocupar lugar no coração dos cristãos. Nestes tempos de corrupção generalizada no nosso País o Menino Jesus nos questiona a partir de sua pobreza e humildade: por que tanta ganância? Por que se corromper com riquezas espúrias se tudo passa? A corrupção subtrai o direito dos pobres e ceifa o futuro das crianças.
6.Quem são os herodes de hoje? São os que matam com a corrupção os sonhos das crianças e das famílias. Onde estão os herodes de hoje? Muitos estão atrás das grades das prisões por terem desviados milhões e colocado a Nação em situação vexatória. Outros, em grande maioria, continua no caminho de suas sanhas roubando e desviando recursos da saúde, da educação, da segurança e do bem estar social. Podem esconder-se da justiça dos homens, jamais da Justiça Divina. Mais cedo ou mais tarde começarão a viver o seu inferno desde aqui na terra. Essa é também a sina dos traficantes de drogas que vendem a morte a tantos jovens. Igualmente será cobrada a atitude dos que, a modo de Herodes, promovem a matança de inocentes através da legalização do aborto.
7.Em meio a tantas situações de morte, os cristãos são chamados a testemunhar o Amor de Deus e a promover a cultura da vida. A Igreja sempre foi e o será uma servidora da vida a partir da fé, pois se difere das Ongs e outras instituições que nivelam sua ação na realidade visível e imanente; ao contrário, a Igreja está no aqui da história, mas o seu olhar e objetivos são para o além do aqui, para a eternidade com Deus. Através da pregação da Palavra de Deus, do incentivo à oração e à celebração do Mistério do Ressuscitado que se evidencia nos sacramentos, a Igreja nos prepara para a vida em Deus e com Deus na eternidade.
8.Os ministros ordenados (diáconos, presbíteros e bispos), são antes de tudo, dispensadores desse Mistério através da Divina Liturgia e sua vitalidade celebrativa. A liturgia é alma e a vida da Igreja. Sem a liturgia bem celebrada, bem internalizada na vida, as estruturas pastorais e os serviços sociais na Igreja perdem sua eficácia sobrenatural e tudo se descamba no sem sentido do ativismo relativista.
9.A Igreja pede de você, queridíssimo ordenando, vigilância na oração. Um dos encargos confiados a você consiste precisamente em dar voz ao Corpo místico de Cristo por meio da Liturgia das Horas. Com a recitação dos salmos e das demais orações do breviário, será elevada ao Céu a oração de louvor em nome da Igreja e em favor da humanidade. Por isso, trate de cumprir este encargo com aquela piedade e aquele amor que se via na vida de S. Josemaria Escrivá, que recolheu num ponto de seu escrito Forja: Era assim que um sacerdote desejava dedicar-se à oração, enquanto recitava o Ofício divino: “Terei por norma dizer no começo: quero rezar como rezam os santos, e depois convidarei o meu Anjo da Guarda a cantar, comigo, os louvores ao Senhor” (Forja, n. 747). E logo acrescenta, estendendo o conselho à oração de todos os fiéis: Experimenta este caminho para a tua oração vocal e para fomentares a presença de Deus no teu trabalho (Caminho 91). A oração litúrgica e mental deve te acompanhar na vivência de seu ministério até o término de sua caminhada sobre a terra, ajudando-te a santificar pela via de seu trabalho.
10.O Sacramento da Ordem nos confere o ofício, mas não a santidade. Esta o ministro de Deus deve buscá-la no dia a dia de suas atividades. A santidade advém às nossas almas através da nossa entrega sem reservas a Deus e ao seu serviço. Fazer a vontade d´Ele, servi-lo com alegria na pessoa dos irmãos nos garante esse maravilhoso dom da santidade. Não buscar a santidade é um contra senso na vida de um ministro ordenado.
11.O Papa Francisco durante seu pontificado, não poucas vezes, tem pontuado os graves defeitos de vida dos ministros ordenados, incluindo ai os bispos. Desde a falta de oração, a falta de amor ao povo e às ovelhas sofridas, o apego às coisas do mundo e às riquezas, o mundanismo perverso do lobby gay que está também em certas estruturas da Igreja, maltrata a santidade do Povo de Deus. Dias atrás o Pontífice foi duro ao dizer que um padre gay que vive o pecado dessa situação deve imediatamente deixar o ministério. Se um ministro é pedófilo, disse o Papa, deve entregar-se às autoridades. Enfim, na Igreja não há lugar para ministros ordenados em situações como essas. Há lugar, sim, para quem deseja ser santo.
12.O ministro ordenado que não submeta sua vontade à Graça de Deus não prospera no ministério, cai facilmente e expõe a comunidade e sua família ao vexame. Portanto, vale-nos lembrar os diáconos, padres e bispos reconhecidos como santos pela Igreja que em suas vidas não tiveram nada de extraordinário que os levaram à honra dos altares, simplesmente viveram com intensidade o ordinário da vida com fé, fidelidade, obediência, castidade, amor e serviço aos pobre e amorosa submissão à vontade Deus.
13.Esse deve ser seu plano de vida, caro ordinando: fazer a vontade de Deus. Nesta celebração você abraça o estado do celibato e com ele a beleza do ideário da vida casta. O ministro de Deus não precisa acumular bens materiais, pois seu bem maior é o sacrário, o confessionário e o rosário. Nesse tripé está nossa riqueza! Isso basta! Um ministro ordenado entra em crise quando abandona esse tripé. Para compensar o triste abandono precisa buscar compensações nas criaturas; aí começa a apostasia, a separação do ideário da Igreja. Aceitando errôneamente o desencanto com as coisas sagradas, tão antigas e tão novas, o laser, o excesso de viagens, de TV, de filmes, a escravidão da moda e a desobediência ao Bispo e a falta de compromisso com o povo e com os pobres o direciona ao abismo dos vícios e da imoralidade. Triste o povo de uma paróquia onde um ministro ordenado entra em crise e passa a viver tais situações. A vida eclesial passa da saúde espiritual para a enfermidade da acídia e da perdição.
O ministro santo, pobre, casto e obediente, com seu exemplo, pode mudar não somente a paróquia, mas a cidade, a diocese e a Igreja toda.
14.A Diocese espera muito de você, caro Ítalo, com seu trabalho e sua busca pela santidade cotidianamente, já tão presentes na sua vida de consagrado ao longo de tantos anos. Hoje, por Graça de Deus, te conferirei a Ordem Sagrada, mas não tenho poder de te conferir a santidade. Essa depende do seu empenho e sóbria dedicação. Fuja das más companhias com quem quer que seja inclusive dos ministros e consagrados que não são virtuosos. Tenha um bom diretor espiritual e recorra a ele sistematicamente uma vez por mês ou mais se precisar. Conte com seu Bispo e com o clero que hoje te acolhe como mais um irmão que chega para servir e doar a vida nesta Igreja Diocesana.
15.Peço aos sacerdotes que acolham com amor o novo Diácono que, sendo da vontade de Deus, será ordenado sacerdote no próximo dia 14 de dezembro em Rubiataba. Aos religiosos e pessoas de vida consagrada que o sintam como um irmão que chega para amar e servir e orem por ele. Ao povo de Deus solicito que reze pelo novo Diácono e por todo o clero, seminaristas e pelas vocações em geral. A oração dos fiéis é importantíssima para nos manter de pé e felizes no ministério. Aos seus pais, seus irmãos e familiares, exorto para que sejam intercessores assíduos do filho que deseja subir os degraus do altar como sacerdote; uma ordenação na família é uma grande bênção e um especial chamado a santidade da parte de todos os familiares. É um sinal de cura para o pai e para a mãe que devem se santificar com o filho ordenado. Vocês familiares são chamados a serem santos com esta ordenação; pois a santidade de vocês será importante para a santidade do filho ordenado. Aos seminaristas peço que se motivem a partir desta ordenação tão importante para nossa Diocese e para o incentivo de vocês no caminho da fidelidade a Deus no processo formativo do seminário. Seminarista que busca a santidade será, com certeza, um padre santo.
16.Jesus disse em João 6, 38: “Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Que a Santíssima Virgem Maria, a Senhora da Glória, Padroeira da Diocese, interceda por ti, estimado filho, para que possas fazer a vontade de Deus como diácono, como sacerdote em toda sua vida. Assim seja.