Discurso de posse na Academia Campista de Letras (Campos-RJ)
Discurso de posse do escritor Ronaldo Henrique Barbosa Junior na Academia Campista de Letras (fundada em 1939 em Campos dos Goytacazes-RJ), na cadeira 07 da instituição, patronímica de Eloy Ornellas, ocupada anteriormente por Marília Bulhões dos Santos Carneiro.
Senhor Presidente da Academia Campista de Letras, demais integrantes da mesa, senhores Acadêmicos e visitantes, meus cumprimentos a todos.
Chego a esta casa não por minha autêntica afeição às letras, mas por minha intensa necessidade de ver o mundo além do que as superfícies me apresentam, buscando transformar fatos e feitos por meio de palavras e sentimentos. Pode não haver, talvez, em minha pouca idade, o tanto de vivência necessária para dizer o que conheço da vida, mas afirmo, porém, que o tanto que vivi já me transborda o bastante para traduzir minhas inquietações em versos a cada dia mais experimentais.
Além disso, ser aceito para figurar ao lado dos insignes intelectuais desta Casa me faz crer que escolhi acertadamente trilhar o caminho em busca da constante persecução dos meus princípios e da rotineira revisão dos meus ideais.
Não posso deixar de lado, portanto, a história de pessoas que participaram da edificação dos pilares da Academia Campista, por isso, quero falar da honra que tenho em suceder a falecida Escritora e Promotora de Justiça Marília Bulhões dos Santos Carneiro também nesta Casa, já que, por afável coincidência, ocupo sua cadeira também na Academia Pedralva Letras e Artes.
A última ocupante da Cadeira número 7 publicou quinze obras de reconhecida importância, bem como foi agraciada com diversas condecorações ofertadas por instituições que reconheceram sua atuação em prol da Justiça e da cultura. Veio a falecer aos noventa anos em fevereiro de 2014.
O patrono da cadeira que passo a ocupar, poeta boêmio, de grande sensibilidade para as vibrações urbanas que o rodeavam, era um verdadeiro flanêur da Planície Goytacá, flanando pelas ruas do centro e traduzindo o que sentia em versos publicados em variados periódicos, verdadeiro pintor dos dias de sua época.
Refiro-me ao poeta Eloy Ornellas, nascido em Morro do Coco, distrito de Campos, no dia 24 de agosto de 1872. Por não ter biógrafo, poucos detalhes de sua vida são conhecidos, e o que se sabe tem por base relatos de quem com ele conviveu publicados em jornais da época.
Trabalhou como comerciante na roça, passou pela carreira ferroviária na velha Estrada de Ferro Leopoldina e, na maior parte de seus anos, foi funcionário postal em Campos, identificando-se poeticamente com o centro da cidade e com o Rio Paraíba do Sul.
Certo dia, movido pelo desespero de não poder custear a publicação de uma antologia poética, além de se encontrar sofrendo uma moléstia que já lhe desvanecia as forças vitais, incendiou os poemas que pretendia publicar sob o título “Ai!”, antologia composta por versos e notas pessimistas, a partir do que suspendeu a publicação de seus versos na Folha do Comércio, a fim de evitar boatos sobre seu gesto irreparável.
Não eram seus versos, no entanto, construídos apenas por morbidez e pessimismo, sendo Eloy Ornellas muito conhecido por sua curiosa personalidade satírica, bem como por sua faceta incuravelmente romântica, conduzida pela exaltação a uma dama de sua época.
Veio a falecer no dia 08 de janeiro de 1925, deixando suas marcas literárias na história desta cidade, as quais espero poder honrar e divulgar com a sensível irreverência com que o poeta levou toda a sua vida.
Por fim, quero assinalar que minha caminhada possui profundas influências de pessoas por quem guardo imenso carinho e gratidão: meus pais, Ronaldo e Andréa, pela disposição incansável em prol do meu desenvolvimento enquanto pessoa; minha namorada, Ana Paula, companhia com a qual posso contar para todas as horas; meus padrinhos literários, Fernando da Silveira e o saudoso Agostinho Rodrigues – a quem presto homenagem -, ambos responsáveis por me despertar intenso entusiasmo pelas letras; meus professores, partícipes de minha formação acadêmica e humanística; meus confrades da Academia Pedralva Letras e Artes, companheiros de esforços em prol da cultura campista; meus queridos amigos do Instituto Federal Fluminense e da Faculdade de Direito de Campos, principais motivos das memórias afetivas que guardo dessas instituições tão importantes em minha história; meu caro parceiro das empreitadas artísticas, Carlos Augusto Alencar, a quem agradeço pelo privilégio da parceria e pela bondade das palavras iniciais; e, também, ao querido Dr. Wellington Paes, sempre de portas abertas para falar da grandeza histórica e literária desta cidade, a quem agradeço pela colaboração material para este pronunciamento. A todas essas personalidades, dirijo meus sinceros agradecimentos por cada gesto dedicado a mim.
Aos confrades que hoje me recebem nesta Casa, afirmo que reconheço a resistência cultural exercida pela Academia Campista de Letras durante seus 79 anos de existência e garanto que alcanço o posto de acadêmico com a vontade de transformar o futuro por meio de cada gesto praticado no tempo presente, pois as revoluções, como costuma afirmar o professor Hélio Coelho, são construídas quando agimos com vistas para o tempo histórico, sem a pressa exigida pelo tempo biológico.