Sentimento de impotência...
A sensação é de impotência.
Estudar, se informar, conversar com pessoas que procuram sempre se atualizar e que se afligem com as disparidades entre os indivíduos... E ver que nesse momento, nada disso está trazendo empatia. Essa talvez seja a mais dolorosa impotência que pensei não fazer parte de um país que respira os ares do século XXI, mas, que corre um risco iminente de invalidar as vidas perdidas do passado, por não ter empatia com a atual situação.
Toda tentativa de esclarecimento não passa de sublevação de um grupo de comunistas que tentam impedir o país de "voltar às rédeas curtas". O que assusta é ver que sentimentos saudosistas, em grande parte, não trazem à mente os momentos ruins. Especialmente em situações de ilusão, como o fato de pensar que um governo autoritário tenha sido no todo bom para sua população. Isso não é verdade. Se fosse, não existiria uma luta mortal das nossas instituições para manter as anistias e salvaguardar em sigilo o máximo de fatos arquivados que porventura pudessem implicar em investigação dos anistiados de 1964.
O mais entristecedor é ver gente relativizando questões de crime contra a humanidade, como essa. E nem preciso falar sobre já ter lido comentários de pessoas que dizem que o holocausto nunca existiu... Não vou ir tão além nisso, porque já é triste criar um texto em que poucos lerão, e que destes, boa parcela não levará nenhum ponto a sério, porque não conseguem mais sentir. Perderam a capacidade de ter empatia.
Não consigo ter nenhuma afinidade moral com quem tenta eufemizar a figura de alguém que defenda Brilhante Ustra. E sobre isso, deixo uma questão: como é que alguém que defende a memória de um torturador, ocultador e assassino como o Ustra, consegue levantar a bandeira da pena capital? Veja, não falei dos religiosos que defendem pena de morte (que também é uma dicotomia). A contradição vai além, estou questionando aqueles que defendem a pena capital para criminosos, mas, concomitantemente, fazem apologia indireta às memórias de Ustra (que só não é considerado criminoso, por ter sido anistiado) ...
A situação pode se repetir com outros personagens, mas, centre-se no cerne... Notou o paradoxo?
Não sei se tudo isso não passou de lixo textual, que será descartado nas inutilidades que tens lido por aí. Mas, espero que ao menos sirva para alertar que não estamos falando sobre o risco do Brasil virar uma Venezuela (se tivesse que adotar as mesmas medidas que esta, já teria feito isso antes). O alerta mais crucial e que gera sensação de impotência por não reverberar, é que o risco maior nesse momento, é perdermos nossas liberdades. Talvez não faça nenhum sentido prático para você, e muito provavelmente parece mais um drama do que realidade, porque pelo menos a minha geração, só respirou democracia. Mas, não queira experimentar viver numa crise democrática em que alguém que ascenda ao poder, fale de autoridade, faça apologia à torturadores e priorize militares em cargos estratégicos. Isso no mínimo é algo que deveria te deixar em alerta.