OS “CAFETÕES DO VOTO”

Quando a honra e a dignidade de um povo são negociadas por “atravessadores” em troca de favores pessoais

*Por Antônio F. Bispo

Para boa parte de nossa sociedade ocidental, o conceito de “moralidade cristã” quanto aos termos “prostituir-se” e “prostituição” estar intimamente ligado apenas ao fato de alguém ofertar ou emprestar o próprio corpo para satisfazer a libido de outrem em troca de dinheiro, objetos de valor ou posições de destaques nos mais diversos campos sociais. Desse modo, cafetão seria aquele que intermedia secreta ou abertamente tais contatos e que lucra com tal atividade, sendo que em certos casos passa a obter um lucro ainda maior, o mesmo passa a chantagear uma das partes envolvidas por saber que tal “imoralidade” fora cometida por algum cliente importante e poderoso, ou quando mantém as suas “funcionárias” trabalhando em regime de escravidão.

Muitos dos principais consumidores dos serviços de sexo pago, são justamente os primeiros a condenarem não apenas a prática do ato, mas acima de tudo quem as pratica, como se fosse possível a prática dessa ação de modo solo, sem a cooperação de outra pessoa igualmente interessada ou conivente. Se existe a oferta é por que existe a procura, mas a hipocrisia cristã condena apenas o ofertante e não o procurador.

Na idade média por exemplo, a igreja católica fazia fortunas sendo dona de dezenas de bordeis clandestinos ao mesmo tempo em que condenava abertamente em seus altares tais práticas. O dinheiro obtido pelos serviços das moças (ou rapazes) era “santo” e bem vindo, mas os pobres praticantes do ato eram desprezadas pela sua “impureza” e mal vistos por boa parte da sociedade.

Quem sabe se não foi se espelhando nas atitudes de “homens de deus” como esses ao longo da história, que várias pessoas de influencias social começaram a agir de modo igual, repetindo o ato de condenar a prática de algo beneficiando-se desse mesmo serviço que condenam nos outros.

Hipocrisia é o que não falta entre os que afirmam viver em uma “sociedade cristã”, e quanto mais cheio de deus um povo ou uma pessoa se diz ser, mais cega, hipócrita e contraditória com certeza estas serão na hora de conciliar o que pregam com o que fazem. São capazes apenas de ver os “erros” dos outros, enquanto ocultam o maquiam o seus.

Será que “alugar o corpo” por alguns minutos como meio de sustentar a si mesmo numa sociedade desarmônica é tão feio como levar outras pessoas a “prostituirem” o voto delas, valendo-se da posição de destaque e influencia social que tal pessoa ocupa?

Para os que aliciam o corpo de pessoas no intuito de obter lucro com a oferta de prazeres carnais consideramos isso como sendo algo muito feio, desonroso e desprezível, mas os que aliciam e administram verdadeiros currais eleitorais puramente em troca de dinheiro ou favores pessoais, a essa pessoa chamamos de gente “esperta” ou “sabida”. Existe uma hipocrisia maior que essa? A de condenar um ato que se por acaso for danoso (prostituir o corpo) será apenas para que o faz, enquanto cultuam pessoas que com suas práticas de “prostituição eleitoral” afetarão toda uma sociedade? Cafetão de cabaré é feio, mas cafetão de voto ou de urna é bonito! Pode isso?

Não estou dizendo que toda agências de publicidade, que todo cabo eleitoral ou que todo mundo que pede voto para um candidato qualquer seja comparado a um cafetão eleitoral. Muitos o fazem por que confiam na pessoa ou em seus ideais naquele momento e não há nada de errado nisso. É normal, é justificável e democrático esse tipo de atitude no processo eleitoral, mesmo com uma possibilidade grande de que esse candidato venham decepcionar aquela pessoa ou toda uma sociedade no futuro, muito o fazem de forma voluntária ou até investem recursos próprios acreditando em um sonho coletivo que será realizado por meio de tal candidato escolhido.

Se tal propaganda também será feito no perfil de rede social do indivíduo ou se será tatuado na própria testa deste mesmo eleitor, isso também é opção de cada um e deve ser respeitado em sua individualidade. Todos podem defender ou “atacar” dentro dos limites possíveis aquele que melhor lhe representa (ou não) e nem por isso devem ser taxados como “coxinhas”, “mortadelas”, “petralhas”, “bolsominions” ou “cangaciros”. São apenas eleitores, com ou sem manifestação pública de intenção de voto!

Comparo a “cafetães do voto” aqueles que valendo-se de suas posições sociais de destaques, recebem pequenas ou grandes somas de dinheiro e favores pessoais (ou grupais), para persuadirem membros desta mesma comunidade a votarem em determinado candidato por tais favores recebidos.

Tais aliciadores não se importam com a índole do candidato em questão, com seu passado, com seu projetos futuros ou se nem sequer tal pretensor a cargo público tem realmente um projeto ou se apenas deseja “mamar nas tetas” do dinheiro público. Para os tais, pagando-se o valor combinado é o que importa! Eles não lutam por um ideal, por uma causa, por um povo! Apenas trabalham para quem pagar mais e pronto e o resto que se lixe! Esses sim, além de se prostituirem, ainda levam tantos outros a fazerem o mesmo, tratando os tais como se fossem ovelhas sendo conduzidas para o matadouro e fazem isso valendo-se de sua posição e autoridade que exercem.

Vereadores por exemplo, deveria ser eleitos para cooperarem na administração pública do município onde residem pois para isso é que foram eleitos. Mas muitos deles estão ocupando os cargos apenas para garantirem uma certa quantidade de votos para aqueles que financiaram suas campanhas. Na maioria dos casos os tais são financiados por deputados de mesma índole e esses por sua vez, auxiliam na eleição desse ou aquele governador e senador, que o retribuirá com algum privilégio valendo-se da máquina pública. Geralmente esses tais, são tão caras de pau que são os primeiro a defender em ato público a democracia social e suas benesses como se isso realmente fosse importante para eles.

Como pode haver democracia quando um representante público cumpre apenas função particular? Óleo de peroba para passar na cara destes não vai resolver, pois vergonha na cara é o que eles menos têm, nem tão pouco resolverá esse infortúnio algum tipo de sanção judicial para coibi-los, pois os que agem assim, construíram bases sólidas em vários setores para que autoproteção entre eles mesmos seja requisitada sempre que necessário. A impunidade é a certeza que a grande maioria têm, e o cenário político em nosso país dos últimos 40 anos mostra claramente isso. O não deixar-se se prostituir por candidatos como esses em período eleitoral é o único meio de enquadra-los em seus devidos lugares que é fora do pleito eleitoral.

O que dizer então de um líder religioso que literalmente obriga os membros de sua igreja a votarem no candidato X ou Y só por que tem cargo majoritário entre essa membresia? Como podemos chamar uma pessoa desse tipo? Como podemos definir esse tipo de atitude? Isso seria apenas abuso de autoridade ou há algo mais além disso?

Estranhamente, segundo esse tipo de liderança, a “casa de deus” nesses períodos eleitorais sempre precisa de reformas, de pinturas, de aparelhos de sons e tantos outros benefícios que nem “deus em sua infinita riqueza” nem os dízimos e ofertas recolhidos diariamente do povo foram capazes de resolver, ai precisam apoiar aquele candidato “enviado por deus” para “abençoar o seu povo”!

Como tudo na igreja é um mistério de deus, o dinheiro do povo mal administrado ou usado de forma pessoal por alguns líderes também é outro mistério que ninguém consegue explicar. Ou será que também o “devorador” estar entrando também nesses recintos para trazer misérias, ruinas e escassez de recursos na própria “casa de deus”? Esse deus é tão bom, que nessas horas até aparece candidato do nada, “escolhido por deus”, para “ajudar as igrejas”. Não é lindo?

Para quem faz parte ativamente de associações religiosas cristãs estar ciente que nesses períodos eleitorais, em boa parte das igrejas evangélicas por exemplo, vários líderes religiosos declaram estar apoiando publicamente esse ou aquele candidato e praticamente impõe sua escolha a igreja como um todo.

Será que realmente foi a igreja quem escolheu ou a liderança que ganhou algum tipo de favor em troca disso? Nada contra uma comunidade religiosa escolher no coletivo alguém para votar, mas em se tratando de uma associação, esse tipo de entendimento jamais poderá ser tomado por apenas uma pessoa da liderança ou pelo corpo hierárquico da igreja. Tem de ser feito por todos os membros em atividade e declarado público apenas se a maioria concordar, senão, a intenção de voto deve ficar em secreto, cada um fazendo sua escolha no que achar melhor ou mais certo, e todos sendo respeitado por essa decisão.

É sabido que em muitas dessas denominações nesses períodos de campanha, os membros sofrem coações psicológicas por meio de humilhações em público e proibição de participar de algum rito litúrgico da igreja caso venha desobedecer ao “homem de deus”. Por detrás desse tipo de atitude, se pesquisares possivelmente encontrarás alguns desses líder cristão “lavando a jega”, ou seja: levando vantagem pessoal indevida enquanto faz da igreja literalmente seu curral eleitoral, já que classificam a todos como sendo ovelhas.

Em situações semelhantes, há dezenas de outros casos também em que o líder religioso local não se beneficiou de modo pessoal em nada para induzir toda uma a igreja a votar em determinado candidato, porem ele o faz por que tem de seguir a ordem do corpo hierárquico de seu ministério, obedecendo cegamente seus superiores e obrigando outros também a obedecer algo que na prática seria livre: o direito ao voto!

Em ambos os casos, tanto recebendo favores pessoais para induzir o voto ou induzindo o voto por obrigação religiosa, tais líderes estão desrespeitando a nossa constituição e a vontade pessoal dos afiliados daquele grupo, passando então por cima da lei, quando deveria ser a primeira a dar exemplo, já que auto denomina como “noiva pura do cordeiro”!

“Crente vota em crente e quem não votar é rebelde, e rebelde deus vai pesar a mão”! Essa é uma das citações de imposições que eles mais usam para manipular a intenção de voto dos membros de uma igreja.

Se nos alongarmos nesse assunto, poderemos encontrar “celebridades”, líderes comunitários, de associações além de pequenos e grandes empresários também metido até o pescoço em atitudes semelhantes, recebendo benefícios particulares para induzir seus fãs, funcionários, associados ou subordinados a votarem em um candidato específico e quando encontram resistência usam de suas posições para coibir o que resiste, tratando-o como se esse fosse um desonesto, um rebelde indisciplinado por defender direitos que a nossa constituição lhes resguarda.

Se as pessoas entendessem o real significado do termo política e suas aplicações para formação e manutenção de uma sociedade, os deuses e seus derivados como contado nas culturas de cada povo, teriam de nos pedir a benção e nossa permissão para se “manifestarem” entre nós, de tão sofisticada que nossa sociedade seria.

Não é sendo pelego de político ou “cafetão de urna” e nem transferindo nossas responsabilidades pessoais para um punhado de pessoas que mal sabe o que significa política, que iremos construir uma sociedade melhor.

Com a política e o direito sendo entendidos e praticados de forma real pela maior parte dos indivíduos, nossa sociedade perfeita poderia deixar de existir apenas no campo das ideias e passaria a fazer parte de um cotidiano daquilo que poderia ser comparado a uma “sociedade angelical”.

Do povo, para o povo e em favor do povo! Ou entendemos e aprimoramos isso ou passaremos anos a fio rodando em círculos e transferindo nossas responsabilidades para seres do campo metafisico e para políticos corruptos, eleitos por influencias de “cafetões do voto”.

O poder estar em nossas mãos. O voto pode e deve ser algo racional e não meramente emotivo, como se fosse uma torcida organizada de um time. Os políticos devem ser eleitos pelas suas posturas e seus projetos e não pela quantidade de dinheiro que põe nas mãos de aliciadores e seus asseclas.

Apesar de o termo política estar sempre associado a ladroagem ultimamente, é por meio dessa ferramenta que poderemos mudar a cara de toda uma sociedade. É fundamental que o termo seja reavaliado de modo geral e repassado ao povo seu real significado para que os que tem competência e vocação para o cargo comecem aos poucos irem ocupando suas posições, expulsando os oportunistas dos lugares onde jamais deveriam ter estado.

Saúde e sanidade a todos.

Texto escrito em 16/9/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 16/09/2018
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