Espiritualidade e Capitalismo
O propósito deste texto é iniciar possíveis discussões, problematizar a questão das buscas espirituais do homem pós-moderno, este Ser que habita a Tecnologia como fonte de existência, mas que se perde frente às demandas da sociedade pós-moderna, "líquida", como diria Baumman, afastando-se da realidade vazia do próprio Eu.
Observa-se que os novos guias espirituais, na verdade, o retorno a eles: pastores, padres, gurus, terapeutas, entre outros, assumem uma afinidade discursiva no que tange aos dizeres de autoconhecimento: o homem pós-moderno resiliente à vida do sistema capital. Nesse sentido, muito instiga a minha colocação de que os guias iluminados desta geração afirmam a docilização do homem, em termos foucauldianos.
As palavras de conforto reverberam a necessidade de resistência de uma provação, de uma dor, de um desapego da vontade própria, sim, estamos em constante liquefação para alcançar um estágio de iluminação espiritual, algo que os mestres detêm para si, melhor, que dizem possuir.
Uma vez que uma mente fragilizada por alguma tormenta, algo exterior ao Ser, encontra-se com os mestres, passa a ser docilizada, "passilizada" para responder às demandas da vida, vida pós-moderna amparada no sistema capitalista.
O lucro que a espiritualidade, a busca por ela, ocasiona aos mestres espirituais é alto. Nessa linha, Jesus afirmou que de graça recebemos,
de graça damos, o que não acontece: o homem pós-moderno está apto a pagar por sua elevação espiritual, o que mostra a contradição
da iluminação: desapego ao consumismo.
O capitalismo comprou o espiritual e vende doses de sabedoria, doses de frases de causa-efeito com certo tom melancólico para fazer parecer
que há uma verdade divina por trás da coisa mais simples: a vida é dor, morte e sofrimento. Schopenhauer mandou abraços do Além.
Sejamos coerentes enquanto homens pós-moderno, a espiritualidade que vendem está embalada e tem data de validade. No futuro próximo, o sistemado capital trará mais o quê para docilizar sua mente frágil? Uma nova religião?
Workaholic parece um termo bom para uma nova religião: afinal, só o trabalho salva, ou não... é muito difícil lidar com nosso Eu.