SERMÃO: SÃO FRANCISCO, HOMEM DE COMUNHÃO

“E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo”

(Apocalipse 7, 2)

Ao contemplarmos, com admiração e Fé , a transfiguração realizada pelo Espírito Santo na pessoa e na obra de nosso Seráfico pai São Francisco de Assis, não podemos senão sentir o fogo do amor aceso por Cristo em sua fornalha de amor na sua paixão em Jerusalém: “Estamos diante de uma realidade mística e profundíssima: ninguém a conhece, a não ser quem a recebe; ninguém a recebe, se não a deseja; nem a deseja, se não for inflamado, até à medula, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou ao mundo. Por isso, o Apóstolo diz que essa sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo (cf. 1Cor 2,13). Se, portanto, queres saber como isso acontece, interroga a graça, e não a ciência; o desejo, e não a inteligência; o gemido da oração, e não o estudo dos livros; o esposo, e não o professor; Deus, e não o homem; a escuridão, e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unções suavíssimas e afetos ardentíssimos. Esse fogo é Deus; a sua fornalha está em Jerusalém. Cristo acendeu-a no calor da sua ardentíssima paixão”, conforme São Boaventura no Itinerário da mente para Deus.

Contemplando esse augusto mistério, o ser humano é elevado pelos degraus da iluminação ,purificação e união; até que a criatura humana, plasmada pelo Verbo e pelo Espírito do Pai, à imagem da Santíssima em indivisa Trindade, torne-se mais e mais semelhante ao Senhor , “imagem eterna do Pai invisível, o primogênito de toda a criação “(Cl 1,15), até ser perpassado pelas energias do Amor Divino e assunto à divina transfiguração no seio daquele que é, que era e que vem e sempre renova , na Palavra e no Espírito , todas as coisas. (cf. Apc).

Por isso, exclamava o Patriarca de Assis, “Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações, dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).” (Carta a todos os fiéis)

Em Francisco de Assis, homem católico e todo apostólico, admiramos como o Espírito Criador escreve em letras de fogo de Amor na carne do homem pecador que se abre para a graça, a plena Semelhança do Filho eterno de Deus, fazendo transparecer o seu reflexo, rebrilhando-se como divina imagem no alicerce do nosso ser. Em Cristo e no Espírito, viemos do Pai e retornamos para Ele no mistério da nossa salvação. São Francisco de Assis, Arauto do Senhor Onipotente e misericordioso, tornou-se irmão em Jesus Cristo, membro da Santa Igreja, possuído pelo Espírito de Deus e sua santa operação; sob a proteção materna de Maria, virgem feita a Igreja, mostra-nos como viver a comunhão universal, realizando a imagem e semelhança que recebemos de Deus, “buscando e amando antes de tudo a Deus que primeiro nos amou (cf. 1 Jo. 4,10), e procurando em todas as circunstâncias cultivar a vida escondida com Cristo em Deus (cf. Col. 3,3), da qual dimana e se estimula o amor do próximo para a salvação do mundo e edificação da Igreja. É também esta caridade que animou e regeu a sua prática dos conselhos evangélicos” (cf. Perfectae Caritatis 6)

O Deus altíssimo, sumo bem, em si mesmo é comunhão perfeita de pessoas, com o Pai, princípio sem princípio que gera eternamente seu Verbo, o Filho, e expira junto ao Filho unigênito o Espírito de Amor que é vínculo de caridade entre o Pai e o Verbo. Em Deus, Uno e Trino, há uma dinâmica perfeita, circulação eterna de vida e de Ágape nas suas relações ao interno da Sua Trindade, onde impera a verdade, a beleza e a bondade.

Deus é ato puro de Amor (cf. Sto. Tomás de Aquino), paternidade e filiação; ali onde está um da Trindade, sempre circula plenamente na Sua profundidade os outros dois e, vice-versa.

São Francisco contemplou, por graça e divina inspiração, essa perfeita comunhão divina e, no seu caminho de discipulado até a configuração Pascal com o Senhor crucificado e glorioso, tornou-se homem à estatura de Cristo e arauto da comunhão com tudo aquilo que era : "corpo , alma e espírito" (Ts 5, 23); pelo corpo se fez irmão das criaturas mundo do mundo material como as pedras, as plantas, os pássaros e o Lobo; pela alma, psique, fez-se homem de relação fraterna com todos os homens e mulheres como Antônio, Leão e Clara de Assis e, sobretudo, com seu espírito, entrou em comunhão com Deus, tornando-se pelo Espírito Santo, templo do Verbo eterno, Jesus Cristo, a quem recebia com profunda adoração e luminosidade espiritual em cada Eucaristia que recebia na participação da Santa Missa, presença real do nosso salvador sob as figuras do pão e do vinho consagrados.

São Francisco na sua vida que é o Evangelho vivido, ensina-nos e guia-nos no caminho da comunhão que é o próprio Jesus Cristo, nosso Senhor.

Por tanto, oremos com as suas palavras:

"Ó glorioso Deus, altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, Concedei-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um amor perfeito. Dai-me Senhor, o reto sentir, e conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que verdade acabais de dar-me"

Amém