Discurso de Posse - AGLAC
Membros da mesa, amigos e amigas, acadêmicos e acadêmicas, meus pais e minha irmã, é um prazer e uma honra estar aqui hoje na minha posse como acadêmico. Este momento é uma grande emoção que muito me traz contentamento por saber que sou tão carinhosamente e tão honradamente acolhido na AGLAC.
Para falar do meu Patrono, Marechal João Batista de Mattos, e do meu Antecessor, Major Antônio Bispo dos Santos, antes preciso fazer um pequeno prelúdio. Apesar de possuir muitas datas e relatos de fatos e apesar de trazê-los aqui, não quero enfocar propriamente estes dados. Uma pesquisa minuciosa no Arquivo Histórico do Exército e, por vezes, até na internet, pode fornecer informações, datas, fatos e acontecimentos de forma exata e sem dúvidas. Mas, hoje, eu gostaria de abordar a vida do meu Patrono e do meu Antecessor de modo a enfocar a essência da personalidade destes dois ícones do cenário cultural e histórico brasileiros. A essência deles como combatentes do Exército, como escritores, como homens de cultura e arte, como pensadores e, principalmente, como pessoas quando em vida, almas espirituais e bem-amadas de Deus.
O Marechal João Batista de Mattos, nascido em 24 de janeiro de 1900, natural do Rio de Janeiro, na época capital brasileira, foi neto e bisneto de escravos. Em 1918, poucos anos decorridos da Abolição, torna-se Cadete do Realengo, ingressando no Exército. Em 1920, torna-se aspirante a oficial da Arma de Infantaria. A sua turma de 1920 daria ao Brasil outros marechais, como ele próprio. Em maio de 1921 torna-se 2º. Tenente. Em 3 de novembro de 1922 torna-se 1º. Tenente graduado efetivo. Em 7 de maio de 1932, Capitão. Torna-se Tenente-Coronel em 24 de junho de 1943. Chega ao posto de Coronel em 25 de março de 1949. General de Brigada em 26 de julho de 1955 e General de Divisão em 25 de julho de 1961.
O Marechal João Batista de Mattos esteve à frente de tropa em combate. Tornou-se o historiador dos monumentos brasileiros por excelência. Presidiu o IGHMB (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil) e a SBG (Sociedade Brasileira de Geografia). Foi soldado exemplar, educador dedicado e historiador eminente. Em 19/07/2000, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro registrou, no seu site, a homenagem ao Centenário de nascimento do Marechal João Batista de Mattos em sessão da CEPHAS (Centro de Educação Profissional Hélio Augusto de Souza). Em novembro de 2009, o site da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil registrou sessão solene da AHIMTB, Academia de História Militar Terrestre do Brasil, com palavras de homenagem ao Patrono da Delegacia da AHIMTB no Rio de Janeiro, cujo Patrono é o Marechal João Batista de Mattos.
A importância da atuação do Marechal João Batista de Mattos é muito bem relatada no Arquivo Histórico do Exército, como já disse. Mas, antes de passar a estes relatos das autoridades que demonstram esta fundamental relevância, gostaria de salientar os direitos de cidadania conquistados pela população negra ao longo do tempo no Brasil e assuntos relacionados. Sabemos da discrepância dos salários entre brancos e negros que muitas vezes ocorre no nosso país. As cotas raciais para ingresso em universidades vêm para amenizar essas disparidades e para resgatar a cidadania plena que é de direito, mas mesmo este sistema de cotas só pode ser entendido como um sistema temporário, e a solução reside em educação básica de qualidade para todos independentemente de cor, credo, gênero ou qualquer outra classificação concernente ao ser humano. A população brasileira não quer privilégios. Ninguém, em sã consciência, quer privilégios por ser branco, amarelo, pardo, vermelho ou negro. O que se quer é a garantia dos direitos de cidadania plena, de cada um em relação a todos e de todos em relação a cada um. Sem assistencialismos, sem falsos discursos demagógicos que visam manipulação ideológica e/ou eleitoral e político-partidária.
Portanto, os brasileiros como um todo, na sua imensa diversidade de raízes hereditárias e culturais tão díspares e tão numerosas precisam, sim, viver em igualdade, e que esta igualdade produza frutos de empoderamento à população, e não desavenças e desuniões por conta de diferenças raciais, econômicas, políticas, ideológicas ou partidárias. O Brasil como nação sempre rejeitou o fascismo, o nazismo, o racismo, a xenofobia e todas as ideias e pensamentos que possuem interesses contrários à essa igualdade, sejam eles oriundos de ondas de conservadorismo temporárias ou de políticas pseudo revolucionárias em discursos proferidas ao longo de décadas, demagogicamente.
Dito isto, passo aos relatos do Arquivo Histórico do Exército, obtidos por mim, na pesquisa, em março do corrente ano.
João Batista de Mattos, filho de Quintiliano de Mattos e Umbelina da Glória, nascida 9 anos depois da Lei do Ventre Livre em 1880, o que determinou sua condição livre. Seus avós foram escravos da fazenda do Visconde Taunay. E não é difícil imaginar que parte da vida de Dona Umbelina da Glória tenha passado na senzala, porque sua mãe só foi liberta em 1888 com a Lei Áurea.
Em sua carreira militar recebeu diversos elogios de oficiais superiores. Dentre estes destaco alguns:
Em 17 de setembro de 1920 foi elogiado em nome do Senhor Marechal Chefe do Estado Maior do Exército pelo espírito militar e interesse que revelou por ocasião da Parada de Sete de setembro em feliz cooperação para o êxito e bom nome da Escola. Em 22 de fevereiro do mesmo ano, foi novamente designado para servir de adido àquele Batalhão, conforme determinação do Senhor Comandante da Região, uma designação a um batalhão que já havia ocorrido anteriormente. Embarcou na mesma data com destino a Maceió, deixando por isto o Comando de Metralhadoras Mixta.
Em 1923, “Na ajudância do Batalhão: Por despacho de 22 do mês findo, foi transferido do Batalhão para o 5º. da mesma Arma, sendo a 2 do corrente, excluído do estado ativo deste Batalhão e lá, companhia, ficando adido até seguir o seu destino, deixou as funções de ajudante de Batalhão. A 7 apresenta-se pronto para reunião a sua unidade e foi desligado de adido. Na mesma data este Comando ao desligá-lo, declarou que cumpria um dever de justiça elogiando tão distinto oficial com uma orientação segura dos seus deveres, firmou entre todos os que com ele estiveram a convicção que é um dos belos ornantes da nossa classe.”
“Em 10 de março de 1923 foi dispensado do Comando da 3ª. Companhia sendo louvado pelo Senhor Major José Polycarpo Cavendish, ao deixar o Comando do Batalhão, pela inteligente dedicação ao serviço que na qualidade de ajudante e Comandante da Sub-unidades tinha revelado desenvolvendo-se em tudo, com atividade e zelo, sem entibiar-lhe a circunstância de não pertencer a este Corpo.” O Corpo que é citado refere-se ao Quartel em Maceió a 1º. de abril de 1923.
Em 31 de agosto de 1925 em Documento da Diretoria Geral do Pessoal, o Senhor Tenente Coronel Trajano Ferraz Moreira, Comandante da Região, ao seu respeito assim se expressou: “Louvor – não é um simples elogio comum que quase sempre é de praxe dar-se a um oficial ao deixar o cargo. Quero aqui fazer destacar as virtudes militares e a esmerada educação do 1º. Tenente João Batista de Mattos, que nesta Região tem desempenhado árduas missões com a maior inteligência e critério, tornando-se digno de afeição dos seus comandados que nele veem um superior justiceiro e amigo, digno de simpatia e amizade dos seus companheiros e superiores que tanto o consideram como o estimam, pelo seu espírito militar brioso, sincero e leal, que não encontra obstáculo para bem cumprir o seu dever e auxiliar a administração de seus chefes, com o verdadeiro interesse para nada perturbar a marcha do serviço. O Tenente João Batista de Mattos no Comando da 9ª. Companhia do 19º. Batalhão, mandada organizar pelo Senhor Ministro da Guerra em março do corrente ano, veio mais uma vez demonstrar o seu espírito de disciplina e capacidade de trabalho. Pertencendo ao 28º. Batalhão e fazendo parte, como juiz, no Conselho de Justiça Permanente, não se negou a aceitar o Comando do Destacamento do 19º. Batalhão e posteriormente o da 4ª. Companhia, por ele organizada, o que veio patentear o seu espírito de disciplina e amor ao trabalho. No Comando da Companhia revelou ser um oficial de grande capacidade de trabalho, iniciativa, inteligente, disciplinado, justiceiro de, digo, e de muita honestidade, competência e lealdade, todos esses predicados aliados ao seu trato cavalheiresco, oriundo de sua bela educação. Assim, nestes termos, elogio o 1º. Tenente Mattos, e espero que aqui no Quartel General da Região, para onde o chamei por necessitar ainda dos seus serviços, desenvolva a sua atividade e inteligência para mais perto concorrer com o seu valor e leal auxílio ao meu Comando e administração.”
Recebeu a Medalha de Ouro em 26 de agosto de 1948.
Recebeu a Medalha de Prata como Sub-Comandante do 26º. Batalhão por honra militar e bem haver servido à pátria em 6 de setembro de 1955.
Por todos estes fatos, acontecimentos e relatos me sinto muito honrado e muito contente em participar da AGLAC tendo como Patrono este brioso e superior representante da nossa cultura e história nacional e internacional. E espero estar à altura de tão importante tarefa frente aos meus amigos acadêmicos e acadêmicas e frente aos cidadãos da nossa querida São Gonçalo.
Falando agora sobre o meu Antecessor, Major Antônio Bispo dos Santos, tenho duas datas de nascimento dele. Uma de 21 de setembro de 1921, informação vinda do Almanaque do Exército de 1977 e fornecida a mim por e-mail de um oficial do Exército, e outra de 27 de setembro de 1917. O Major era natural do Estado de Sergipe. Tornou-se 2º. Tenente em 25 de agosto de 1965. 1º. Tenente em 25 de abril de 1967 e Capitão em 25 de agosto de 1973.
Retrocedendo um pouco no tempo, em 15 de outubro de 1937 serviu voluntariamente no Exército. Em 7 de junho de 1938 foi aprovado com o grau nove no exame de especialistas de sinaleiros-semaforistas.
Em 17 de junho de 1938 prestou compromisso de juramento à Bandeira.
Em 26 de junho de 1939 foi aprovado nos exames de especialistas telemetristas.
Em agosto de 1942 foi promovido à graduação de Segundo Sargento e, ao ser desligado em 7 de agosto do mesmo ano, foi elogiado pelo Senhor Primeiro Tenente Leonino Junior, nos seguintes termos:
“Ao ser desligado desta Unidade o Segundo Sargento Antônio Bispo dos Santos, cumpre-me como Comandante da Primeira Seção de Combate, reconhecer os bons serviços prestados por esse auxiliar atencioso e disciplinado que como Chefe de Segunda Praça, desempenhou sempre suas funções com grande dedicação e entusiasmo.”
Em janeiro de 1943 foi elogiado pelo Comandante da Primeira Bateria nos seguintes termos: “O Segundo Sargento número treze, Antônio Bispo dos Santos, por ter sido destacado para a Guarnição de Fernando de Noronha, perde esta Sub-Unidade, um Sargento de valor. Incansável no exercício de suas funções, disciplinado e possuidor de ótimas qualidades, é com pesar que este Comando se vê privado de tão valioso auxiliar. Digno do elogio que ora lhe faço, agradeço-lhe os serviços prestados, concitando-o a trilhar pelo mesmo caminho em sua nova Unidade.”
Em 13 de abril de 1946 foi elogiado pelo Senhor Tenente Coronel Augusto Frederico de Araujo Corrêa Lima, ao deixar o Comando do Grupo, nos seguintes termos: “Segundo Sargento Antônio Bispo dos Santos é possuidor de nobre caráter e elevado espírito militar. Destacadíssimo Sargento, muito trabalhador, capaz e eficiente. Ótimo auxiliar de instruto; muito disciplinado e disciplinador. Sério. Inteiramente dedicado ao exercício de suas funções. Leal, digno e corretíssimo. Farda-se muito bem. Exerceu por várias vezes as funções de Sargento diante da Segunda Bateria, demonstrando estar em condições de executar com eficiência as funções inerentes a um Sargento. Elogio o Segundo Sargento Bispo por suas belas virtudes militares e profissionais e agradeço-lhe os ótimos e relevantes serviços prestados ao Primeiro Grupo Ferroviário de Artilharia de Costa e a valiosa, dedicada, patriótica e lealíssima colaboração prestada a este Comando sempre com espontaneidade e com o máximo de eficiência (individual).”
Em janeiro de 1950 é nomeado Escrivão do Conselho de Justiça.
Em 21 de janeiro de 1953 recebeu a Medalha de Bronze com Passadeira de Bronze, que lhe foi concedida por haver completado dez anos de bons serviços prestados à Pátria, de acordo com o artigo 244 do Regulamento de Continência. Em outubro de 1955 é promovido ao posto de Segundo Tenente e incluído no Quadro Auxiliar de Oficiais.
Em 1958 recebeu a Medalha da UNEF em cerimônia por sua Excelência pelo General Edson L M Burns, Comandante da Força.
Em 1965, em 15 de outubro, é desligado da Companhia e elogiado pelo Senhor Coronel Francisco Carlos Bueno Deschamps: “As medalhas que lhe foram conferidas – a de Prata, a de Guerra, a do Pacificador da UNEF (Nações Unidas) – atestam sua conduta exemplar. A 1ª. Companhia muito lhe deve sua lealdade e dedicação, capacidade e honestidade profissional.”
Antônio Bispo dos Santos tomou posse na AGLAC em 20 de novembro de 1986. Era poeta e trovador. Foi o presidente e idealizador do movimento MOCIBRÁS, movimento cívico brasileiro. Foi presidente da MOCIBRÁS de outubro de 2000 a junho de 2001.
Foi assessor itinerante para representar a Federação das Academias de Letras do Brasil com a função de divulgar as atividades das Academias, participar das solenidades e reuniões de caráter cultural. De acordo com documento, carta de apresentação da Federação assinada por Francisco da Silva Nobre com data de 10 de outubro de 2000, pelo que é provável que Antônio Bispo dos Santos tenha exercido a função de assessor itinerante das Academias de Letras do Brasil a partir desta data. Esta função relacionava-se à participação de Antônio em solenidades e reuniões de caráter cultural nas diversas Academias brasileiras.
Concluindo, é com imensa satisfação e contentamento que passo a integrar a AGLAC na Cadeira 56, com o Patrono Marechal João Batista de Mattos, um admirável intelectual e erudito, tendo como antecessor o magnífico homem de cultura Major Antônio Bispo dos Santos, que tão brilhantemente ocupou esta Cadeira. Espero, como já disse, estar à altura de tão grande responsabilidade à qual orgulhosamente passo a me dedicar.
Mauricio Antonio Veloso Duarte
Cadeira: 56
Patrono: Marechal João Batista de Mattos
Antecessor: Major Antônio Bispo dos Santos
Membros da mesa, amigos e amigas, acadêmicos e acadêmicas, meus pais e minha irmã, é um prazer e uma honra estar aqui hoje na minha posse como acadêmico. Este momento é uma grande emoção que muito me traz contentamento por saber que sou tão carinhosamente e tão honradamente acolhido na AGLAC.
Para falar do meu Patrono, Marechal João Batista de Mattos, e do meu Antecessor, Major Antônio Bispo dos Santos, antes preciso fazer um pequeno prelúdio. Apesar de possuir muitas datas e relatos de fatos e apesar de trazê-los aqui, não quero enfocar propriamente estes dados. Uma pesquisa minuciosa no Arquivo Histórico do Exército e, por vezes, até na internet, pode fornecer informações, datas, fatos e acontecimentos de forma exata e sem dúvidas. Mas, hoje, eu gostaria de abordar a vida do meu Patrono e do meu Antecessor de modo a enfocar a essência da personalidade destes dois ícones do cenário cultural e histórico brasileiros. A essência deles como combatentes do Exército, como escritores, como homens de cultura e arte, como pensadores e, principalmente, como pessoas quando em vida, almas espirituais e bem-amadas de Deus.
O Marechal João Batista de Mattos, nascido em 24 de janeiro de 1900, natural do Rio de Janeiro, na época capital brasileira, foi neto e bisneto de escravos. Em 1918, poucos anos decorridos da Abolição, torna-se Cadete do Realengo, ingressando no Exército. Em 1920, torna-se aspirante a oficial da Arma de Infantaria. A sua turma de 1920 daria ao Brasil outros marechais, como ele próprio. Em maio de 1921 torna-se 2º. Tenente. Em 3 de novembro de 1922 torna-se 1º. Tenente graduado efetivo. Em 7 de maio de 1932, Capitão. Torna-se Tenente-Coronel em 24 de junho de 1943. Chega ao posto de Coronel em 25 de março de 1949. General de Brigada em 26 de julho de 1955 e General de Divisão em 25 de julho de 1961.
O Marechal João Batista de Mattos esteve à frente de tropa em combate. Tornou-se o historiador dos monumentos brasileiros por excelência. Presidiu o IGHMB (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil) e a SBG (Sociedade Brasileira de Geografia). Foi soldado exemplar, educador dedicado e historiador eminente. Em 19/07/2000, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro registrou, no seu site, a homenagem ao Centenário de nascimento do Marechal João Batista de Mattos em sessão da CEPHAS (Centro de Educação Profissional Hélio Augusto de Souza). Em novembro de 2009, o site da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil registrou sessão solene da AHIMTB, Academia de História Militar Terrestre do Brasil, com palavras de homenagem ao Patrono da Delegacia da AHIMTB no Rio de Janeiro, cujo Patrono é o Marechal João Batista de Mattos.
A importância da atuação do Marechal João Batista de Mattos é muito bem relatada no Arquivo Histórico do Exército, como já disse. Mas, antes de passar a estes relatos das autoridades que demonstram esta fundamental relevância, gostaria de salientar os direitos de cidadania conquistados pela população negra ao longo do tempo no Brasil e assuntos relacionados. Sabemos da discrepância dos salários entre brancos e negros que muitas vezes ocorre no nosso país. As cotas raciais para ingresso em universidades vêm para amenizar essas disparidades e para resgatar a cidadania plena que é de direito, mas mesmo este sistema de cotas só pode ser entendido como um sistema temporário, e a solução reside em educação básica de qualidade para todos independentemente de cor, credo, gênero ou qualquer outra classificação concernente ao ser humano. A população brasileira não quer privilégios. Ninguém, em sã consciência, quer privilégios por ser branco, amarelo, pardo, vermelho ou negro. O que se quer é a garantia dos direitos de cidadania plena, de cada um em relação a todos e de todos em relação a cada um. Sem assistencialismos, sem falsos discursos demagógicos que visam manipulação ideológica e/ou eleitoral e político-partidária.
Portanto, os brasileiros como um todo, na sua imensa diversidade de raízes hereditárias e culturais tão díspares e tão numerosas precisam, sim, viver em igualdade, e que esta igualdade produza frutos de empoderamento à população, e não desavenças e desuniões por conta de diferenças raciais, econômicas, políticas, ideológicas ou partidárias. O Brasil como nação sempre rejeitou o fascismo, o nazismo, o racismo, a xenofobia e todas as ideias e pensamentos que possuem interesses contrários à essa igualdade, sejam eles oriundos de ondas de conservadorismo temporárias ou de políticas pseudo revolucionárias em discursos proferidas ao longo de décadas, demagogicamente.
Dito isto, passo aos relatos do Arquivo Histórico do Exército, obtidos por mim, na pesquisa, em março do corrente ano.
João Batista de Mattos, filho de Quintiliano de Mattos e Umbelina da Glória, nascida 9 anos depois da Lei do Ventre Livre em 1880, o que determinou sua condição livre. Seus avós foram escravos da fazenda do Visconde Taunay. E não é difícil imaginar que parte da vida de Dona Umbelina da Glória tenha passado na senzala, porque sua mãe só foi liberta em 1888 com a Lei Áurea.
Em sua carreira militar recebeu diversos elogios de oficiais superiores. Dentre estes destaco alguns:
Em 17 de setembro de 1920 foi elogiado em nome do Senhor Marechal Chefe do Estado Maior do Exército pelo espírito militar e interesse que revelou por ocasião da Parada de Sete de setembro em feliz cooperação para o êxito e bom nome da Escola. Em 22 de fevereiro do mesmo ano, foi novamente designado para servir de adido àquele Batalhão, conforme determinação do Senhor Comandante da Região, uma designação a um batalhão que já havia ocorrido anteriormente. Embarcou na mesma data com destino a Maceió, deixando por isto o Comando de Metralhadoras Mixta.
Em 1923, “Na ajudância do Batalhão: Por despacho de 22 do mês findo, foi transferido do Batalhão para o 5º. da mesma Arma, sendo a 2 do corrente, excluído do estado ativo deste Batalhão e lá, companhia, ficando adido até seguir o seu destino, deixou as funções de ajudante de Batalhão. A 7 apresenta-se pronto para reunião a sua unidade e foi desligado de adido. Na mesma data este Comando ao desligá-lo, declarou que cumpria um dever de justiça elogiando tão distinto oficial com uma orientação segura dos seus deveres, firmou entre todos os que com ele estiveram a convicção que é um dos belos ornantes da nossa classe.”
“Em 10 de março de 1923 foi dispensado do Comando da 3ª. Companhia sendo louvado pelo Senhor Major José Polycarpo Cavendish, ao deixar o Comando do Batalhão, pela inteligente dedicação ao serviço que na qualidade de ajudante e Comandante da Sub-unidades tinha revelado desenvolvendo-se em tudo, com atividade e zelo, sem entibiar-lhe a circunstância de não pertencer a este Corpo.” O Corpo que é citado refere-se ao Quartel em Maceió a 1º. de abril de 1923.
Em 31 de agosto de 1925 em Documento da Diretoria Geral do Pessoal, o Senhor Tenente Coronel Trajano Ferraz Moreira, Comandante da Região, ao seu respeito assim se expressou: “Louvor – não é um simples elogio comum que quase sempre é de praxe dar-se a um oficial ao deixar o cargo. Quero aqui fazer destacar as virtudes militares e a esmerada educação do 1º. Tenente João Batista de Mattos, que nesta Região tem desempenhado árduas missões com a maior inteligência e critério, tornando-se digno de afeição dos seus comandados que nele veem um superior justiceiro e amigo, digno de simpatia e amizade dos seus companheiros e superiores que tanto o consideram como o estimam, pelo seu espírito militar brioso, sincero e leal, que não encontra obstáculo para bem cumprir o seu dever e auxiliar a administração de seus chefes, com o verdadeiro interesse para nada perturbar a marcha do serviço. O Tenente João Batista de Mattos no Comando da 9ª. Companhia do 19º. Batalhão, mandada organizar pelo Senhor Ministro da Guerra em março do corrente ano, veio mais uma vez demonstrar o seu espírito de disciplina e capacidade de trabalho. Pertencendo ao 28º. Batalhão e fazendo parte, como juiz, no Conselho de Justiça Permanente, não se negou a aceitar o Comando do Destacamento do 19º. Batalhão e posteriormente o da 4ª. Companhia, por ele organizada, o que veio patentear o seu espírito de disciplina e amor ao trabalho. No Comando da Companhia revelou ser um oficial de grande capacidade de trabalho, iniciativa, inteligente, disciplinado, justiceiro de, digo, e de muita honestidade, competência e lealdade, todos esses predicados aliados ao seu trato cavalheiresco, oriundo de sua bela educação. Assim, nestes termos, elogio o 1º. Tenente Mattos, e espero que aqui no Quartel General da Região, para onde o chamei por necessitar ainda dos seus serviços, desenvolva a sua atividade e inteligência para mais perto concorrer com o seu valor e leal auxílio ao meu Comando e administração.”
Recebeu a Medalha de Ouro em 26 de agosto de 1948.
Recebeu a Medalha de Prata como Sub-Comandante do 26º. Batalhão por honra militar e bem haver servido à pátria em 6 de setembro de 1955.
Por todos estes fatos, acontecimentos e relatos me sinto muito honrado e muito contente em participar da AGLAC tendo como Patrono este brioso e superior representante da nossa cultura e história nacional e internacional. E espero estar à altura de tão importante tarefa frente aos meus amigos acadêmicos e acadêmicas e frente aos cidadãos da nossa querida São Gonçalo.
Falando agora sobre o meu Antecessor, Major Antônio Bispo dos Santos, tenho duas datas de nascimento dele. Uma de 21 de setembro de 1921, informação vinda do Almanaque do Exército de 1977 e fornecida a mim por e-mail de um oficial do Exército, e outra de 27 de setembro de 1917. O Major era natural do Estado de Sergipe. Tornou-se 2º. Tenente em 25 de agosto de 1965. 1º. Tenente em 25 de abril de 1967 e Capitão em 25 de agosto de 1973.
Retrocedendo um pouco no tempo, em 15 de outubro de 1937 serviu voluntariamente no Exército. Em 7 de junho de 1938 foi aprovado com o grau nove no exame de especialistas de sinaleiros-semaforistas.
Em 17 de junho de 1938 prestou compromisso de juramento à Bandeira.
Em 26 de junho de 1939 foi aprovado nos exames de especialistas telemetristas.
Em agosto de 1942 foi promovido à graduação de Segundo Sargento e, ao ser desligado em 7 de agosto do mesmo ano, foi elogiado pelo Senhor Primeiro Tenente Leonino Junior, nos seguintes termos:
“Ao ser desligado desta Unidade o Segundo Sargento Antônio Bispo dos Santos, cumpre-me como Comandante da Primeira Seção de Combate, reconhecer os bons serviços prestados por esse auxiliar atencioso e disciplinado que como Chefe de Segunda Praça, desempenhou sempre suas funções com grande dedicação e entusiasmo.”
Em janeiro de 1943 foi elogiado pelo Comandante da Primeira Bateria nos seguintes termos: “O Segundo Sargento número treze, Antônio Bispo dos Santos, por ter sido destacado para a Guarnição de Fernando de Noronha, perde esta Sub-Unidade, um Sargento de valor. Incansável no exercício de suas funções, disciplinado e possuidor de ótimas qualidades, é com pesar que este Comando se vê privado de tão valioso auxiliar. Digno do elogio que ora lhe faço, agradeço-lhe os serviços prestados, concitando-o a trilhar pelo mesmo caminho em sua nova Unidade.”
Em 13 de abril de 1946 foi elogiado pelo Senhor Tenente Coronel Augusto Frederico de Araujo Corrêa Lima, ao deixar o Comando do Grupo, nos seguintes termos: “Segundo Sargento Antônio Bispo dos Santos é possuidor de nobre caráter e elevado espírito militar. Destacadíssimo Sargento, muito trabalhador, capaz e eficiente. Ótimo auxiliar de instruto; muito disciplinado e disciplinador. Sério. Inteiramente dedicado ao exercício de suas funções. Leal, digno e corretíssimo. Farda-se muito bem. Exerceu por várias vezes as funções de Sargento diante da Segunda Bateria, demonstrando estar em condições de executar com eficiência as funções inerentes a um Sargento. Elogio o Segundo Sargento Bispo por suas belas virtudes militares e profissionais e agradeço-lhe os ótimos e relevantes serviços prestados ao Primeiro Grupo Ferroviário de Artilharia de Costa e a valiosa, dedicada, patriótica e lealíssima colaboração prestada a este Comando sempre com espontaneidade e com o máximo de eficiência (individual).”
Em janeiro de 1950 é nomeado Escrivão do Conselho de Justiça.
Em 21 de janeiro de 1953 recebeu a Medalha de Bronze com Passadeira de Bronze, que lhe foi concedida por haver completado dez anos de bons serviços prestados à Pátria, de acordo com o artigo 244 do Regulamento de Continência. Em outubro de 1955 é promovido ao posto de Segundo Tenente e incluído no Quadro Auxiliar de Oficiais.
Em 1958 recebeu a Medalha da UNEF em cerimônia por sua Excelência pelo General Edson L M Burns, Comandante da Força.
Em 1965, em 15 de outubro, é desligado da Companhia e elogiado pelo Senhor Coronel Francisco Carlos Bueno Deschamps: “As medalhas que lhe foram conferidas – a de Prata, a de Guerra, a do Pacificador da UNEF (Nações Unidas) – atestam sua conduta exemplar. A 1ª. Companhia muito lhe deve sua lealdade e dedicação, capacidade e honestidade profissional.”
Antônio Bispo dos Santos tomou posse na AGLAC em 20 de novembro de 1986. Era poeta e trovador. Foi o presidente e idealizador do movimento MOCIBRÁS, movimento cívico brasileiro. Foi presidente da MOCIBRÁS de outubro de 2000 a junho de 2001.
Foi assessor itinerante para representar a Federação das Academias de Letras do Brasil com a função de divulgar as atividades das Academias, participar das solenidades e reuniões de caráter cultural. De acordo com documento, carta de apresentação da Federação assinada por Francisco da Silva Nobre com data de 10 de outubro de 2000, pelo que é provável que Antônio Bispo dos Santos tenha exercido a função de assessor itinerante das Academias de Letras do Brasil a partir desta data. Esta função relacionava-se à participação de Antônio em solenidades e reuniões de caráter cultural nas diversas Academias brasileiras.
Concluindo, é com imensa satisfação e contentamento que passo a integrar a AGLAC na Cadeira 56, com o Patrono Marechal João Batista de Mattos, um admirável intelectual e erudito, tendo como antecessor o magnífico homem de cultura Major Antônio Bispo dos Santos, que tão brilhantemente ocupou esta Cadeira. Espero, como já disse, estar à altura de tão grande responsabilidade à qual orgulhosamente passo a me dedicar.
Mauricio Antonio Veloso Duarte
Cadeira: 56
Patrono: Marechal João Batista de Mattos
Antecessor: Major Antônio Bispo dos Santos