SER ESCRITOR
Quando fui publicar o meu primeiro livro, caí numa cilada que eu mesmo preparei inexperientemente. Pedi ao Dr. Jose Elias Tajra para levar o boneco do livro, que o meu já saudoso amigo Gilberto Mendes (Proprietário da Gráfica Mendes – Teresina/PI) havia encadernado pessoalmente, com uma capa de plástico azul e uma garra bonita que tenho até hoje e lá se vão mais de trinta anos, até o Dr. Álvaro Pacheco que por sua vez levasse ao Dr. Alberto da Costa e Silva, filho do grande poeta Da Costa e Silva. A época ele estava sendo designado embaixador do Brasil em Portugal, mas nem por isso. Quase perdi tudo o que havia levado anos para tirar da cuca naturalmente. Quando consegui encontrar o Dr.José Elias Tajra ele me devolveu o original que eu havia intitulado “Caminhos Poéticos”, mas com uma recomendação do meu candidato a prefaciador: não publique isso, está horrível! Escreva mais, pratique, faça uma seleção das menos piores e depois, quem sabe, publique. Aquilo tudo, claro, foi um tremendo balde de água fria nas minhas pretensões, fiquei desapontado! Mas não desisti. Eu queria começar, tinha que começar... E como se começa? Do começo, é lógico! Bate na mesma tecla do primeiro emprego. A empresa quer anos de experiência mas não dá oportunidade para o indivíduo começar, como ele vai ter a experiência exigida? É complicado até pensar. Fui em frente. Visitei muitas vezes meu amigo e também já saudoso Prof. Arimatéa Tito Filho, então presidente da Academia Piauiense de Letras e dos nomes mais respeitados da literatura Piauiense, até que ele me deu a oportunidade de começar do começo mesmo! Prefaciou o livro de poesias e pediu ao Cel. Miranda, proprietário do Jornal O Dia e Gráfica Júnior que imprimisse meu livro e eu pagaria com a venda e assim aconteceu, apesar da demora de mais de um ano, consegui. No final de 1986, portanto, saiu meu primeiro livro “Caminhos Poéticos”. Como não consegui vendas e o dinheiro suficiente para pagar a edição do livro, já quase no final do prazo, tive que vender a minha casa e quitar o compromisso assumido, meu avalista era um amigo Cel. Bonfim, eu não podia desapontá-lo. Daí veio uma pesada crítica por parte de colegas que comiam à mesa comigo, impregnados de literatura até a alma na União Brasileira de Escritores - UBE-PI, que funcionava numa sala da Secretaria da Cultura. Um, mais exaltado, viu o meu livro, que ele chamou de “livruxo” (que para mim era a mistura de livro com luxo...) e disparou a pronunciar impropérios contra o Prof.Tito Filho, por ter prefaciado aquela merda, como ele disse! É claro, disse mais ainda contra o livro a que ele chamou também de subliteratura mais tarde, em um evento no auditório do SESI, eu me lembro até hoje, em que ele declamava as “maiores e melhores poesias já escritas no Piauí”, às dele mesmo. Evento que eu estava presente e muitos outros escritores da UBE-PI e que ele desceu do palco para brigar com um aluno que assistia ao seu espetáculo e estava sorrindo, protestando, odiando. Fora estava um caixão de defunto com livros de vários colegas, inclusive o meu e que ele dizia estar, em nome da grandeza de um povo, sepultando a subliteratura, para libertar o Piauí daquelas “maldições”. Portanto, decidi não mais pedir a quem quer que fosse para prefaciar um livro meu. Quem sabe a dor que se tem para parir é só quem pariu.
Fiz o lançamento do meu primeiro livro no dia 14 de Março de 1987, portanto, há 30 anos. Depois veio o lançamento de mais dois: Palmeira Solitária e Poesias ao Entardecer. Fiz também um livreto: O Marceneiro que fez a cruz de Jesus. Tenho a participação em várias antologias poéticas pelo Brasil e citações em outros livros de autores nacionais. Mantenho um blog: www.camilomartins.zip.net, hoje com mais de cinquenta e dois mil acessos e citações em outros sites internet a fora!
Considerações
Mas o que eu quero dizer com tudo isso é que decidi muito cedo na minha vida SER ESCRITOR. Ocorre que mais de trinta anos já se passaram e ainda não consegui me vê como escritor. Não pela questão trabalhista em sim, já que a profissão não foi ainda regulamentada, apesar de o projeto tramitar no senado federal há anos. Fato é que não é tão simples assim um reconhecimento como tal, e, inclusive, muitos o tem tarde demais, quando já partiram e descansam no frio túmulo, só então faturando milhões que ficam para os descendentes! Dá nome a rua, praça, avenida, cidade...
Li, recentemente, em um site de notícias “Escritora Maria Lyss Lamparini lança seu primeiro livro”. E a notícia continua descrevendo como, quando, onde e porque a ação ocorreu, inclusive com a entrevista da escritora!
Lamentavelmente somos pretenciosos em vários aspectos da vida. A pessoa escreve um livro e já se intitula ESCRITOR (A). Penso agora no caso dos estudantes de teologia fazendo estágios pelas igrejas e os membros já os chamando de PASTOR, quando eles são ainda teologandos, alunos, e, muitos nem terminam o curso, enquanto outros até terminam, mas não são chamados a trabalhar como pastores e quando são chamados ainda esperam por, pelo menos quatro anos até serem ungidos ou consagrados como pastor e daí ter oficialmente a prerrogativa e a ordenação especial para exercer os ritos da igreja. Veja o tamanho do caminho a percorrer, mas, estão começando pelo inverso da estrada.
A pretensão não se justifica. No caso de escritores no Brasil é assim, a pessoa escreve um livro de trezentas páginas e põe como título: “Tudo sobre a abelha”, o americano, mais modesto, escreve livros de quatrocentas páginas em três volumes e intitula: “Tudo sobre a abelha”, o alemão, finalmente modestíssimo, escreve livros com seiscentas páginas em dez volumes que tem o título: “Pequena introdução ao estudo da abelha”. Mais ou menos por aí. Nunca sabemos tudo. É necessário viver, sentir, sofrer, percorrer estradas de pedras e espinhos, chorar, sorrir, se entristecer, se alegrar, morrer para si mesmo para poder viver para dizer aos outros.
Quer ser escritor ou autor?
“Se você quer escrever livros, você deseja ser um autor. Você acredita ter ideias originais para desenvolver boas histórias. Você acredita que algumas dessas histórias têm o potencial de despertar o interesse de um grande número de pessoas e do mercado editorial. Seu grande objetivo é desenvolver a habilidade de manter o leitor interessado no enredo da sua história, da primeira linha até o último ponto final. Você enxerga palavras como ferramentas para transmitir suas ideias e pensamentos para o leitor”.
Veja o que disse Pablo Neruda: “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias”.
Há autores que se valendo de artifícios vários apenas fazem a tradução de textos e os publicam e assim vão ganhando dinheiro. Até porque, em termos de escrita, como disse José Saramago “Somos todos “escritores”, só que alguns escrevem e outros não”.
“Se você quer mesmo ser escritor, você deseja ser um pensador. Você acredita que sua visão peculiar sobre o mundo pode enriquecer a forma como outras pessoas constroem suas realidades. Você acredita que suas palavras têm o potencial de levantar perguntas sobre temas universais, consciente de que tais questionamentos são mais importantes do que as respostas. Seu grande objetivo é desenvolver a habilidade de fazer o leitor olhar para o mundo a partir de uma perspectiva diferente, mais rica, mais complexa, mais plural. Você enxerga palavras como aliadas na sua busca por expressar para o leitor a complexidade da experiência humana”. E continua José Saramago “Na minha opinião, ser escritor não é apenas escrever livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção.” (Pesquisa/Conteúdo de internet)
Escrevo, logo existo!
A escrita como ferramenta de transformação faz com que o próprio escritor se transforme em um ser iluminado e com uma tremenda responsabilidade e compromisso com a própria vida já que tem o poder de influenciar de tal maneira que pode mudar rumos, estradas, caracteres e destinos. Escrever é mais que uma arte, é simbolismo divino de transmissão de vontades celestiais. “Nenhum escritor é bom a não ser que tenha sofrido”. (Henry Miller) Veja que essa frase resume o pensamento especial do real significado de ser escritor. O autor escreve com o intelecto, inteligencia e na intenção do ganho, muitas vezes financeiro ou da fama... O escritor não está interessado em reconhecimento midiático, escreve com sabedoria, de coração e alma, convicto da necessidade do próximo e com a experiência de quem já passou pelo vale da sombra da morte até e entende que a sua experiência pode ser o que o outro necessita para conseguir passar também e sobreviver, o escritor é um compartilhador de modo de transição vitoriosa. Benjamin Franklin escreveu: “Ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever”.
Escrever não é o simples digitar letras e formar palavras em um teclado de computador ou mesmo escreve-las à caneta, muitas vezes sem nexo, criar histórias fantasiosas de personagens e mundos irreais que levam leitores a fantasias ou a ideais de vida inatingíveis, narrativas vagas de situações que nunca se alcançarão, alvos fictícios, objetivos invisíveis e palavras que como drogas atingem o cérebro fazendo o leitor delirar e desejar o impossível. Quantas vezes essas frustrações literárias fazem com que o indivíduo se desfaleça da vida e os leva ao desespero de alma, estresse, depressão e ao suicídio mental, moral, espiritual e do próprio corpo.
A escrita tem o poder, como meio de mudança é fantasticamente imprescindível para a vida toda e por isso nos leva a interrogação: O que é ser escritor?
Ouvi falar de um homem que nunca escreveu um livro sequer e é considerado o maior escritor que já passou pelo nosso planeta! Sua história de vida inspira pessoas por todo o mundo e nunca se escreveu tanto sobre alguém na terra. Porque Ele não só falava com a alma, Ele vivia de coração tudo o que falava. Jesus, o Cristo, esteve aqui na terra há mais de dois mil anos e é tão atual como o sol que nascerá amanhã. O escritor autenticamente sábio é o que faz a ponte do humano para o divino, do profano para o santo, da terra para o céu, do perdido para o salvo, do terreno para o celestial. Existem muitos escritores que nunca publicaram um livro sequer, mas o que disseram e viveram transcende o muito que já foi escrito e publicado na atualidade apenas na base do faça o que escrevi, mas não faça o que eu faço.
Um mistério...
Como ser um excelente escritor,
sem nunca um livro ter publicado,
mesmo ser o maior poeta do amor,
sem uma escola ter frequentado?
Dominar todos os temas humanos,
Se não cursou uma universidade...
Conhecer dos corações os planos,
de todos os tempos da humanidade?
Um mistério de Deus a nós revelado!
Escritor porque o próprio verbo Ele é.
Poeta, é o poema do céu encarnado!
Criador dos temas, criador de toda fé!
No mundo não caberia seus escritos...
Jesus! Entendi, cessaram os conflitos.
Camilo Martins
10.07.2017
O verdadeiro escritor é fiel aos princípios morais, sociais, religiosos e espirituais estabelecidos pelo Altíssimo e neles se fiam para ter a capacidade de transmitir sua escrita de maneira a ser lida, absorvida e aceita por todos os que à sua literatura venham a ter acesso.
Poeta Camilo Martins
Presidente da ANL