Sou...
Sou frio e quente, vivo entre lembranças e experiências, sou por momentos céu e às vezes inferno, ando cego e um tanto surdo, sem sugestões, sem aparências.
Sou espelho dos meus pensamentos, um véu diante dos próprios desejos, nu e calmo quando me entrego, sou essa pitada de critérios puros que aprumam os passos, essas tantas palavras doces e agridoces que saem dos lábios.
Sou terra e água ao mesmo tempo, solo úmido e molhado onde se pisa seguro e sem temer, sou o tempo na hora zero e um futuro um tanto incerto. Sou palavras e sons, e também aquele frustrado eterno que sempre espera um "Talvez".
Sou a nota perdida que passa despercebida e fica sem rima nesta melodia, sou aquele da esquina, dos encontros e saudações perdidos, aquela vítima das minhas próprias proezas sem sentido, do meu rancor um tanto medroso. Sou Lima diante das arestas que enterram firme o punhal das mentiras, pareço calmo e sereno, em solene paz e sem movimento, embora viva descrente nesta nebulosa sem sentido.
Não sou mais do que o metal, aquele que magnetiza todas as limitações, o acorde justo para desarmar armadilhas e proibições, a sombra plana sem alter egos, isso que não se mostra por medo dos anseios, sou um tanto verdadeiro, mesmo que pensem que valemos todos um pouco menos.
A realidade é mais fictícia do que parece, a realidade é um filme de carne e ossos que colocamos à venda, a realidade cita-se por toda sua riqueza, opaca e simples, mas rica e deslumbrante, não deixa fluir as palavras nem as deixa fazer falta. Assusta quando já não há mais brilho nem luz, quando não há mais pontos, reticências, nem pessoas, nem vida para abraçar.