Recônditos da alma
Porque é que o tempo passa tão rápido quando somos crianças? Por que o futuro parece uma eternidade complicada quando somos adultos? Porque é que não sentimos mais nada com tanta intensidade? Exceto a dor. E a vida, o que podemos esperar dela? Um corpo, um corpo que funciona, que se tenciona e relaxa de forma natural, que se move, um coração que vibra, elástico e forte, listo para sentir. Sonhamos tantas coisas na infância e nunca imaginamos tantas limitações. Não esperávamos este cansaço invencível, que acaba cobrindo tudo com uma densa névoa, que ameniza com o apagar de qualquer luz ou qualquer som que atrapalha. E quando nos deterioramos, fatigamos e nos desesperamos, a espera de ao menos conservar as boas recordações. Sei que deixamos de fabricar recordações bonitas quando nos damos por vencidos, quando deixamos de avançar, querendo ou não, sendo conscientes do próprio mal causado a nós mesmos. E me pergunto o que ocorre se as recordações começam a apagar-se, que será de nós se nossas recordações se desvanecerem? Encontrar harmonia na vida é muito difícil, é estar sempre demasiado frágil, mas por esses momentos recônditos da alma vale a pena lutar, lutar e deixar a vida um intento. Alegrar-se a cada recordação que nos faça sentir vivo... O primeiro beijo, ter visto sorrir as pessoas que se orgulharam de nós, as pessoas importantes para nós, ou ao simples som do vento, esses momentos em que recordamos alguém especial, e que jamais esqueceremos.
Se pudéssemos voltar ao passado para fazer as coisas de forma diferente, creio que não escolheríamos outra vida, creio sim, que voltaríamos a viver mais do mesmo, do mesmo caos, da mesma beleza, da mesma recompensa, pelo mesmo esforço, da mesma história, das mesmas idiotices. Por mais que se pense demais nisso tudo, nenhum ser humano pode viver sozinho na sua mente, Viver só de recordações, Um ser humano não pode viver só de sonhos, na verdade, é o medo que diz estas palavras. Esse medo que nos faz sobreviver à custa de tudo, mas ao mesmo tempo nos nega a existência, o avanço, o estar vivo sem sentir nada. Sempre tentando encontrar esse sentido para estar vivo, uma resposta para as perguntas da própria existência. Pode soar muito transcendental, mas se assim for, talvez seja um alento para quem lê este discurso ou talvez seja a única forma de desabafar e gritar ao mundo. A única maneira de enfrentar o medo, esse que trava e imobiliza, se decidirmos alcançar aquilo que sonhamos tanto. Que não é nada mais que uma vida simples e imensamente plena. Amar, e sentirmos amados, compartilhar, e sentir que também fomos parte de algo que nos emocionou, e que emocionamos.
Quem sabe, algum dia, alguém, ou nós mesmos acabemos nos salvando...