Desolado
Eu deveria ter ligado antes. Parece que agora tenho uma frase nova que vai me perseguir nas noiter enlouquecedoramente quietas quando procuro o lado frio do travesseiro. Diferente das outras que atacavam por fora e colocabam mais pressão em cima das costas, esta fora proferida das catacumbas gélidas de um ventrículo mais bobo, tirando todo chão que me separava desse abismo tão apático.
Eu pensei em ligar, eu juro que pensei. Por falta de atitude, assunto, confiança, sei lá, só sei que não foi. Pode ser talvez que isso também nem tivesse mudado nada, sabe, pode ser que eu apenas tivesse ficado sabendo um pouco antes e tivesse me embriagado mais. Tudo bem que eu sou de perder prazos e adiar eventos, mas essa foi a gota d'água que transbordou a tampinha. É realmente de se confirmar que mais se arrepende aquele que nunca tentou ao invés do que errou tentando.
Mas é um vazio que se abre tão grande, um vácuo oriundo duma concentração estelar e lindamente catastrófica que se afixou num ponto único e denso antes de explodir e deixar nenhum rastro, que, mesmo ausente, aleatoriza e desorganiza o sistema nervoso todo. Parece até piada. Tira o ar, a expectativa, o chão, perde a graça. A dopamina toda se foi, e poxa, logo a dopamina?
Lógico que tem mais na história do que cabe no papel, todo livro chato e filme ruim é assim. Mas também, nem sei se a história acaba aqui. Só sei que deveria ter ligado antes.
09/02/2015