Visível ser
Sentou-se a esperar um beijo, uma carícia redentora, uma palavra de encorajamento, um empurrão para a glória, um abraço acolhedor do amigo. Um Certificado que te faz pertencer a um grupo, um salvo-conduto de aceitação na aldeia. Assim ha muitos outros como tu, com os seus lábios oferecidos, sua própria pele carente, os próprios ouvidos sedentos. Todos eles, como tu, candidatos a uma glória doada a partir do exterior, e sempre adiada e indomável. E na tua espera passiva te tornas paciente anônimo com fome atrasada de reconhecimento e invisível ao resto dos mortos-vivos. Ninguém irá reparar na tua presença. Só quando entenderes que o primeiro passo habita em ti, que a tua maior defesa é tu mesmo, que o beijo que acorda o príncipe no sapo, Que o beijo que acorda a bela adormecida, é o teu próprio auto-beijo; só então a tua existência será notada por ti mesmo, e neste momento, chegarão outras mãos, porque já estavam as tuas. Te verão outros olhos, porque os teus já haviam despertado.
Te tocarão outras peles, porque tu mesmo tens sentido seu beijo delicado. E então te tornarás visível, desde o momento em que tu mesmo te encarregas acender a tua própria luz.