Homilia na ordenação diaconal do Seminarista Lindemberg
Homilia na ordenação diaconal do Seminarista Lindemberg
Rubiataba, 17 de fevereiro de 2017
Amados irmãos e irmãs,
Deus seja louvado sempre!
01.Deus nos reuniu nesta noite, nesta igreja, para vivenciarmos sua luz, sua paz e sua salvação oferecida a nós pelo seu Filho Jesus que nos alimenta e fortalece com a Divina Liturgia dos sacramentos. Somos a Igreja d´Ele, convocada e congregada pela Palavra, alimentada pela Eucaristia e enviada em missão.
02.A celebração desta noite se reveste de um caráter especial: a ordenação diaconal do Seminarista Lindemberg. A festa mais expressiva de uma diocese é a ordenação de um de seus filhos para o serviço ao Povo de Deus.
03.O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que no “no grau inferior da hierarquia encontram-se os diáconos. São-lhes impostas as mãos "não para o sacerdócio, mas para o serviço". Para a ordenação ao diaconato, só o Bispo impõe as mãos, significando assim que o diácono está especialmente ligado ao Bispo nas tarefas de sua "diaconia" (n. 1588). “Quanto aos diáconos, "a graça sacramental lhes concede a força necessária para servir ao povo de Deus na 'diaconia' da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o Bispo e seu presbitério" (n. 1589). “Os diáconos participam de modo especial na missão e graça de Cristo. São marcados pelo sacramento da Ordem com um sinal ("caráter") que ninguém pode apagar e que os configura a Cristo, que se fez "diácono", isto é, servidor de todos” (n. 1570).
04. “Fortalecido com o dom do Espírito Santo, o novo diácono deverá ajudar o Bispo e seu Presbitério no serviço do altar, da Palavra e da caridade, mostrando-se servo de todos. Como ministro do altar irá proclamar o Evangelho, preparar o sacrifício e repartir entre os fiéis o Corpo e o Sangue do Senhor. Além disso, por mandato do Bispo, poderá exortar e instruir na sagrada doutrina, não só os não crentes, como também os fiéis; poderá ainda presidir às orações, administrar o Batismo, assistir e abençoar os Matrimônios, levar o viático aos agonizantes e oficiar as Exéquias” (no. 199 do Pontifical Romano). Dedicados aos ofícios de caridade e administração, lembrem-se os Diáconos do conselho de São Policarpo: “Misericordiosos e diligentes, procedem de harmonia com a verdade do Senhor, que se fez servidor de todos” (Pontifical Romano, n. 174)
05.O Senhor Jesus, no Evangelho que acabamos de ouvir, nos dá o ordenamento objetivo para nossa existência como cristãos: guardar os mandamentos que se resume na prática do amor. O amor só é amor se parte do amor de Cristo. O amor não é um sentimento, uma emoção, uma poesia, mas uma pessoa: Nosso Senhor Jesus Cristo. Este amor é a companhia do homem ordenado ou consagrado. Este amor é conjunto da história e da vida de Jesus: seu nascimento pobre, sua vida desafiada pela inveja e pelo ódio de seus opositores, sua paixão e sua dor na cruz de seu calvário.
06.Dia inesquecível na sua vida, Caro Lindemberg, pois o Senhor Jesus o visita com o Sacramento da Ordem no grau do diaconato. Cristo te ama com amor eterno. “Ninguém tem maior amor do que o Cristo que dá sua vida pelos seus amigos”. O diácono é chamado a ser amigo de Jesus, realizando o que Jesus fez: doar a vida com terna alegria como servidor incansável que consome sua vida pelo Reino.
07.Ao receber o Sacramento da Ordem do Diaconato o ordinando se configura ainda mais a Nosso Senhor através da entrega sem reserva ao serviço na Igreja em favor da salvação das almas. A Ordem não nos confere a santidade, mas nos instiga a busca-la como o ordinário da vida. Seria o maior contrassenso espiritual um homem ordenado que parasse de buscar a santidade. A ti, caro filho, Jesus diz hoje: “seja santo como o Pai é Santo”.
08.Vivemos um momento de grande confusão antropológica no mundo atual. Uns falam que estamos na modernidade, outros que somos já os pós modernos e outros ainda que já entramos na era do pós verdade e que o egoísmo já é determinante a ponto de subjugar a verdade objetiva e cada um emergir orgulhosa e jactanciosamente com sua própria verdade. Essa mentalidade levada ao seu termo seria a generalização do niilismo, da morte, de toda a humanidade, pois o “egoísmo escraviza e destrói” (CF 1973). Mas Deus nos chama e envia: “vai meu povo, estende a mão ao teu irmão” (Canto do Pe. Zezinho para a CF 1973).
09.No meio de toda essa balbúrdia somos chamados a reafirmar os valores de nossa fé. Independentemente do que pensam o do que querem que pensemos, para nós Deus é tudo e a pessoa humana é a obra prima de suas mãos, o maior tesouro neste mundo. A Igreja, esposa de Cristo, em Cristo e por Cristo, será sempre a servidora desta pessoa humana, carente em todos os tempos de Salvação. O sentido da vida e da história não pode ser encontrado fora de Nosso Senhor. A caridade, a mais elevada forma de amor, nos leva a encontrar a face de Cristo nos que sofrem, nos pobres, nos excluídos, nos dependentes, nos marginalizados, nos pais que veem seus filhos morrerem no tráfico, nos que morrem por falta de saúde e segurança pública porque seus direitos foram roubados pelos corruptos. A Igreja, Mãe e Mestra da Caridade e da Justiça, nos ajuda a caminhar com esperança em meio a estes escabrosos escombros humanos de nossos tempos de paganismo, relativismo e desprezo pela pessoa humana e apegos ao prazer e as criaturas.
10.A cegueira espiritual pela qual passa a humanidade, a viveu também Santo Agostinho quando abraçou a vida pagã na sua mais vil consequência. Quando de sua conversão, exclamou em alívio o grande santo: “Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo… E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!… Tarde te amei! (Confissões 10, 27-29).
11.Buscar a Deus e estar sempre com Ele, caro Lindemberg, é a maior graça. Tê-lo e leva-lo ao homem sofrido e vazio de hoje é a graça que lhe confere esta nobilíssima missão diaconal, como homem de Deus, com um coração sem reservas. Hoje você entra no clero desta Diocese para somar forças na evangelização e na santificação do Povo de Deus com o Bispo e os Sacerdotes. Seu processo de crescimento humano, afetivo e espiritual continuará aberto, sempre a receber e a aperfeiçoar-se.
12.O Celibato é uma das belezas de sua vida e o fará cada vez mais configurado ao Cristo casto. São Jerônimo, grade Padre da Igreja, nos recorda a este propósito que “A virgindade de Cristo e da Virgem Maria têm dedicado em si os primeiros frutos da virgindade para ambos os sexos. Os apóstolos, quer tenham sido virgens, embora casados, viveram uma vida de celibato. Aquelas pessoas que são escolhidas para ser bispos, sacerdotes e diáconos ou são virgens ou viúvas, ou, pelo menos, quando depois de terem recebido o sacerdócio, fazem votos de castidade perpétua” (Cartas 48, 21). Guarde seu celibato com grande afeição e amor, pois o mesmo lhe conferirá sempre a alegria de ter um coração indiviso: todo de Deus.
13.“Em sua condição de Diácono, de ministro de Jesus Cristo, que se manifestou como servidor dos seus discípulos, cumpra generosamente a sua vontade e, na caridade, servi com alegria tanto a Deus quanto aos seres humanos. Sendo impossível servir a dois senhores, lembra-te que toda impureza ou avareza é sujeição aos ídolos”. Ao deparar em nossos tempos, caro ordinando, com os maus exemplos de ministros ordenados apegados ao dinheiro, às ideologias, ou simplesmente enlameados no erro da desobediência e na permanente prática da ofensa a Deus com suas vidas degradadas e imundas, reze por eles e anime-se na indelével fidelidade hoje assumida para nunca em sua vida a eles se igualar. O homem ordenado, fiel a Deus e a Igreja, torna-se carregado de paz e o povo contempla isso em sua angelical face. O clérigo infiel e imundo, faz as vezes do demônio. Triste é o fim do clérigo infiel, atesta-nos os místicos que visualizaram o inferno dos mesmos. Triste o fim do clérigo que não acredita mais em Deus, nas coisas de Deus e nos novíssimos dos homens. Lamentavelmente eles existem e precisamos rezar pela conversão deles.
14.As mazelas da vida do clérigo advém da falta de fé, do egoísmo que escamoteou sua humildade, do orgulho que inchou e dilatou seu coração nos estertores do caminho largo do inferno. Como precaver desses males tão presentes em nosso tempo: refugiando na oração permanente que é a nossa mais bela resposta ao amor de Deus: a oração. O diácono, por dever de justiça, não pode faltar com a prática da oração pessoal e intercessora e da prática cotidiana da Liturgia das Horas que o torna unido a toda a Igreja, ao Santo Padre, ao seu Bispo, ao seu clero e à porção do Povo de Deus. O Santo Cura de Ars, São João Maria Vianey, nos deixou um grande legado de amor ao seu breviário que o animou e ajudou a ser santo. De hoje em diante, caro Lindemberg, o breviário te acompanhará como seu alento no serviço de louvor a Deus e na prática da caridade. A recitação constante do Breviário lhe auxiliará na santificação pessoal e na santificação do povo fiel.
15.Enfim, caro ordinando, “Enraizado e alicerçado na fé, apresenta-te de coração puro e irrepreensível diante de Deus e da humanidade, como convém a ministro de Cristo e dispensador do mistérios de Deus. Não te deixe abalar em sua confiança no Evangelho, do qual é não somente ouvinte, mas servidor. Guarda o mistério da fé com a consciência pura, mostra em vossos atos a palavra que proclama, a fim de que o povo cristão, vivificado pelo Espírito Santo, se torne uma oblação pura, agradável a Deus; desta forma, também você, no último dia, poderá ir ao encontro do Senhor e ouvir dele estas palavras: ´Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor´” (Pontifical, homilia diaconal).
16.Peço a todos que rezem pelo novo diácono da Igreja para que seja realmente fiel ao que se propõe no dia de hoje para toda sua vida. Que Nossa Senhora da Glória, nossa excelsa Padroeira Diocesana, interceda sempre por ti na missão e por todos nós. Amém!