Dois olhares...
Pode ser que minha realidade seja muito diferente da que tenho tentado construir. Se eu abrir os olhos e me doer vai ser por decisão própria, porque fui eu quem fez as plantas e também quem decidiu viver uma mentira de um mundo que nunca existiu. Ninguém me perguntou se, após a queda não queria acordar. Porque não é obrigatório fazê-lo, é decisão própria. Não culpo os que ficam deitados no chão, porque são os mesmos que deram tudo de si e procuraram um descanso sem que ninguém lhes diga que sejam fortes com a vida e com outros. A vida é um quebra cabeça com peças incompletas, pelo menos, desde pequenos nos foi dito para meter na cabeça e procurar a outra parte que com certeza está em alguém que talvez tenha o olhar triste perdida em alguma estação, como o nosso.
Não fales de quebra-cabeça que se andas armado depois que o fizeram em pedaços. Tem mais mérito fazer silêncio, desde essa dor, essa tristeza. Não fales de inferno para quem sempre foi um incêndio e fez cinzas o que abraçou com a urgência que alguém apagasse as chamas que lhe doem. Que o consomem. Não fales de dançar sob a chuva a quem o fez sob a tempestade. Compreendo que não queiras continuar, que não queira sorrir, que não queira falar nem dar explicações; o ser humano por natureza se cansa e está bem ficar, não seguir, pensar, dar voltas ao assunto de se você realmente quer chegar a onde você vai, ou Se realmente queres abraçar quem vai. Porque não a todos os lugares nem pessoas que vais te farão feliz. Eu sempre tive uma teoria: há um ponto finito onde se encontram três olhares tristes: a do perdido, a do partido e a do que perdeu tudo. E depois há o ponto infinito onde vai parar o olhar triste do perdido, quebrado e desolado. Dois olhares tristes olhavam em uma direção, mas os dois olharam diferente.