Homilia na criação da Paróquia São José dos Bandeirantes no dia 19/03/2016
Irmãos e irmãs,
Deus seja louvado por este dia.
Nossa Diocese reúne-se nesta bicentenária cidade de São José dos Bandeirantes, sob os auspiciosos favores de São José, cuja solenidade celebramos, para criar a Paróquia São José e dar posse a seu primeiro Pároco, nosso bem conhecido e amado Pe. Manuel Francisco dos Santos. Acolho com alegria nossos padres, irmãs, missionários e missionárias, visitantes. Podemos com Nossa Senhora dizer hoje: o Senhor fez maravilhas. A criação desta nova Paróquia se deve ao trabalho dos padres, religiosas, missionários que por aqui passaram e pelo povo maravilhoso desta Comunidade.
Pisamos o chão da história ao andar sobre as ruas desta Cidade, palco de grandes feitos no passado. Não dá pra calcular há quantos séculos a pessoa humana passou a habitar estas terras. Não faz muito tempo que as margens do nosso fantástico, místico e poético Rio Araguaia erra ornado pela beleza dos povos indígenas que ornavam este lugar com seus hábitos, culturas e culto. Dom Eduardo, Bispo de Goiás, por volta do ano de 1896, nas suas memórias, anotou que numa de suas passagens por São José dos Bandeirantes, ocasião que fez uma procissão com o povo e os indígenas acompanhava os ritos totalmente nus, assim carregados de inocência e pureza.
Nesta Solenidade de São José a Eucaristia nos reúne para este grande ato de ação de graças e gratidão a Deus. Como podemos entrar na graça específica deste dia? Daqui a pouco, na conclusão da Missa, a liturgia desvendará para nós o ponto culminante da nossa meditação, quando nos convidar a dizer: «Por este alimento recebido no vosso altar, Senhor, saciastes a vossa família, feliz por festejar São José; defendei-a sempre com a vossa proteção e velai pelos dons que lhe concedestes». Como vedes, meus amados irmãos e irmãs, pedimos ao Senhor para guardar sempre a Igreja sob a sua constante proteção, precisamente como José protegeu a sua família e velou sobre os primeiros anos de Jesus menino. Esse cuidado de São José para com o Menino Jesus podemos contemplar na Imagem deste grande Santo, Patriarca do Novo Testamento e da Igreja.
O Evangelho acaba de recordar a cada um de nós a pessoa de São José. O Anjo tinha-lhe dito: «Não temas receber Maria, tua esposa» (Mt 1, 20), e foi exatamente o que ele realizou: «Fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor» (Mt 1,24). Por que motivo quis São Mateus anotar esta fidelidade às palavras recebidas do mensageiro de Deus, senão para nos convidar a imitar esta fidelidade cheia de amor?
A primeira leitura que acabamos de ouvir não fala explicitamente de São José, mas ensina-nos muitas coisas a respeito dele. O profeta Natã vai dizer a David, por ordem do próprio Senhor: «Estabelecerei em teu lugar um descendente que nascerá de ti» (2 Sam 7, 12). David deve aceitar morrer sem ver a realização desta promessa, que se há de se cumprir «quando chegar ao final de seus dias» e «repousar com os seus pais». Vemos, assim, que um dos anseios mais vivos do homem, ou seja, ser testemunha da fecundidade da sua ação, nem sempre é atendido por Deus. Penso naqueles de vocês que são pais e mães de família: cultivam muito legitimamente o desejo de dar o melhor de si mesmos aos seus filhos e querem vê-los chegar a um verdadeiro sucesso. Todavia é preciso não fazer-se ilusões sobre tal sucesso: o que Deus pede a David é que tenha confiança n’Ele. David não verá com os próprios olhos o seu sucessor, aquele que terá um trono «estável para sempre» (2 Sam 7,16), porque este sucessor anunciado sob o véu da profecia é Jesus. David teve confiança em Deus. De igual modo, José tem confiança em Deus, quando ouve o Anjo, seu mensageiro, dizer-lhe: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo» (Mt 1,20). Na história, José é o homem que deu a Deus a maior prova de confiança, precisamente face a um anúncio tão assombroso. Venceu o medo, o orgulho, a desconfiança e jogou-se nos braços do amor de Deus.
E vocês, queridos pais e mães de família presentes nesta celebração, tem confiança em Deus que faz de vocês os pais e as mães dos seus filhos de adoção? Aceitam que Ele conte com vocês para transmitir aos seus filhos os valores humanos e espirituais que receberam e que hão-de fazê-los viver no amor e no respeito do seu santo Nome? Neste nosso tempo, em que tantas pessoas sem escrúpulos procuram impor o reino do dinheiro desprezando os mais indigentes, devem vocês estarem muito atentos. Nossa região, precisamente neste Município, corremos perigo se não reconhecermos o Verdadeiro autor da Vida. Vivemos fortemente um clima de violência, de suicídios, de assassinatos, de brutalidades dentro dos lares, da violência contra a mulher e da desonestidade. Também pudera, os mais altos dignitários da nossa República Brasileira estão mergulhados na lama escura e fétida da corrupção. Estamos no calabouço da vergonha. O pior é que grande parte dos corruptos de nossa terra foi batizada e assim, muitos perderão suas almas no inferno por causa da ganância do dinheiro e do roubo. Temos muito a fazer e a rezar neste Ano Santo da Misericórdia.
De que precisa o Povo Brasileiro? Precisa de Deus! De Cristo! Nossa Pátria, com a chegada do branco, iniciou aquele período à sobra da Cruz da Primeira Missa presidida no dia 22 de abril de 1500 sob a presidência de Frei Henrique de Coimbra, ato ao alcance dos olhares dos indígenas que não entendia o que ali passava, mas se deixava envolver na áurea do Mistério que a Santa Missa produz em nós. Pena que esses mesmos indígenas foram exterminados de norte a sul e de leste a oeste de nossa terra, igualmente aqui na nossa região.
Só Deus podia dar a José a força para dar crédito às palavras do Anjo. Só Deus dará a vocês, amados irmãos e irmãs que são casados, a força de educar a suas famílias como Ele o quer. Peça a Deus essa graça! Deus gosta que lhe peçamos o que Ele quer nos dar. Peçam-Lhe a graça de um amor verdadeiro e cada vez mais fiel, à imagem do seu amor. Como magnificamente diz o Salmo, o seu «amor está edificado para todo o sempre e a sua fidelidade alicerçada nos céus» (Sal 88,3).
No mundo e, particularmente na nossa Cidade de São José dos Bandeirantes, a família conhece efetivamente um período difícil que a sua fidelidade a Deus ajudará a superar. Alguns valores da vida tradicional foram perturbados. As relações entre as gerações alteraram-se de tal maneira que já não favorecem como antes a transmissão dos conhecimentos antigos e da sabedoria herdade dos antepassados. Muitas vezes, assiste-se a um êxodo rural comparável ao que viveram numerosos períodos humanos. A qualidade dos vínculos familiares resulta profundamente afetada. Desenraizados e fragilizados, os membros das jovens gerações, não poucas vezes mergulham nas drogas e na venda do corpo através da prática da prostituição, sobretudo nos períodos das chamadas temporadas. Outros que conseguem ingressar nas faculdades ou universidades, perdem a fé e os princípios recebidos na família devido o contato com os ateus e descrentes.
Trata-se, esta realidade miserável que vivemos, uma fatalidade para nossos jovens? Certamente não! Mais do que nunca, devemos «esperar contra toda a esperança» (Rm 4, 18). As famílias e, particularmente os jovens, devem encontrarem na Palavra de Deus e nos Sacramentos da Igreja um renovado vigor para levar a bom termo todos os seus projetos ao serviço de um desenvolvimento integral da pessoa humana aqui ou em qualquer lugar para onde for.
A primeira prioridade consistirá em dar novamente sentido ao acolhimento da vida como dom de Deus. Segundo a Sagrada Escritura tal como na melhor sabedoria do vosso continente, a chegada de uma criança é uma graça, uma bênção de Deus. Hoje, a humanidade é convidada a mudar o seu olhar: com efeito, todo o ser humano, mesmo o mais humilde e pobre, é criado «à imagem e semelhança de Deus» (Gn 1, 27). Deve viver! A morte não deve prevalecer sobre a vida! A morte não terá jamais a última palavra!
Filhos e filhas aqui presentes, não tenhaam medo de crer, esperar e amar, não tenham medo de dizer que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, e que só por Ele podemos ser salvos. São Paulo é o autor inspirado que o Espírito Santo concedeu à Igreja para ser o «mestre dos gentios» (1 Tm 2, 7), quando nos diz que Abraão, «esperando contra toda a esperança, acreditou que havia de ser pai de muitas nações, conforme tinha sido anunciado: “Assim será a tua descendência”» (Rm 4, 18).
«Esperando contra toda a esperança»: não é uma magnífica definição do cristão? A Comunidade desta nova Paróquia, é chamada à esperança através de cada um de seus membros. Com Cristo Jesus, que calcou o solo deste lugar através de sacerdotes missionários como Frei Sigismundo de Taggia, Dom Eduardo, Dom Prudêncio, Dom Cândido Pencio, Dom Juvenal Roriz, Dom José Carlos e tantos padres e religiosos e religiosas e ultimamente os padres da Comunidade Obra de Maria, a saber: Pe. Josenilson, Pe. José Barbosa e o Pe. Manuel Francisco que nos últimos cinco anos foi preparando esta Comunidade para se tornar na presente data a mais nova Paróquia da Diocese de Rubiataba e Mozarlândia.
Cada um e cada uma de vocês é pensado, querido e amado por Deus. Cada um e cada uma de nós tem a sua função a desempenhar no plano de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Se o desânimo invadir a vida de vocês, pensem na fé de José; se a inquietação se apoderar de vocês, pensem na esperança de José, descendente de Abraão que esperava contra toda a esperança; se a aversão ou o ódio penetrar vocês, pensai no amor de José, que foi o primeiro homem a descobrir o rosto humano de Deus na pessoa do menino concebido pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria. Bendigamos a Cristo por Se ter feito tão solidário conosco e dêmos-Lhe graças por nos ter dado José como exemplo e modelo do amor para com Ele.
Amados irmãos e irmãs, de todo o coração vos repito: como José, não tenham medo de tomar Maria com vocês, isto é, não temam em amar a Igreja, a sua Paróquia. Maria, mãe da Igreja, ensina a todos nós a seguir os seus Pastores, a amar o bispo de hoje e os que virão futuramente, bem como os seus presbíteros, os seus diáconos e os seus catequistas, e a seguir aquilo que lhes ensinarem e a rezar pelas suas intenções. Os que são casados, olhem e contemplem o amor de José por Maria e por Jesus; os que se preparam para o casamento, respeitem a sua ou o seu futuro cônjuge como fez José; vocês que se consagraram a Deus no celibato, refleti sobre a doutrina da Igreja nossa Mãe: «A virgindade e o celibato por amor do Reino de Deus não só não se contrapõem à dignidade do matrimônio, mas pressupõem-na e confirmam-na. O matrimônio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu povo» (Redemptoris custos, 20).
Queria ainda dirigir uma exortação particular aos pais de família, uma vez que São José é o seu modelo. Este santo revela o mistério da paternidade de Deus sobre Cristo e sobre cada um de nós. São José pode ensinar-lhes o segredo da sua própria paternidade, ele que velou pelo Filho do Homem. Também cada pai recebe de Deus os seus filhos, criados à semelhança e imagem d’Ele. São José foi o esposo de Maria. Também cada pai de família se vê confiar-lhe o mistério da mulher através da própria esposa. Como São José, queridos pais de família, respeitai e amai a sua esposa, e guiai os seus filhos, com amor e a sua vigilante presença, para Deus onde eles devem estar (cf. Lc 2, 49).
Finalmente, a todos os jovens aqui presentes, filhos desta nova Paróquia, dirijo uma palavra amiga e encorajadora: diante das dificuldades da vida, não percam a coragem! A existência de vocês tem um valor infinito aos olhos de Deus. Permitam serem agarrados por Cristo, aceitai que ele lhes de o amor e – porque não! – que ele chame alguns de vocês a serem padres, religiosas ou missionários. É o serviço mais alto. Às crianças que já não têm um pai ou que vivem abandonadas na miséria da estrada, àquelas que foram violentamente separadas dos seus pais, maltratadas e abusadas, e até mesmo abandonadas, quero dizer: Deus ama vocês, não a esquece a nenhum de vocês e São José protegerá vocês sempre. Invocai-o com confiança.
Enfim, consagrado a Virgem Maria, a Santíssima Virgem das Dores, a missão desta nova Paróquia e a vida de seu primeiro Pároco. Que aqui seja um lugar a preparar as pessoas para a vida honesta, santa e orante a fim de que um dia estejamos todos juntos com Deus no céu, ao lado de São José, de Maria e de todos os Santos e Santas. Amém!