INSENSÍVEIS E INSENSATOS - Não maltrate quem se importa contigo
Já parou para prestar atenção quantas atitudes “inteligentes” cometemos com pessoas que realmente se importam conosco ou estão ao nosso lado sem se dar conta? Às vezes fazemos isso de modo despercebido e outras vezes de modo intencional, por que o humor negro nos ensinou a sentir prazer na dor do outro.
As vezes quando estamos comemorando algo saímos do limite e passamos da comemoração a humilhação intencional do “perdedor”. As vezes querendo ser engraçado e popular ofendemos outros com piadas sem graça, e fica pior quando percebemos que o outro se ofendeu e ainda continuamos. Outras vezes ao ouvir que um conhecido foi traído por seu cônjuge, ou sofreu algum tipo de dano material ou moral, fazemos comentários maldosos inclusive na frente do mesmo ou comemoramos quando este dar as costas. Repetimos isso várias vezes e só paramos quando o outro não se importa mais.
Outras vezes quando percebemos que uma pessoa é calma, tranqüilo pacifica e não mexe com ninguém, enxemos o saco dessa pessoa até o ponto de a tal perder a paciência e explodir, para depois sairmos chamando a tal pessoa de briguento disfarçado, gente ruim e “santinho do pau oco”.
Por que levantar o tom de voz par uma pessoa qualquer para acusar ou agredir verbalmente, seja ela sua subordinada sua ou não, sem deixar que antes a pessoa se explique? Por quer enfiar dedo na cara de outro para julgar quem mal você conhece e ainda iniciar sua fala com voz rude com a desgastada frase me disseram que...? Cada coisa louca que as pessoas fazem! Depois que o mundo não presta e que o diabo ta solto! Por que insistir com uma conversa maldosa a respeito de alguém, simplesmente por que um conhecido seu já teve problemas com aquela pessoa, não é capaz de assumir os fatos e ainda quer dar uma de santinho impondo a culpa ao outro e manipulando você a ficar do lado dele? Se você não ouviu os dois lados da conversa não é sábio o bastante tomar partido. Afinal, tomar partido pra que? Em que ocasião você foi convidado a ser juízes da vida alheia? Quem nos outorgou o direito de condenar ou absolver alguém por simples intuição ou “revelação” religiosa? As pessoas acreditam no que querem acreditar. Ouvir uma historia não significa saber a verdade. Aliás, que verdade você busca? A verdade que será capaz de trazer harmonia para ambas a parte, ou a verdade para inocentar um e incriminar outro? A verdade que faz com quem você não gosta seja o vilão e o que você gosta seja o mocinho? Há vários tipos de verdade. A verdade do perdedor é uma, a do vencedor é outra, a do observador é outra...Mas a realidade é outra coisa bem diferente.
Outra coisa: se gostamos tanto de saber da vida dos outros ou das “verdades” dos outros, em que isso nos faz crescer? Que beneficio isso nos traz? Para que serve essa verdade? Que utilidade terá na vida do que busca? Será a verdade que alimenta o pobre fofoqueiro, queal único meio de “atrair amigos” é falando da vida alheia? Ou seria a verdade daquele que busca conciliação entre as partes ofendidas, reduzindo os pontos ruins e maximizando os pontos bons de ambas as partes que buscam conciliação? Bom observar. Quem busca a verdade de um fato para o bem, funciona como um estabilizador de voltagem, reduzindo ou aumentando tensão da corrente quando necessária. O que busca a verdade de algo apenas para fins infernais, reproduz apenas os comentários negativos das partes envolvidas para ver o circulo pegar fogo. Se a verdade que você busca na vida dos outros ou nos comentários de fofoca, não te deixará mais rico, mais culto, mais sábio ou mais saudável no corpo e na alma, aconselho-te a abandonar essa busca pela verdade. Quem procura acha. As vezes achamos o que não procuramos, por que procuramos onde não deveria. Não se acha seres de luz em regiões de trevas.
Outro fato que muito buscador de verdade não percebe, é que o mentiroso fala demais, conta seus problemas aos quatro ventos, para que todos fiquem do seu lado e faça ela mesma acreditar numa mentira criada por esta mesma. Diferente do que é vitima da mentira, este costuma ser mais cauteloso diante de um “buscador de verdade”, pois sabe que este pode ser uma faca de dois gumes, nesse caso, falar apenas o básico para não aumentar mais o problema.
Nosso ego nos engana tanto, que até quando queremos ajudar, podemos estar atrapalhando, pois no oculto de nosso ser, naquele instante, ao querer “ajudar” podemos apenas estar alimentando nosso ego com uma idéia errada de que naquele momento somos superiores, pois não estamos vivendo ou tendo um problema do ser ajudado. O velho desejo de domínio do outro que todos temos engavetado dentro de nós. Quando expomos nossas vidas a quem quer que seja, de imediato, o que houve e tem a mente fraca, se acha superior, com o poder de decisão entre ambas as partes. Acontece assim nos tribunais: você vivia bem com seu vizinho, de repente brigam, não se entendem e agora é o juiz quem decide a vida dos dois. Poderia ser diferente. Quem não se controla, sempre será controlado.
Fico pensando: por que alguém não vai “zoar” com um traficante de drogas ou de armas? Por que não tira sarro da cara de um juiz? Por que não faz piada sem graça com líderes de gangue gente da pesada? Por que não vai mexer com que te faz mal, ao invés de mexer com quem te faz bem ou pelo menos não te fez nada? Eu ainda não vi gente desocupada se juntar para fazer bullyng com um valentão ou uma pessoa de pavio curto. Mas vemos sempre pessoas se juntar para trazer desarmonia interior para quem não lhe causou mal algum ou é conhecido por ter uma “paciência de Jó”. Mas paciência é como cartão de crédito: se usar o limite todo, vai ter sua compra negada alem de ficar no vermelho se não pagar no prazo estipulado.
Por que as pessoas sentem mais prazer na ofensa alheia que na busca da harmonia entre as pessoas? Seria inveja? Não pensam no que estão fazendo? Desejo de possuir o outro por meio da perda da auto-estima? O que será? Pra construir, poucos. Pra destruir, vários. Bicho estranho são as pessoas.
Considerando que cada criatura reage de modo diferente quando acuado, alguns usam o bullying como escada, para subir e sair da situação pela qual foi humilhado. Outros usam como escada, para descer ainda mais, e se sentirem culpadas ou magoadas pelo que lhe fizeram acabando até em suicídio até. Em ultimo caso, alguns, guardam tudo aquilo, sem demonstrar reação, para num futuro próximo ou distante dar o troco em cada um dos que sem causa lhe trouxe sofrimento. Há milhares de casos assim espalhados em todo globo, de pessoas que foram humilhadas quando crianças na escola, e vieram revidar depois de uns 30 anos eliminando os que faziam de sua vida um inferno. Para cada ação uma reação. Para cada força aplicada em um objeto, recebemos de igual modo o mesmo impulso. Para cada choque entre objetos, há um nível de ressonância diferente. Com as pessoas não são diferente. Para o bem o para o mau o modo como tratamos os outros pode fazer com que nosso caminho seja de dores ou de flores. Não há Deus ou o diabo nesse contexto. Não há sagrado ou profano. Apenas nós e o outro. O ofendido e o ofensor. Só isso. Ambos ficam presos um ao outro até que haja vingança ou perdão.
Boa parte dos crimes de violência repentina ou programada, vem sempre por abusar da paciência alheia. Em países menos cristãos, em que as pessoas sabem que nos tribunais não tem uma divindade para atribuir seus erros, as pessoas são mais cautelosas. Enquanto houver um diabo, pessoas religiosas ao extremo terão sempre um álibi no que diz respeito a não respeitar o limite do outro.
Fico pensando, se nosso cristianismo doente fosse diferente como seria. Se ensinassem as pessoas os valores ensinados por Cristo ao invés de ensinarem costumes imbecis e doutrinas idiotas como se fossem valores cristãos, se nossa sociedade seria diferente.
Como agem os líderes religiosos que dizem representar a bíblia e o Deus cristão atualmente? Quando não estão vendendo água ungida ou chave da vitoria estão ensinando o povo falar línguas estranhas nos templos. Quando não estão proibindo as pessoas de comer isso ou aquilo ou incentivando-as a guardar dias santos, estão ensinando as pessoas a adorar ídolos vivos ou de pedra. Quando não estão ameaçando você por não ir a igreja, estão forçando a entrada deles em seu lar pela mídia moderna, para vender suas literaturas, mostrar seus milagres ou convencer você a fazer doações enormes para a “obra de deus” não morrer. Quando não te prendem num curral para ordenhar seu bolso ou sua vontade própria, eles viajam até você por ondas de radio ou sinal a cabo para te fazer sentir culpado quando eles não atingem meta de arrecadação financeira deles. Ensinar princípios realmente cristãos que é bom nada! Falar dos verdadeiros valores que levou o cristianismo inicial a ascensão, pior!. Mostrar que mais importante do que se afiliar a uma igreja é viver a pratica cristã cotidianamente nem se fala....Bom, como ninguém dar o que não tem, só nos resta ter “pena” dessas pessoas que compram gato por lebre. Afinal, 1600 anos de costumes de um grupo, não se muda do dia pra uma noite, ainda mais quando se tem o costume de perseguir, queimar na fogueira ou excomungar todos que procuram mostrar como realmente as coisas deveriam ser. Nada motivador, não é? Fale a verdade e morra. Grande promoção do dia! Melhor ficar quietinho e obedecer. Morrer por dentro eu diria. Poupa o vexame. Ninguém vê, principalmente quando todos estão mortos.
Quando não estão inculcando nos fiéis a teologia do sofrimento, estão inserindo a teologia da prosperidade. Quando não estão divinizando o banal, estão banalizando o divino. Quando não estão incentivando você a negar sua própria existência, negar sua vontade, mortificar seu corpo, e se culpar por tudo, estão no outro extremo, dando vazão a tudo, pisando na cabeça do diabo, dando um bicudo na cara do cão, se auto declarando cidadãos do céus, filhinhos do papai , etc.. Quando não estão chorando em frente a cruz tendo pena de um cristo morto, estão diante da manjedoura se alegrando com o “deus menino”. Quando não estão colocando Deus na parede e dizendo que ele tem obrigação de dar tudo por que você é um dizimista fiel, estão com a cara no chão se auto flagelando, se condenado, se declarando pecador, inútil, imprestável e outras melecas como se isso fosse sinal de humildade... Sempre saindo de um extremo a outro num passe de mágica. Nunca buscam o equilíbrio. Não conhecem o caminho do meio. Ou Deus estar alto demais ou estar baixo demais. Nunca ao nosso alcance. As vezes num mesmo rito de culto é possível ver todas estas manifestações extremistas que citei numa mesma ocasião. Coisa muito confusa de se ver, mas confusa ainda de se viver. Impossível de se concertar, afinal em dogmas não se mexe, pois mais vale um dogma que para nada serve, do que um ensino transformador que muda o mundo. Aliás é o dogma quem sustenta a liturgia, e faz com que tudo seja “mágico” apenas naquele momento, fazendo com que as pessoas sejam cristãs apenas durante duas horas por dia, por semana, ou por mês, apenas quando estão sentadas no banco de uma igreja. Fácil, inútil e perigoso esse modelo de cristianismo, que serve apenas como símbolo de status.
Se por um lado somos responsáveis por nos acostumar a receber das lideranças tudo pronto como se fosse verdadeiro, por outro lado também somos responsáveis por não combater a preguiça em buscar a verdade por iniciativa própria e a inércia quando estamos em pleno conforto.
Ir a igreja todo dia não faz de ninguém um bom cristão. Respeitar o limite do outro muda tudo. Controlar a inveja, a ira, a ganância e a soberba faz de você um gigante.
Não precisamos de toda verdade para crescer, só precisamos saber pra que nos vai ser útil a verdade que buscamos. O humor negro terá sempre reflexos nefastos. Não há Deus ou diabo que possa evitar, quando deliberadamente fazemos do outro nosso assunto de comédia.
Escrito em 4/10/16
POR ANTONIO FERREIRA BISPO